Por Virgínia
Bezerra,
Advogada do
GAJOP (Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares)
É indiscutível que, recentemente, a população tem
se manifestado e posicionado mais acerca de crimes e casos de grande
repercussão. Esta modificação da conduta social não se deu tão somente pela
maior conscientização da importância de instigar uma criticidade na opinião
popular, mas, principalmente, pela influência que a mídia vem exercendo de
maneira indiscriminada na vida das pessoas.
Deve-se atentar que tal fato não tem apenas sentido
negativo, vez que é de suma importância que o princípio constitucional da
publicidade seja alcançado de forma eficaz através de todos os mecanismos à
disposição da sociedade. Este possibilita o conhecimento dos atos e uma
fiscalização mais ampla do cumprimento pelas autoridades públicas dos deveres
inerentes as suas atribuições funcionais, obstando arbitrariedades como o
desvio e o abuso de poder.
Não menos importante é tratar sobre a repercussão
que a alienação midiática tem trazido para grande parcela da população. Sabe-se
que, ao invés de transmitir a informação com veracidade -o que, inclusive, é
pressuposto de uma conduta profissional ética- a maioria dos meios de
comunicação busca, através de matérias eminentemente sensacionalistas, a
aferição de lucro, com o mero intuito de vender mais exemplares ou aumentar a
audiência, maculando seu dever enquanto formadora de opiniões.
Grandes exemplos foram trazidos a público nos
últimos meses, entre eles o escandaloso caso do mensalão (Ação Penal 470) que,
por um lado, tem dado uma resposta satisfatória ao povo, que clama pela responsabilização
e punição dos políticos corruptos, o que outrora era impensável, enquanto que,
por outro, alça a pedestais e a masmorras membros do colegiado da Suprema
Corte, personificando, claramente, as figuras do herói nacional e do vilão
condescendente da pátria.
A justiça telemidiatizada pode transformar o
Judiciário em um verdadeiro palco, onde um caso deixa de ser julgado e
analisado de forma procedimental -respeitando os preceitos legais e
fundamentando-se na doutrina e jurisprudência- para tornar-se um verdadeiro
espetáculo, que o público acompanha seu enredo como uma verdadeira telenovela e
tem peso fundamental no seu desfecho, mesmo desconhecendo todos os fatores que
o envolvem.
A forma como as notícias têm sido veiculadas
atualmente conduzem seus receptores a adotar o enfoque passado pelos holofotes
como verdade absoluta, compondo pré-julgamentos desprovidos de qualquer análise
probatória, prudência ou sensatez. E, a partir disso, a pressão popular
torna-se um importante aliado ou um perigoso ator para induzir as autoridades a
adotar as medidas que lhes satisfaçam, sejam elas lícitas ou ilícitas, legais
ou ilegais, coerentes ou não.
Referência:
Gomes, Luiz Flávio; Almeida, Débora de Souza de.
"Populismo Penal Midiático". Editora Saraiva. 2013.
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