terça-feira, 23 de julho de 2013

O surgimento de uma nova sintaxe e a recusa a um sistema corrompido. Entrevista com Fernando Magalhães

"O problema agora é saber se a multidão vai permanecer no caminho que traçou de uma nova trilha para o poder – o Poder Constituinte permanente – ou vai ceder lugar, finalmente, à restauração", assinala o filósofo.

"Depois de três décadas de silêncio", as manifestações que ocuparam as ruas surgem com uma "ambiguidade sadia", avalia Fernando Magalhães na entrevista a seguir concedida por e-mail à IHU On-Line. De acordo com sua análise, os protestos demonstram uma "agitação saudável" à medida que questionam o "status quo em geral, ainda que nem todos tenham consciência disso". Ele explica: "Se tudo começou com uma ação específica – o Movimento Passe Livre - MPL cujo objetivo era a anulação das passagens de ônibus na cidade de São Paulo, e seus atores estavam cientes disso –, as manifestações ganharam força não só devido à solidariedade em função da repressão policial, mas, sobretudo, pela indignação contida com toda uma série de escândalos governamentais que envolvia, especialmente, o Congresso Nacional". O outro lado da ambiguidade, acentua, refere-se ao fato de que o movimento "ainda não alcançou a sua maioridade. (...) Apenas uma pequena parte percebeu que o inimigo é o sistema e não as instituições organizadas".

Na avaliação de Magalhães, as manifestações de junho recusaram a participação de instituições tradicionais, inclusive dos velhos movimentos sociais, porque ao longo dos últimos anos eles "estiveram ao lado dos poderes constituídos, ao passo que o que se apresentava, nas ruas, era uma nova modalidade de poder: o poder constituinte. Um poder constituinte de 'tipo novo', em que reúne, a um só tempo, um sujeito supostamente revolucionário e um 'órgão' destituído de lideranças tradicionais, cujas regras são estipuladas de forma coletiva".

A crítica dos movimentos sociais tradicionais e dos partidos às manifestações demonstra que "as instituições organizadas temeram, realmente, a perda de sua dominação, já que não mais possuem a hegemonia. Por isso organizaram seu próprio evento. Mas só obtiveram uma resposta parcial: a da paralisação das forças produtivas", pontua. E alfineta: "As ruas estão falando outra linguagem, uma nova sintaxe que as forças em jogo só compreendem uma pequena parte. Não acho que estão equivocadas, ao menos pelo ângulo de seus objetos. Apenas não estão se entendendo e parece que não querem".

Fernando Magalhãesé doutor e pós-doutor em Filosofia pela Universidade de São Paulo– USP. É professor da Universidade Federal de Pernambuco– UFPE, membro do Grupo de Trabalho Ética e Cidadania da ANPOF, e do comitê científico da revista Perspectiva Filosófica.

Ver íntegra da entrevista em: http://www.adital.com.br/?n=clw7


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