quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Conversando com versos (95): "Dia submarino", de Cecília Meireles (1901-1964)




"Dia submarino”


No fundo do mar
estão entretidos
os náufragos.


Tão entretidos, tão entretidos,
que não sentem a água pelos seus vestidos.


E não precisam chorar
porque o mar é só de lágrimas.
Só de lágrimas, o mar.


A água é diamante em seus olhos parados
E há mágicas luzes por todos os lados.


Não têm sede, nem fome.
Livres agora, para sempre, os lábios,
sem palavras, sem sorriso,
sem memória nem do seu nome.


Ah, tudo livre agora,
que não se fala nem se chora.


Mas os braços dos meninos
movem-se ao peso das águas,
pois são leves, são de limbo,
líquido limbo das mágoas.


E as mães pensam
que talvez as crianças
precisem colher as algas,


e que estão sofrendo as crianças
por inúteis esperanças,
sem palavras e sem lágrimas...


Isso é que tolda a alegria
no paraíso dos náufragos.



Fonte: Meireles, Cecília. Obra Poética. 3ª ed. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983. p.336


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