É verdade que setores do Partido da Mídia avaliam que as manifestações de rua do dia 12 demonstraram “perda de fôlego”. Do mesmo modo, há setores petistas achando que a “baixa adesão” a esses atos no domingo passado pode comprometer a mobilização de novas manifestações. E que também teria havido um “arrefecimento” do movimento contra o governo, em virtude da reestruturação da Petrobras, do crescimento do valor das ações da estatal, e da mudança na articulação política governamental.
Esses setores petistas também avaliam que a militância do PT, ajudada pelo depoimento de Vaccari à CPI da Petrobras, teria mobilizado apoios a Dilma através das redes sociais. O tesoureiro do PT teria desmontado as tentativas de criminalizar as doações recebidas pelo PT. Teria apresentado dados que comprovariam a legalidade dessas doações, ao apontar que PMDB, PSDB, PSB e outros partidos também receberam doações de empresas que estão sob investigação na Operação Lava-Jato, da Polícia Federal.
Em outras palavras, setores do Partido da Mídia e setores do PT fazem avaliação idêntica sobre o “arrefecimento” das manifestações das classes médias, dirigidas pela burguesia, enquanto o tesoureiro do PT diz “oficialmente” que o PT é igual a todos os demais. Porém, desde Sun Tsu, há mais de dois mil anos, fingir “perda de fôlego” para enganar o inimigo sempre foi um dos principais estratagemas da luta política e militar. E igualar-se aos inimigos é caminho certo para o desastre. Desse modo, por princípio, o PT deveria desconfiar daquela avaliação e daquele igualamento.
Mesmo porque, igualar o PT a todos os demais, no momento em que estão em curso diversas operações contra a corrupção (Lava-Jato, Zelotes, HSBC, Furnas, Mensalão Mineiro etc. etc.), e em que a luta contra a corrupção é a motivação principal das manifestações, é um erro político sério, principalmente porque desarma o partido contra as tentativas de liquidá-lo como força política diferenciada.
Como temos reiterado em comentários anteriores, nessa disputa de vida e morte é fundamental justamente que o PT se diferencie dos demais. Primeiro, reconhecendo que cometeu um erro ao aceitar contribuições de empresas privadas. Segundo, lutando para tornar legalmente proibidas tais contribuições. E, terceiro, tomando a decisão de não mais recebê-las, independentemente do Congresso Nacional aprovar ou não a ilegalidade de tais contribuições.
Isso é fundamental porque as operações policiais e judiciais anticorrupção em andamento estão demonstrando que a corrupção empresarial no Brasil não é apenas endêmica. Tornou-se epidêmica. Com raras exceções em seu interior, a burguesia é viralmente corruptora, atacando a máquina pública por todos os ângulos.
A Operação Zelotes, por exemplo, envolve uma lista bem maior de grandes empresas dos mais diferentes ramos, e um volume monetário bem superior ao da Operação Lava-Jato. Mas o Partido da Mídia se esforça para colocar as notícias sobre ela nos cantos de página, provavelmente porque seus membros também estejam na lista corruptora, e certamente porque não há petistas envolvidos.
Portanto, nas condições brasileiras, a rigor não há dinheiro limpo proveniente de empresas privadas. Nessas condições, além de se diferenciar dos demais, evitando tornar-se uma das “lavanderias” do dinheiro sujo empresarial, o PT precisa colocar na sua pauta de reivindicações e lutas o empuxe às operações anticorrupção, inclusive como forma de quebrar o oligopólio das corporações econômicas e tornar o mercado nacional mais democrático. Deveria entender-se com a OAB e outras associações jurídicas democráticas para acompanhar e pressionar o bom andamento das investigações, exigir maior cobertura sobre as Operação Zelotes, HSBC, Metrô paulista etc. etc., e impedir que elas sejam acobertadas ou engavetadas por setores podres do judiciário.
Dizendo de outro modo, o PT precisa recuperar uma bandeira que foi sua desde sua fundação. Paralelamente, o PT precisa voltar a participar das manifestações dos movimentos sociais. Mesmo porque, ao lado das tentativas de liquidá-lo, estão em curso mudanças regressivas no ajuste fiscal, nas relações de trabalho, no tratamento dos jovens, na lei de desarmamento, e numa série de dispositivos legais que, pelo menos formalmente, eram democráticos. Em pleno século 21, a bancada do retrocesso, que hoje é maioria na Câmara dos Deputados, pretende fazer o Brasil voltar ao século 19.
A única forma de impedir isso consiste em criar uma frente única, que inclua todas as forças democráticas e populares, mesmo aquelas que criticam o PT, e junto com elas realizar uma mobilização social massiva, incluindo, além das bandeiras de defesa dos direitos dos trabalhadores e das camadas pobres da população, as bandeiras de luta contra a corrupção e de defesa nacional. Essa é também a maneira de conquistar a maioria da classe média, que toma a corrupção como mote principal de sua indignação, e isolar os 10% a 20% dos participantes das manifestações do dia 12 que, a pretexto de liquidar o PT e tirar Dilma do governo, pretendem um golpe ditatorial contra a democracia.
Essa mobilização democrática e popular pode ter como marco revigorador as manifestações de Primeiro de Maio. Elas precisam ser realmente massivas, demonstrando “fôlego crescente” e “alta adesão”, de modo a demonstrar ao lado de lá de que lado está a maioria da população brasileira.
Em outras palavras, além de não baixar a guarda diante das manobras do Partido da Mídia e dos conservadores e reacionários, é fundamental ocupar democrática e popularmente as ruas.
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