Por Valéria Cimatti Pavani*
Psique, alma e mente são simplesmente sinônimos e
não ideias diferentes. Corpo, matéria, soma, cromossoma também são sinônimos e
não componentes diferentes de uma mesma coisa. Psicossomático nada mais é do
que a união entre esses elementos. Quando nasce um corpo, nasce um ser e esse
ser se expressa através dessa relação natural corpo e mente. Por isso, não é
possível separá-los. Podemos tentar separá-los apenas para entendê-los, porém,
se os separarmos de fato, seria equivalente a separar um projeto de sua
realização. Projeto no papel é apenas uma ideia, não tem vida concreta. Corpo
sem alma é um projeto no papel, não tem vida.
Quando experimentamos uma sensação como medo, frio,
tristeza ou fome, não conseguimos sentir nenhuma dessas "experiências”, ou
qualquer outra, só no corpo ou só na mente. Muitas vezes percebemos que estamos
com fome não pela sensação física, mas porque nos sentimos irritados. Às vezes
percebemos que estamos com medo porque sentimos uma forte dor de barriga.
Simples assim.
Mas o fato é que, na maior parte das vezes não
percebemos essa relação. Portanto, não cuidamos dela adequadamente.
Como diz Platão em seu livro Timeo: "Quando a
alma é forte demais para o corpo e se vê agitada por paixões violentas, abala-o
inteirinho por dentro e o enche de doenças, ou o arruína de todo. Ocorre o
inverso sempre que o corpo é grande e superior à alma dotada de pequena e débil
inteligência. Para obviar a esses dois perigos, só há um recurso: não acionar a
alma sem o corpo, nem o corpo sem a alma, para que, defendendo-se um do outro,
consigam equilibrar-se e conservar a saúde.”.
O médico e psicanalista argentino Luiz Chiozza,
numa conferência em São Paulo, utilizou um exemplo excelente para descrever a
psicossomática, "o raio e o trovão são manifestações de um mesmo fenômeno,
percebidas em momentos diferentes”. Ele segue: "no encontro de duas nuvens
carregadas de eletricidade ocorre uma explosão que emite simultaneamente uma
luz e um som”. A luz chega a nós antes do som, por quê? Simplesmente "por
que nesse caso ela é mais rápida do que o som, mas aconteceram
simultaneamente”, defendeu ele. Isso é a psicossomática, não conseguimos
separar a relação corpo e mente, mas percebê-las de formas diferentes e em
momentos distintos.
Por que algumas pessoas conseguem se curar de
doenças graves e outras não? Simplesmente porque algumas conseguem restabelecer
o equilíbrio da relação corpo e mente. Para isso, é necessário um trabalho
adequado, interessado, entre paciente e o profissional que o ajuda. A cura não
é mágica, é um trabalho, mas quando a vivemos, experimentamos como um milagre.
Vejo constantemente no meu consultório pessoas com
diagnósticos médicos estranhos, exagerados e às vezes até errôneos. A
psicossomática é mais antiga do que Freud, mas foi ele que corajosamente
anunciou essa relação. Desde então, faz com que nós, profissionais da área de
saúde que reconhecemos essa relação, tentemos entender e buscar caminhos, para
ajudar a nós mesmos a curar nossas doenças, assim como preveni-las.
Com o avanço da medicina, infelizmente os caminhos
para os tratamentos das doenças tenderam para cuidar de partes do corpo
apartadas de todo o resto, como se essas partes não se relacionassem entre si.
A psicologia, por sua vez, nasce associada à psiquiatria e como todo bebê, vem
crescendo e tendo personalidade própria.
Por fim, atualmente contamos com a neurociência que
nos ajuda a esclarecer assuntos que antes pareciam impossíveis de entendimento,
temas que ficavam à mercê de crenças e não de explicações.
Nesse sentido, Freud cientifica o inconsciente para
nós. Mas, por muito tempo precisamos acionar a nossa fé para acreditar nele e
hoje, a neurociência não deixa dúvidas sobre a sua existência. Somos mais
inconscientes do que conscientes das nossas ações. Porém, ao menos atualmente
sabemos que temos inconsciente.
Os mistérios sobre a vida ainda são muitos, mas já
podemos contar com informações que nos permitem cuidar bem melhor de nós mesmos
se estivermos dispostos.
* [Valéria
Cimatti Pavani é psicóloga Clínica e autora do livro "TIMO: uma nova
direção”]
Desenvolveu a
terapêutica do "Timo”, no qual faz uma abordagem do ser humano, através da
busca simultânea do equilíbrio físico e psíquico.
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