quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Conversando com versos(106): "Adormecida", de Castro Alves (1847-1871)



"Adormecida"


Uma noite, eu me lembro... Ela dormia
Numa rede encostada molemente...
Quase aberto o roupão... solto o cabelo
E o pé descalço do tapete rente.


'Stava aberta a janela. Um cheiro agreste
Exalavam as silvas da campina...
E ao longe, num pedaço do horizonte,
Via-se a noite plácida e divina.


De um jasmineiro os galhos encurvados,
Indiscretos entravam pela sala,
E de leve oscilando ao tom das auras,
Iam na face trêmulos — beijá-la.


Era um quadro celeste!... A cada afago
Mesmo em sonhos a moça estremecia...
Quando ela serenava... a flor beijava-a...
Quando ela ia beijar-lhe... a flor fugia...


Dir-se-ia que naquele doce instante

Brincavam duas cândidas crianças...
A brisa, que agitava as folhas verdes,
Fazia-lhe ondear as negras tranças!


E o ramo ora chegava ora afastava-se...
Mas quando a via despeitada a meio,
P'ra não zangá-la... sacudia alegre
Uma chuva de pétalas no seio...


Eu, fitando esta cena, repetia
Naquela noite lânguida e sentida:
"Ó flor!  tu és a virgem das campinas!
"Virgem!  tu és a flor de minha vida!..."


Fonte: Alves, Castro. Poesias Completas. Coleção Clássicos Brasileiros. Rio de Janeiro: Livraria Ediouro, s/d, pp.74/75



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