quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Investe-se o possível em educação e não o necessário, afirmam movimentos

A principal disputa no campo da educação, atualmente, é o investimento de 10% doProduto Interno Bruto (PIB) no setor. De acordo com o texto do novo Plano Nacional de Educação (PNE), aprovado pela Comissão Especial da Câmara dos Deputados em junho, os recursos passarão dos atuais 5% para 7%, em cinco anos, até atingir os 10% em 2023.

A luta pela destinação de 10% do PIB para a área, contudo,  tem sido travada há anos. Desde as discussões do primeiro PNE, iniciadas em 1996, a bandeira é defendida pelos  movimentos sociais da educação. Apesar do debate sobre o investimento ter ganhado força na tramitação do novo PNE,  a forma como ele está sendo proposto pelo governo recebe  várias críticas. "A gente reivindica os 10% do PIB para a  educação pública já e o governo está dizendo que vai dar  10% para daqui a dez anos, sem restringir o recurso à  educação pública", afirma Clara Saraiva, da Comissão  Executiva da Assembleia Nacional dos Estudantes – Livre  (Anel). Segundo ela, considerando o ritmo de crescimento da demanda por educação, ao final do tempo estipulado pelo governo, o investimento não será suficiente.

Ao final do governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), em 2002, o investimento em educação era equivalente a 4,1% do PIB. Em 2011, União, estados e municípios aplicaram, juntos, em torno de 5,3% do PIB.

Daniel Cara, coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, avalia que o problema do financiamento da educação é a visão de que se deve "investir aquilo que é possível, sendo que o correto era investir aquilo que é necessário para a educação, pelo menos, ter um padrão mínimo de qualidade". Ele cita como exemplo a resistência do governo federal frente à proposta dos 10% do PIB para o setor. Para Cara, ela só aceita por conta da pressão dos movimentos sociais e da sociedade civil. As reações do governo partiram dos ministros Guido Mantega (Fazenda), Ideli Salvati (Relações Institucionais) e Aloizio Mercadante (Educação). Mantega afirmou que a medida poderia "quebrar o Estado brasileiro". Salvati disse não acreditar na possibilidade do aumento de investimento para 10% do PIB em 10 anos. Já para o ministro da Educação, esta seria uma "tarefa política difícil de ser executada". "Por conta do clima que se criou quando eles fizeram essas declarações infelizes, acabaram tendo que absorver a proposta dos 10% do PIB", avalia Cara.

Royalties

O governo, agora, determina a utilização dos recursos do petróleo para o investimento em educação previsto no texto do PNE, que aguarda votação no Senado. Através da Medida Provisória 592/2012, publicada no dia 3 de dezembro, a presidenta Dilma Rousseff vinculou à educação todas as receitas com royalties do petróleo dos novos contratos da área de concessão, firmados após a publicação da MP, e 50% dos rendimentos do Fundo Social do Pré-Sal. De acordo com Mercadante, os recursos vindos do petróleo são uma alternativa para cumprir a meta prevista pelo PNE. Segundo o ministro, seria necessário um acréscimo de R$ 200 bilhões no orçamento atual para chegar ao equivalente aos 10% do PIB. "Não há como alcançar as metas do PNE se não houver uma receita nova", defendeu em audiência na Comissão de Educação da Câmara dos Deputados, em novembro.

No entanto, Cara afirma que a medida não será suficiente para garantir a elevação do investimento em educação. "Pode dar um salto decisivo rumo ao alcance dos 10% do PIB, mas não é necessariamente o único caminho suficiente para alcançar esse patamar de investimento", explica. [...]


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