segunda-feira, 30 de setembro de 2013

‘A Educação do Rio acordou’: Entrevista com a professora Guilhermina Rocha

Guilhermina Luiza da Rocha é professora há mais de 20 anos e acredita na legitimidade da paralisação

Professora há 23 anos do município do Rio de Janeiro, Guilhermina Luiza da Rocha, 43 anos, integra o grupo de 100 servidores da Educação que na quinta-feira tomaram a Câmara de Vereadores, na Cinelândia, Centro do Rio. Na manhã deste sábado, em seu terceiro dia no local, a docente explicou à Coluna do Servidor, por trás das grades do acesso à Casa pela Rua Alcindo Guanabara, os principais motivos que levaram a categoria a se instalar na sede do Poder Legislativo carioca e manter a paralisação.
Para Guilhermina, a greve na rede municipal de ensino, que começou no início de agosto e foi suspensa por poucos dias, permanece pela “falta de autonomia constituída nas escolas e pela falta de condições de se apresentar fielmente uma educação pública.”

O DIA: Por que a categoria continua em greve, mesmo após a apresentação do novo plano de carreira?

GUILHERMINA: – É preciso recuperar que a categoria fez uma paralisação de 34 dias com legitimidade. Suspendemos para conceder chances de avanços no processo de negociação, mas mediante ao plano apresentado, voltamos por tempo indeterminado. Foi proposto um grupo de trabalho com a participação do Sepe, o que não aconteceu.

O sindicato foi tomado de assalto sobre uma atitude que a gente considera que foi bastante negativa para o processo. Se o governo continuar com uma postura intransigente, a greve será mantida. Os professores atuam em defesa da educação pública. Qualquer proposta, ainda mais se tratando de uma categoria com mais de 60 mil profissionais, não pode ser apresentada por um lado só.

Não há como sugerir emendas ao projeto, em vez de pedir a retirada do projeto de lei da pauta?

É impossível emendar algo que já está ruim. Pedimos a retirada do projeto em uma perspectiva de que a gente possa restabelecer o diálogo e pudéssemos de fato debater proposições históricas do movimento. Como o governo apresenta uma proposta que diz o tempo todo que está fazendo para 2018? Como o governo acredita que vai fazer uma política de investimento em cinco anos?

Este projeto de lei não nos contempla e o mais grave, fere vários princípios constitucionais e das resoluções nacionais de educação. O número de emendas apresentadas em conjunto com município já demonstra que ele mesmo identificou um número excessivo de problemas dentro da própria proposta. Demonstra por si só, que esse plano apresenta problemas.

Qual foi propósito de ocupar o plenário da Câmara de Vereadores?

A nossa pauta deixou de ser uma pauta corporativa, só do professor ou do funcionário de escola, passou a ser uma pauta onde a sociedade também está discutindo. Para sairmos da greve, basta abrir o diálogo e dizer efetivamente para a população que quer apresentar uma solução. Porque a nossa ocupação surgiu justamente para contrapor a exigência e o autoritarismo imposto pela Prefeitura do Rio. É hora de o Executivo se manifestar.

Em nota, a Câmara de Vereadores afirmou neste sábado que a ocupação do plenário prejudicou o livre funcionamento da instituição, impedindo a realização de audiência pública da Comissão Permanente de Direitos Humanos e solenidade que estavam agendadas para a última sexta-feira. A ocupação não atrapalhava as atividades da Casa?

Entendemos que a Câmara é do povo. Então, a Casa tem a sua agenda, e a rotina transcorreu normalmente. Estou sabendo agora de qualquer situação que tenha sido criada. Não foi o nosso movimento que impediu a programação, até porque existem diversas instalações no Legislativo. Apoiamos os movimentos, estamos juntos. Tem a CPI do Ônibus, CPI do Fundeb, enfim, as CPIs instaladas nessa Casa seriam um instrumento dentro do processo educativo de conquista política.

A luta da categoria também traz reflexos para a sociedade. Alunos ficam sem aula e os pais não têm onde deixar os filhos. Como lidar com esse problema?

A greve é um direito constitucional. A Educação é uma carreira formada majoritariamente por mulheres. Temos as mesmas dificuldades e as mesmas atitudes solidárias a elas. Temos as mesmas dificuldades em onde deixar os nossos filhos, sobrinhos e netos. Há um princípio da unidade, da solidariedade, quanto mulheres e mães, nós temos igualmente.

Outro ponto é onde deixar as crianças. Primeiro, que escola não é lugar para deixar as crianças. Escola é um espaço de formação e de construção do conhecimento. Então, para nós, essa ideia de que a escola é um depósito precisa ser combatida na sua essência. Nós discordamos profundamente de achar que um pai ou uma mãe, mesmo que necessite por questões do mundo contemporâneo, tenha que deixar o seu filho. A escola é um lugar onde o filho vai se ocupar e se construir.


Fonte: 


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