Por Marcus
Eduardo de Oliveira
Por muitos anos, nos fizeram acreditar que a
melhoria das condições de vida de cada um de nós repousaria serenamente na
expectativa de crescimento das economias mundiais modernas. Com isso
enveredou-se na crença comum de que bastava fazer a economia local crescer
para, mediante mais produtos disponíveis a partir da expansão física da economia,
o acesso a isso seria logo facilitado; afinal, consumindo cada vez mais e em
grandes quantidades, a felicidade se aproximaria. Esse foi (e continua sendo) o
recado avalizado pelo mercado.
Para tanto, os "tomadores” de decisões
econômicas trataram rapidamente de ativar a "máquina econômica” de
produzir todo e qualquer tipo de produto (bens). A consequência? Todas as
economias passaram a "funcionar” sob o paradigma do crescimento e, sob
essa conduta pretendeu-se atenuar todos os males sociais do planeta.
O recado dado pelo mercado foi assim muito bem
entendido e as forças produtivas, rapidamente, trataram de incutir na
consciência humana a "necessidade” do consumo. Disparou-se a produção de
mercadorias, incluindo, claro, as mais inúteis futilidades mercadológicas. Por
isso o PIB mundial saltou de US$ 5 trilhões (em 1950) para US$ 50 trilhões (em
2000). Fazendo um rápido recorte dentro desse mesmo período, é oportuno
destacar que de 1980 a 2007, portanto, em menos de três décadas, o PIB global
aumentou em 120% e a população mundial aumentou em 50%. O que resultou? Aumento
exagerado de mais de 60% na extração global de recursos da natureza – produzir
significa ativar o metabolismo social, ou seja, sugar o fluxo de materiais e
energia contidos no sistema ecológico.
Com isso, o homem moderno, ao atender os desejos do
mercado - via consumo excessivo -, conseguiu realizar sua grande proeza: desde
então está ameaçando à sua própria existência, além da existência das gerações
futuras.
Fato inequívoco é que o consumo disparou. De acordo
com o Worldwatch Institute (Relatório "O Estado do Mundo”), em 2008 foram
vendidos no mundo 68 milhões de veículos, 85 milhões de refrigeradores, 297
milhões de computadores e 1,2 bilhão de telefones celulares.
De acordo com estudos divulgados pela United
Nations Development Programme os cinco países mais ricos, pelo tradicional
indicador PIB (EUA, China, Japão, Alemanha e França) consomem 45% das proteínas
disponíveis, 58% da energia, 84% do papel, 14% das linhas telefônicas. Os gastos
com cosméticos somente nos EUA chegam à importância de US$ 8 bilhões ao ano. A
Europa gasta com cigarros, também ao ano, mais de US$ 50 bilhões e mais US$ 105
bilhões são dispendidos em consumo de bebidas alcoólicas.
Por conta desse consumismo compulsivo frenético
hoje a natureza nos adverte que essa estratégia, além de danosa, foi
insuficiente, pois não levou melhoria (muito menos a felicidade) como prometido
a todos. Ao contrário: apenas uma pequena parcela da população foi atendida -
20% da população mundial residente na parte rica do planeta abocanham quase 80%
de toda a produção material do mundo econômico.
Os defensores desse modelo tacanho de conduzir a
economia (mais produção para mais consumo resultando em menos meio ambiente)
tentaram nos ensinar que a felicidade se conquista a partir das aquisições
materiais, mas, contudo, não nos avisaram que o processo de produção econômica
vem necessariamente acompanhado da geração de resíduo e poluição. Por conta da
poluição, 1,5 milhão de vidas são ceifadas todos os anos ao redor do mundo.
Mas, parece que aos defensores desse modelo isso
pouco importa. Para ilustrar a importância do consumo exagerado, pouco se
importando com a poluição resultante, o mercado – esse lugar sagrado para o
culto ao consumo - tratou de espalhar propaganda das mais diversas a fim de que
se "idolatrasse” algumas mercadorias específicas. O carro, em especial,
passou a ser um desses objetos de consumo almejado (na verdade, idolatrado).
Adquiri-lo tornou-se prova inconteste de "melhoria
do status de vida”. No Brasil, há hoje um automóvel para cada cinco pessoas. A
previsão é que em 2050 haja 50 milhões de veículos nas ruas brasileiras.
Só "esqueceram” de nos contar que para fazer o
carro se locomover é preciso queimar petróleo, e isso ocasiona concentração de
dióxido de carbono na atmosfera que, lamentavelmente, contribui para aquecer o
planeta (efeito estufa) e romper com a camada de ozônio. A cidade de São Paulo
é um triste exemplo disso: 90% dos poluentes gasosos resultam da queima de
combustíveis fósseis nos veículos automotivos (97% das emissões de CO –monóxido
de carbono– e 96% de NO2 – dióxido de nitrogênio).
Essa poluição do ar provoca quase quatro mil mortes
prematuras ao ano, além de diminuir a expectativa de vida dos habitantes em 18
meses devido a três situações: câncer do pulmão e vias aéreas superiores;
infarto agudo do miocárdio e arritmias; e bronquite crônica e asma. Respirar
esse ar na cidade de São Paulo é equivalente a fumar quatro cigarros
diariamente em decorrência das partículas em suspensão no ar. Por tudo isso,
hoje, diante de excessiva carga "sobre” a natureza, essa vem nos dar o
seguinte recado: é preciso construir uma sociedade libertada do mito do
crescimento, caso contrário, corre-se o risco de não sobrar ninguém sobre a
face da Terra para continuar contando a história.
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