Por Altamiro
Borges
O Dia Nacional de Lutas com Greves e Mobilizações,
na quinta-feira passada [11 de julho], teve vários saldos positivos. Os trabalhadores
entraram em cena, de forma organizada e com suas pautas bem definidas, na onda
de protestos que agita o país. As centrais sindicais deixaram de lado suas
divergências e se uniram na defesa da democracia e dos direitos trabalhistas.
Fábricas, bancos, lojas e outros estabelecimentos foram paralisados; estradas
foram bloqueadas; e milhares de trabalhadores saíram às ruas em atos e
passeatas. Afora tudo isto, as mobilizações serviram para revelar a postura
raivosa da mídia patronal e para indicar a urgência da luta pela democratização
da comunicação. Esta é uma bandeira estratégica para o avanço das lutas
sindicais. Os editoriais dos jornalões e os comentários venenosos na tevê
reforçaram esta necessidade.
Os três maiores jornalões do país tentaram
desqualificar o protesto sindical, como se os filhos dos Marinho, Frias e
Mesquita tivessem se reunido para acertar as manchetes e a cobertura
“jornalística”. Todos falaram em “fracasso” das mobilizações, o que foi
repetido pelos “calunistas” das emissoras de rádio e tevê. No sábado, eles
voltaram à carga com editorais hidrófobos. “Limitações do sindicalismo
oficialista”, esbravejou o Globo. “A irrelevância das centrais”, rosnou o
Estadão. “Sindicalismo vencido”, decretou a Folha. A argumentação foi a mesma
nos três editoriais, num “pensamento único” autoritário e tacanho.
Segundo o jornal da famiglia Marinho, “enquanto as
manifestações de junho, com muito mais jovens, trataram de questões amplas,
capazes de sensibilizar todos - combate à corrupção, ética na política, baixos
investimentos em transporte, educação e saúde -, os sindicatos oficialistas
colocaram a tropa nas ruas com a velha agenda trabalhista, corporativista:
redução da jornada de trabalho com manutenção dos salários, fim do fator
previdenciário, aumentos salariais etc. Alguns dos pedidos são inexequíveis,
sob o risco de explodir de vez as contas públicas... Mas nada de mirar na
corrupção, pois o oficialismo de cada um os impede disto. Até porque há sempre
a possibilidade de alguma pedra atingir o próprio telhado de vidro”. Na maior
caradura, o jornal nada falou sobre as denúncias de sonegação fiscal do
poderoso império.
Já o Estadão – que nasceu vendendo anúncios de
trabalho escravo e rogando pela repressão às greves anarquistas – não escondeu
seu ódio ao sindicalismo, que deve “a sua prosperidade exclusivamente à
aberração do Imposto Sindical”. Para o jornalão da famiglia Mesquita, a jornada
de 11 de julho foi “o retrato acabado do definhamento” das centrais, que “ou
são criaturas de agremiações políticas, como a CUT em relação ao PT, ou
trampolim para carreiras políticas, como a do notório Paulo Pereira da Silva, o
Paulinho da Força, ex-PTB, hoje no PDT e com planos de ter um partido para
chamar de seu, o Solidariedade”.
Por último, a Folha tucana afirmou que “as
manifestações organizadas no país para o chamado Dia Nacional de Lutas foram
uma tentativa das diversas centrais sindicais de recuperar terreno perdido. Não
apenas em relação aos protestos de junho, mas também aos anos de atuação
domesticada pela simbiose com o governo petista... Já ficaram para trás as
reivindicações em prol do ‘sindicalismo autêntico’, defendido pelo então líder
operário Lula, que postulava organizações trabalhistas autônomas. Com a
ascensão dos sindicatos ao poder, a reboque do PT, consolidou-se a versão
repaginada do modelo varguista. O sistema continua a ser tutelado pelo Estado e
mantido por tributos compulsórios”.
Todo este ódio ao sindicalismo tem vários motivos.
Entre eles, o fato dos barões da mídia serem um dos piores empregadores do país
e temerem qualquer resistência trabalhista. Eles pagam péssimos salários,
precarizam as relações de trabalho (através da nefasta figura dos PJs) e
demitem milhares de profissionais sem dó nem piedade. Pena que alguns
jornalistas não percebam esta realidade, não se sintam pertencentes à classe
dos trabalhadores e sejam até mais realistas do que o rei. Como sempre ironiza
Mino Carta, o Brasil é o único lugar do mundo em que o jornalista chama o
patrão de companheiro! Lamentável!
Fonte:
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