sexta-feira, 4 de abril de 2014

50 anos do golpe, início de uma tragédia brasileira

Que essas lições nos ajudem a evitar erros do passado. E que a classe trabalhadora se conscientize, se organize melhor na construção de processos que levem a uma sociedade mais justa, verdadeiramente democrática e igualitária 

Editorial da edição 578 do Brasil de Fato

A década de 1960 foi marcada na historia do Brasil por uma crise econômica e política. A economia brasileira patinava no seu falso modelo de industrialização dependente do capital estrangeiro. Crescia a inflação e o desemprego. Mas por outro lado, havia um governo popular do presidente João Goulart e a classe trabalhadora vinha de um longo período de reascenso do movimento de massas desde a segunda guerra mundial. 

Essas circunstâncias levaram a que as forças populares e o governo Goulart apresentassem à nação uma saída para a crise: as reformas de base. As reformas propostas significavam adotar um novo modelo de desenvolvimento fundado na indústria nacional, na distribuição de renda e a melhoria das condições de vida da população brasileira. 

Para isso, seria necessário controlar o capital financeiro através de uma reforma bancária. Repotencializar a indústria brasileira, com uma reforma industrial que reorganizasse a indústria para o mercado interno e para as necessidades do povo. 

Uma reforma educacional para eliminar o analfabetismo e colocar todos os jovens nas escolas, em todos os níveis. E uma reforma agrária que garantisse terra e desenvolvimento no meio rural, gerando produção, emprego e renda ao meio rural. A proposta de reforma agrária de Goulart foi a mais ousada até hoje, quando propôs desapropriar todas as fazendas acima de 500 hectares, localizadas 10 km de cada lado das rodovias, ferrovias e margens de lagos e açudes. 

Essas propostas uniam as forças populares que estavam nas ligas camponesas, sindicatos, quartéis, campos e construção (como diz a música de Geraldo Vandré) com um governo popular que tomava iniciativa das mudanças. 

Porém, as forças do capital se articularam com o império estadunidense – como bem demonstra o imperdível filme de Flávio Tavares O Dia que Durou 21 Anos – ou o livro deRené Armand Dreifuss (1964: a conquista do Estado. Ação Política, Poder e Golpe de Classe, Vozes, Petrópolis, Rio de Janeiro, 1981 – e organizaram um golpe de Estado. 

Sempre que a burguesia, em todo o mundo, se sente ameaçada nos seus privilégios, joga na lata de lixo as leis, a Constituição, a democracia, sua própria ordem burguesa e apela para as armas, para a força bruta, para recompor seu controle sobre o Estado e sua vontade política de classe. E assim foi aqui no Brasil. Dia 1 de abril de 1964, dia da mentira, se perpetuou um golpe militar e se implantou uma ditadura empresarial-militar que durou 21 anos! 

Na economia, a burguesia imperialista dos Estados Unidos socorreu o Brasil trazendo seus dólares. Injetaram bilhões como investimento externo, que produziram um “milagre brasileiro” de retomada do crescimento da economia, baseado em grandes obras e deixando como saldo a maior dívida externa de todos os tempos, que iria estourar anos mais tarde, na década de 1980. 

E assim a economia se transformou ainda mais dependente do capital estadunidense e das empresas transnacionais em geral. Para impor sua ordem, nos primeiros tempos a repressão se abateu contra todas as formas de organização da classe trabalhadora: ligas camponesas, sindicatos, central sindical e setores progressistas das igrejas. E se voltou contra todos os militares progressistas que apoiavam o governo Goulart e as reformas de base. 

Depois, a partir de 1968, a repressão se aprofundou com a criação dos Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), financiado por empresas. A partir daí, se cometeu todo tipo de crime – torturas, assassinatos, ocultação de cadáveres etc. –, que atingiram a juventude, o movimento estudantil e as formas de resistência armadas que as organizações políticas haviam adotado. 

A repressão se amplia com o cerco à guerrilha do Araguaia (1973- 75) e nova onda de pressão nas cidades. Mas foi também o início de sua queda. Pois a partir das greves de 1978/79, a classe trabalhadora retoma as mobilizações de massa, a campanha pelas Diretas Já, e finalmente, a primeira eleição para presidente em 1989, que representaram o fim e derrota da ditadura empresarial- -militar. 

Nesses anos todos, além da falta de liberdade, da instalação de um regime ditatorial, de políticos medíocres, tivemos milhares de brasileiros perseguidos, exilados, torturados e assassinados. Nunca poderemos nos esquecer deles! A Lei de Anistia de 1979 serviu apenas para esconder os responsáveis, que agora a Comissão da Verdade não consegue recuperar e nem realizar a justiça necessária. 

Nessa semana que marca os 50 anos do golpe – início dessa tragédia social e política que a sociedade brasileira viveu – certamente se multiplicarão eventos e oportunidades em debates, livros e filmes, para recuperar a memória e refletir sobre as lições dessa trágica história. 

O jornal Brasil de Fato se junta nessa recuperação histórica, sobretudo para a nova geração de lutadores da juventude brasileira, para que conheçam a nossa história, para que conheçam a sanha do capital e as perversidades do que é capaz de fazer a burguesia brasileira para não perder seus privilégios. 

Que essas lições nos ajudem a evitar erros do passado. E que a classe trabalhadora se conscientize, se organize melhor na construção de processos que levem a uma sociedade mais justa, verdadeiramente democrática e igualitária. Situação que ainda estamos longe de conquistar, diante das mazelas econômicas, sociais e políticas que colocam a sociedade brasileira entre as mais injustas e desiguais de todo o planeta.




Diretoria do Sepe Núcleo Rio das Ostras e Casimiro de Abreu


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