18 Julho 2013
No dia 23 de julho se completam 20 anos da chacina
da Candelária, na qual foram mortos oito jovens – seis deles, menores de 18
anos. Quatro foram mortos a tiros, na escadaria da igreja. Um foi assassinado
ao tentar fugir. Outro morreu dias depois em decorrência dos ferimentos. Dois
foram levados de carro pelos criminosos até o Aterro do Flamengo, onde foram
executados.
Para a Anistia Internacional, o aniversário do
crime é motivo para reflexão sobre a persistência da violência policial no
Brasil. No caso do Rio de Janeiro, passadas duas décadas, ocorreu uma sucessão
de execuções extrajudiciais do mesmo tipo. Desde a Candelária, houve chacinas
em Vigário Geral (1993), com 21 mortos; no morro do Borel (2003), com quatro
mortos; na Via Show (2003), com 4 mortos; e na Baixada Fluminense (2005), com
29 mortos. Todas foram cometidas por policiais e as vítimas foram
majoritariamente adolescentes negros e pobres.
Os três condenados pela chacina da Candelária
cumpriram penas de prisão, mas já estão em liberdade. Todos eram policiais
militares à época dos assassinatos. Outros seis suspeitos foram absolvidos,
apesar de indícios preocupantes de seu envolvimento na chacina. Um deles,
policial militar, foi morto em 1994 em uma troca de tiros com policiais civis
da unidade antissequestro. Apesar de avanços, a impunidade tem sido a regra em
casos relacionados às chacinas e outras formas de violência policial contra
pessoas pobres no Brasil.
Mais de 50 crianças e jovens dormiam nas escadarias
da Igreja da Candelária na noite do massacre. Wagner dos Santos, ferido na
chacina e principal testemunha do crime, vive atualmente na Suíça, onde buscou
refúgio após sofrer uma segunda tentativa de assassinato, em 1994. Ele levou
oito tiros e sofre de envenenamento por chumbo, perda parcial da audição e dos
movimentos do rosto, e de sequelas psicológicas. Sobreviventes da chacina
acabaram mortos de forma violenta em outros momentos. Fábio Gomes de Azevedo
foi morto pela polícia em 1996, numa operação contra o tráfico de drogas.
Sandro Barbosa do Nascimento foi morto pela polícia em 2000, ao assaltar um
ônibus no Rio de Janeiro, incidente retratado no documentário "Ônibus
174”. Elizabeth Cristina de Oliveira Maia foi assassinada em 2000, pouco antes
de depor em um processo contra policiais. Os responsáveis por sua morte nunca
foram identificados.
Os padrões internacionais - os Princípios sobre
Prevenção Efetiva e Investigação de Execuções Extralegais, Arbitrárias e
Sumárias - estipulam que: "Deve haver investigações abrangentes, imediatas
e imparciais de todos os casos em que haja suspeitas de execuções extralegais,
arbitrárias e sumárias, incluindo aqueles em que queixas de parentes ou outros
relatos confiáveis sugiram mortes por causas não-naturais nas circunstâncias
acima."
O Estatuto da Criança e do Adolescente, que
completou 23 anos em 2013, estipula em seu art. 4º: "É dever da família,
da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta
prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura,
à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária”.
A Anistia Internacional acompanha há décadas as
investigações sobre a Candelária e outras chacinas, lembrando as autoridades de
que todos aqueles suspeitos de responsabilidade criminal ou de violações de
direitos humanos devem ser levados à justiça; apoiando os sobreviventes e os
parentes das vítimas; monitorando avanços e obstáculos à efetivação da justiça
e dos direitos humanos no Brasil, que o Estado tem falhado, sistematicamente,
em assegurar.
A persistência da violência policial - ou daqueles
que parecem agir com a autorização, apoio ou consenso do Estado - contra
jovens,em particular negros e pobres, ressalta a importância de que as
execuções extrajudiciais cometidas pela polícia sejam investigadas de forma
imediata, imparcial, independente e julgadas por tribunais civis. A Anistia
Internacional defende ainda que a formação e a capacitação das forças policiais
sejam totalmente reestruturadas e estejam baseadas nos princípios dos direitos
humanos, reconhecendo o direito à vida de todos e todas, em especial daqueles
que vivem nas periferias e favelas das cidades.
Anistia
Internacional
Serviço:
Ato em homenagem às vítimas da Chacina da
Candelária
18/07
18h às 22h - Vigília em frente à Igreja da
Candelária
19/07
09h - Concentração em frente à Igreja da Candelária
10h – Missa na Igreja da Candelária em memória dos
mortos
12h – Caminhada da Candelária até a Cinelândia
Diretoria do
Sepe Núcleo Rio das Ostras e Casimiro de Abreu
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