sexta-feira, 24 de abril de 2015

Conversando com versos (129): "Melancolia" Raul de Leoni (1895-1926)


"Melancolia"
Raul de Leoni


Poente!
Estas horas que estão passando, surdamente,
Nunca mais voltarão no tempo imaginário:
No Jardim Solitário,
Estão-se desfolhando, ingloriamente,
Tantas rosas divinas, a sonhar:
Rosas que poderiam debruar
Leitos de fadas, em guirlandas luminosas,
Emoldurar cabeças de poetas
E que jamais florescerão ante os meus olhos...
Por que, então,
Deixá-las, numa morte inútil e secreta 
Esfolharem-se, assim anônimas e virgens,
Na sombra do jardim
Sobre a tarde serena?!
Ah! se eu as animasse e virgens,
Na sombra do jardim
Sobre a tarde serena?!
Ah! se eu fosse colhê-lhas para mim!...

Não vale a pena!

                          . . . . .

Poente!
Estas horas que estão passando surdamente
Nunca mais voltarão no tempo imaginário!
Na sombra do meu ser profundo e solitário
Tantas ideias límpidas, bailando,
Estão dizendo cousas infinitas...
Ideias que seriam minha história,
Minha imortalidade, minha glória, 
E que por certo eu nunca mais encontrarei...
Por que, então,
Vê-las morrer, assim, sem voz, sem serem ditas?! ...
Ah! se eu as animasse em palavras, eternas,
De uma vida magnífica e serena! ...

Não vale a pena!


Fonte: Leoni, Raul de. Luz Mediterrânea. 9ª ed. São Paulo: Livraria Martins, 1959, pp.64/65



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