segunda-feira, 8 de julho de 2013

As manifestações de rua e a resposta do governo

Por Ivo Lesbaupin

As manifestações das últimas semanas no Brasil, iniciadas pelo Movimento do Passe Livre (MPL) e pouco a pouco ampliadas para diferentes setores da população, a grande maioria jovens, provocaram uma reviravolta. Depois de colocar quase um milhão de pessoas em 60 cidades, chegou a dois milhões de pessoas em 400 cidades.

E finalmente o governo acordou.

O móvel inicial das mobilizações foi o aumento da passagem, frente a um serviço de transportes insuficiente e de baixa qualidade. O móvel seguinte, que de repente colocou milhares nas ruas e não mais somente jovens, foi a repulsa à repressão policial, a exigência de respeito à democracia, ao direito de livre expressão e manifestação.

Além destes motivos explícitos, inúmeras reivindicações apareceram. As mais constantes foram, além de transporte, saúde e educação, setores para os quais falta investimento, em contraste com os gastos fabulosos com a Copa.

Mas por que, de uma hora para a outra, levantam-se milhões em protesto no Brasil? A razão profunda, segundo vários analistas, está na forma de fazer política que vem dominando o país. Para levar à frente o que pretende, o governo se apoia na "governabilidade” –ou seja, maioria no Congresso-, para poder aprovar as leis e medidas que ele considera necessárias. Para isso, ampliou as alianças com outros partidos políticos, inclusive de direita, a tal ponto que lideranças reconhecidamente corruptas e/ou de direita, antes impensáveis, passaram a fazer parte da base aliada: primeiro Sarney, depois Renan Calheiros, depois Collor, depois Maluf...

Os partidos, mesmo os tradicionais de esquerda, passaram a se confundir com os partidos conservadores na sua forma de agir, fisiológica. "Comprar votos”, fazer barganhas para conseguir mais, aceitar formas pouco éticas de fazer política, como o "caixa 2”, se tornaram práticas usuais. Os próprios programas partidários passaram a se parecer cada vez mais. A privatização, por exemplo, que distinguia radicalmente o PT do PSDB, passou a ser praticada abertamente pelo governo de coalizão do PT.

Tudo passou a ser válido para manter o poder ou para ganhar novas eleições. As chantagens passaram a ser aceitas como um jogo a ser jogado, para não perder ou para ganhar votos de algum setor social. Desta forma, a bancada ruralista começou a obter vitórias sucessivas. Primeiro foi o "Código Florestal”, depois a pressão contra os direitos dos povos indígenas – no meio da qual vem o novo "Código da Mineração”. Desta forma, a bancada religiosa fundamentalista passou a ganhar espaço e os direitos sexuais e reprodutivos e os direitos dos homossexuais passaram a perder terreno, ao ponto de, na divisão de cargos na Câmara, o governo ter entregue a Comissão de Direitos Humanos a um deputado explicitamente contrário a estes direitos.

Tudo isso foi possível em nome da "governabilidade”, as alianças sem critérios, as concessões, a mudança de programa. Apoiado em pesquisas de opinião pública que lhe davam uma ampla e crescente aprovação popular, o governo não cedia em nada aos diferentes grupos e movimentos sociais que ousavam contestar suas políticas. Assim estava sendo com os povos indígenas, assim estava sendo com os movimentos feministas e LGBT. O governo seguia arrogantemente seu caminho, ignorando solenemente os poucos que se levantavam contra alguma coisa. Suas vozes não eram ouvidas. A grande maioria dos movimentos sociais, combativos na época de FHC, foram cooptados.

Por outro lado, se o governo não ouvia os poucos que protestavam, os partidos políticos, pasteurizados e assemelhados, os ignoravam totalmente. Nesta política de "governo de coalizão”, o governo estava disposto a tudo, e os partidos só se interessavam pela relação "toma lá-dá cá”, estabelecida pelo governo. Houve um total descolamento entre a sociedade - os cidadãos -, e os seus representantes, tanto executivos como legislativos. Embora num contexto diferente, ocorreu aqui a mesma reação dos "indignados” da Espanha contra os partidos políticos, contra o governo e, mais que isso, contra o sistema político: "vocês não nos representam”.

Em um determinado momento, a insatisfação entrou em erupção, deu-se uma explosão e as massas foram para as ruas. Primeiro com reivindicações bem precisas, depois com outras mais amplas e depois com as mais variadas.

Ver texto na íntegra em http://www.adital.com.br/?n=cln2


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