Por Wladimir Pomar
As batalhas de classe de 2014 confirmaram que as grandes burguesias brasileira e estrangeira realmente se lançaram em bloco contra o PT e o governo Dilma. Jogaram, e em certa medida continuam jogando, suas fichas contra a pretensão de aumentar a participação do Estado na economia e a participação democrática do povo na política. Temerosas de que essas participações reduzam seus ganhos monopolistas e seu poder sobre as instituições públicas, empenharam sua máquina de propaganda e seus recursos para destruir o PT, apeá-lo do governo, e impedir qualquer avanço na regulamentação dos dispositivos democráticos da Constituição de 1988. E, como previmos, tornaram 2014 muito mais turbulento, desafiante e cheio de emoções do que 2013.
Como alertáramos no final de 2013, a grande burguesia se dera conta do evidente esgotamento da política de crescimento através do estímulo ao consumo. E que, para a continuidade do desenvolvimento econômico e social, seria indispensável adotar um modelo de investimentos produtivos, aumento da concorrência, ou democratização do capital, redução dos juros, câmbio administrado, e combate à inflação através do aumento da oferta, e não de arrocho salarial e contenção do crescimento. Ou seja, um novo modelo de crescimento que teria, inevitavelmente, de romper com as regras neoliberais e os monopólios incrustrados na economia.
As táticas da grande burguesia compreenderam movimentos em todas as frentes. No frente econômica desdobraram-se no ataque ao aumento da intervenção do governo na economia, na retração dos investimentos, nas exigências para elevação das taxas de retorno para participar nas concessões público-privadas, no aumento da especulação financeira, e na difusão de boatos a respeito da suposta perda de controle do governo sobre a inflação e as metas fiscais. Além disso, no segundo semestre de 2014, sob o mote de “defesa da Petrobrás”, procuraram aproveitar-se da Operação Lava Jato para paralisar, desorganizar e desmoralizar a principal estatal do país e, de quebra, obter a flexibilização ou a mudança das regras de exploração do pré-sal, que garantem àquela empresa o papel de única operadora.
Na frente política, as reações da grande burguesia contra a maior intervenção e participação do Estado na economia também explicam as táticas utilizadas para demonizar o PT, dividir a base de apoio do governo, criar uma “terceira via” pseudo-esquerdista, e alçar um play boy da política como salvador da pátria. A virulência da grande mídia contra o PT e contra o governo Dilma marcou todo o ano de 2104, e mergulhou em lodaçal profundo durante a campanha eleitoral. A maior parte da classe dominante calculou que chegara o momento de dar um basta à experiência “chavista”, “bolivarianista”, “cubana” e até “soviética”, embora os governos Lula e Dilma possam ser qualificados, na melhor das hipóteses, como governos democrático-liberais com tinturas populares.
Especialmente durante 2014, a grande burguesia demonstrou que não aceita reformas estruturais democratizantes, mesmo pontuais, para realizar um desenvolvimento socialmente menos desigual. Não concorda com a introdução de impostos progressivos, ao invés de regressivos. Não quer perder seu poder sobre os congressistas, com o fim dos financiamentos privados às campanhas eleitorais. É visceralmente contra o fim do domínio monopolista e dos preços administrados sobre a economia. Não aceita qualquer medida que democratize a propriedade industrial, comercial, agrícola, dos serviços, da mídia e do solo, e incentive a concorrência para reduzir tais preços e desenvolver mais rapidamente as forças produtivas. Não aceita a redução das jornadas de trabalho, a melhoria dos salários, nem a universalização dos serviços públicos.
Portanto, não lhe interessam medidas através das quais seja possível reduzir a população excluída do mercado de trabalho e proporcionar à maior parte da população condições dignas de vida. Ao contrário, pretende jornadas maiores, salários menores, e mais privatização dos serviços públicos, com foco púbico mistificador apenas sobre alguns setores da população. Foi imbuída dessas negaças que a maior parte da grande burguesia se movimentou para impedir a reeleição de Dilma. Mas suas tentativas de formular uma terceira via, entre a esquerda e a direita, que poderia ser palatável a setores das classes sociais beneficiadas pelas políticas de transferência de renda e de aumento do salário mínimo, resvalaram para a adoção de um programa comum com a direita tucana escrachada. E trouxeram à tona, particularmente no segundo turno, a verdadeira natureza regressiva e reacionária da oposição direitista.
Apesar disso, por inação, ausência de resposta aos ataques, e inexistência de propostas políticas claras e incisivas de mudanças, o PT e sua candidata permitiram que a direita atraísse grande parte do centro burguês, espalhado pelo PMDB e por outros partidos, que vinha chantageando o governo para evitar reformas estruturais. Mais do que isso, permitiram que setores populares, que lutavam por mudanças, também fossem atraídos pela constância das mentiras e promessas da direita. Na prática, a esquerda e parte do centro no governo achavam estar ganhando. Segundo eles, não se deveria mexer em nada, embora fosse evidente a pressão da grande burguesia por um retrocesso. Podia-se deixar tudo como estava. Sequer perceberam que o leilão do campo de Libra foi o toque de finados de um tratamento civilizado ao governo Dilma e o grito de alerta das corporações nacionais e estrangeiras para barrar o propalado avanço estatizante.
A maior parte da esquerda petista no governo não aprendeu com as manifestações de junho de 2013 e posteriores. Não enxergou que ocorreu um erro sério nas prioridades governamentais referentes à reconstrução da infraestrutura do país, nem que as reformas que deveriam ter ocupado a posição prioritária eram aquelas referentes à mobilidade, saúde, educação, segurança e alimentos bons e baratos. Reformas que, ao serem implementadas, alavancariam o crescimento industrial e o aumento da oferta de alimentos e outros bens de consumo corrente. Como esse recado não foi ouvido, nem atendido, a grande burguesia navegou de braçadas para conquistar parte das burguesias média e pequena, e parte das massas populares, colocando em risco não só a reeleição de Dilma, mas também a democracia e o crescimento da economia, do emprego e dos salários.
Foram esses erros e defeitos do PT e do governo Dilma que corroeram não só as alianças sociais estratégicas, mas também as alianças táticas com os inimigos secundários, quase levando sua candidata presidencial à derrota. De positivo, boa parte dos setores populares e da esquerda crítica ao PT e ao governo deu-se conta de quem é o inimigo principal e garantiu a derrota eleitoral da direita. De qualquer modo, a correlação política de forças, resultante dos embates econômicos, sociais e políticos de 2014, se apresenta mais desfavorável para as classes trabalhadoras e intermediárias.
O que vai demandar um esforço ainda maior de análise e de esforço conjunto. Seja para dar continuidade ao crescimento econômico, à criação de mais empregos, ao aumento dos salários, à redução da pobreza e da miséria, à melhoria da mobilidade urbana, da saúde, da educação, da segurança, e de alimentos bons e baratos. Seja para conquistar as reformas políticas que reduzam o poder da grande burguesia sobre o Estado e a sociedade brasileira.
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