Guilhermina Luiza da Rocha é professora há mais de 20 anos e acredita na legitimidade da paralisação |
Professora
há 23 anos do município do Rio de Janeiro, Guilhermina Luiza da Rocha, 43 anos,
integra o grupo de 100 servidores da Educação que na quinta-feira tomaram a
Câmara de Vereadores, na Cinelândia, Centro do Rio. Na manhã deste sábado, em
seu terceiro dia no local, a docente explicou à Coluna do Servidor, por trás
das grades do acesso à Casa pela Rua Alcindo Guanabara, os principais motivos
que levaram a categoria a se instalar na sede do Poder Legislativo carioca e
manter a paralisação.
Para
Guilhermina, a greve na rede municipal de ensino, que começou no início de
agosto e foi suspensa por poucos dias, permanece pela “falta de autonomia
constituída nas escolas e pela falta de condições de se apresentar fielmente
uma educação pública.”
O DIA: Por
que a categoria continua em greve, mesmo após a apresentação do novo plano de
carreira?
GUILHERMINA:
– É preciso recuperar que a categoria fez uma paralisação de 34 dias com
legitimidade. Suspendemos para conceder chances de avanços no processo de
negociação, mas mediante ao plano apresentado, voltamos por tempo
indeterminado. Foi proposto um grupo de trabalho com a participação do Sepe, o
que não aconteceu.
O sindicato foi tomado de assalto sobre uma atitude
que a gente considera que foi bastante negativa para o processo. Se o governo
continuar com uma postura intransigente, a greve será mantida. Os professores
atuam em defesa da educação pública. Qualquer proposta, ainda mais se tratando
de uma categoria com mais de 60 mil profissionais, não pode ser apresentada por
um lado só.
Não há como
sugerir emendas ao projeto, em vez de pedir a retirada do projeto de lei da
pauta?
É impossível emendar algo que já está ruim. Pedimos
a retirada do projeto em uma perspectiva de que a gente possa restabelecer o
diálogo e pudéssemos de fato debater proposições históricas do movimento. Como
o governo apresenta uma proposta que diz o tempo todo que está fazendo para
2018? Como o governo acredita que vai fazer uma política de investimento em
cinco anos?
Este projeto de lei não nos contempla e o mais
grave, fere vários princípios constitucionais e das resoluções nacionais de
educação. O número de emendas apresentadas em conjunto com município já
demonstra que ele mesmo identificou um número excessivo de problemas dentro da
própria proposta. Demonstra por si só, que esse plano apresenta problemas.
Qual foi
propósito de ocupar o plenário da Câmara de Vereadores?
A nossa pauta deixou de ser uma pauta corporativa,
só do professor ou do funcionário de escola, passou a ser uma pauta onde a
sociedade também está discutindo. Para sairmos da greve, basta abrir o diálogo
e dizer efetivamente para a população que quer apresentar uma solução. Porque a
nossa ocupação surgiu justamente para contrapor a exigência e o autoritarismo
imposto pela Prefeitura do Rio. É hora de o Executivo se manifestar.
Em nota, a
Câmara de Vereadores afirmou neste sábado que a ocupação do plenário prejudicou
o livre funcionamento da instituição, impedindo a realização de audiência
pública da Comissão Permanente de Direitos Humanos e solenidade que estavam
agendadas para a última sexta-feira. A ocupação não atrapalhava as atividades
da Casa?
Entendemos que a Câmara é do povo. Então, a Casa
tem a sua agenda, e a rotina transcorreu normalmente. Estou sabendo agora de
qualquer situação que tenha sido criada. Não foi o nosso movimento que impediu
a programação, até porque existem diversas instalações no Legislativo. Apoiamos
os movimentos, estamos juntos. Tem a CPI do Ônibus, CPI do Fundeb, enfim, as
CPIs instaladas nessa Casa seriam um instrumento dentro do processo educativo
de conquista política.
A luta da
categoria também traz reflexos para a sociedade. Alunos ficam sem aula e os
pais não têm onde deixar os filhos. Como lidar com esse problema?
A greve é um direito constitucional. A Educação é
uma carreira formada majoritariamente por mulheres. Temos as mesmas
dificuldades e as mesmas atitudes solidárias a elas. Temos as mesmas
dificuldades em onde deixar os nossos filhos, sobrinhos e netos. Há um
princípio da unidade, da solidariedade, quanto mulheres e mães, nós temos
igualmente.
Outro ponto é onde deixar as crianças. Primeiro,
que escola não é lugar para deixar as crianças. Escola é um espaço de formação
e de construção do conhecimento. Então, para nós, essa ideia de que a escola é
um depósito precisa ser combatida na sua essência. Nós discordamos
profundamente de achar que um pai ou uma mãe, mesmo que necessite por questões
do mundo contemporâneo, tenha que deixar o seu filho. A escola é um lugar onde
o filho vai se ocupar e se construir.
Fonte:
Diretoria do
Sepe Núcleo Rio das Ostras e Casimiro de Abreu
Sepe - Núcleo Rio das Ostras e Casimiro de Abreu
End.: Alameda Casimiro de Abreu, 292 – 3º and. Sl. 8 – Centro – Rio das Ostras
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