quinta-feira, 14 de maio de 2015

Conversando com versos (135): "Confissão", de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)



"Confissão"

Não amei bastante meu semelhante,
não catei o verme nem curei a sarna.
Só proferi algumas palavras,
melodiosas, tarde , ao voltar da festa.

Dei sem dar e beijei sem beijo.
(Cego é talvez quem esconde os olhos
embaixo do catre.) E na meia-luz
tesouros fanam-se, os mais excelentes.

Do que restou, como compor um homem
e tudo o que ele implica de suave,
de concordâncias vegetais, múrmurios
de riso, entrega, amor e piedade?

Não amei bastante sequer a mim mesmo,
contudo próximo. Não amei ninguém.
Salvo aquele pássaro - vinha azul e doido -
que se esfacelou na asa do avião.

Fonte: Andrade, Carlos Drummond de .Poesia e prosa. 5ª ed. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1979, p.264


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