Por Wladimir Pomar
É verdade que o Partido da Mídia, a expressão atualmente mais descarada da direita conservadora e reacionária brasileira, tem se aproveitado da Operação Lava-Jato para enlamear o PT e apresentá-lo como uma quadrilha de corruptos. Isto, embora o número de petistas suspeitos de envolvimento em qualquer dos malfeitos investigados no curso daquela Operação seja diminuto.
Além disso, o Partido da Mídia bem que se esforçou para transformar em heróis os corruptos delatores e, na batida em que ia, tendia a sugerir que eles fossem absolvidos por serviços relevantes prestados à pátria. E, a bem da verdade, fez o esforço máximo para escamotear que a bandalha de corruptores é composta pela fina flor do grande empresariado da construção pesada, costumeira anunciante dos jornalões e outros meios dos oligopólios midiáticos.
Nesse caso, certamente pode-se perguntar: se as contribuições recebidas por João Vaccari para o financiamento das campanhas do PT, embora comunicadas à Justiça Eleitoral e tidas como legais, são considerados por promotores e pela mídia como fruto de “lavagens” de propinas daquelas empresas, por que o mesmo critério não é usado para avaliar o pagamento de anúncios e outras inserções daquelas empresas nos meios de comunicação de massa? Os recursos obtidos fraudulentamente por essas empresas são sujos quando foram para o PT, mas ficaram “limpos” quando foram destinados a outros partidos e para a publicidade?
Para piorar as contradições em que o Partido da Mídia se debate, quanto mais o tempo passa e novos escândalos vêm à tona (HSBC, CARF, ferrovias), enquanto outros ressurgem (mensalão mineiro, trem paulista do PSDB, Furnas etc.), mais se torna evidente que o Velho Ogro da corrupção é um conglomerado de grandes empresários de praticamente todos os setores da economia brasileira, incluindo os representantes das burguesias estrangeiras aqui territorializadas. E mais difícil fica para o Partido da Mídia, diante de sua burguesia corruptora, manter as baterias acusatórias somente contra o PT.
Essa burguesia utiliza, há muito tempo, e com poucas exceções, a compra de favores, o tráfico de influência, e outros expedientes escusos e ilegais, para alavancar seus lucros. Os números são exorbitantes: ainda não se sabe ao certo quantos bilhões de reais foram extorquidos da Petrobras por essas empresas, através de mecanismos como sobrepreços e renegociação de contratos. Porém, se um gerente executivo medíocre, como Barusco, conseguiu juntar pelo menos 100 milhões de reais, cobrando 0,5% por contrato, isso significa a manipulação de contratos somando 20 bilhões de reais, ou mais.
Portanto, Barusco, Paulo Roberto, Duque, Youssef e outros operadores corruptos são pé de chinelo diante do volume de dinheiro abocanhado pela bandalha corruptora. Assim, não é por acaso que alguns poucos milhares de brasileiros (0,004% da população total) tenham amealhado bilhões de euros na Suíça, muitos deles sem comunicar ao Fisco. Se uma pequena quadrilha de conselheiros do CARF ganhou entre 2 e 19 bilhões de reais vendendo absolvição de dívidas para grandes empresas, isso significa que tais empresas lesaram o país entre 20 e 190 bilhões de reais, se a comissão paga foi de 10%. Se a comissão foi de 3%, o rombo praticado pelas empresas pode ter variado de 60 bilhões a 570 bilhões de reais.
Isso explica porque alguns poucos brasileiros conseguiram guardar em paraísos fiscais algo em torno de 530 bilhões de reais. Assim, quanto mais se cavar no bucho do Velho Ogro, mais evidente ficará que a nata da burguesia brasileira é corruptora. E que ela é quem deve ser a principal ré de todas as operações anticorrupção em curso, apesar dos esforços do Partido da Mídia para escamotear tal fato.
Portanto, para colocar um freio nesse jogo do Velho Ogro não basta apenas investigar, processar, julgar e condenar os corruptos. É preciso também investigar, processar, julgar e condenar os corruptores. E, bem mais do que isso, colocar um freio no sistema rentista de ganho fácil com juros altos, sistema aberto de investimentos de curto prazo nas bolsas, e falta de controle na exportação de dinheiro através do sistema bancário e financeiro.
Em contrapartida, a esquerda como um todo, e especialmente o PT, precisam se convencer que não há dinheiro limpo nas contribuições empresariais para as campanhas eleitorais. De uma forma ou de outra, tais contribuições são tisnadas pelo sistema normal de corrupção praticado pela maior parte da burguesia.
Mesmo considerando que há setores burgueses com os quais é preciso realizar alianças políticas e sociais para isolar a burguesia financeira e os oligopólios transnacionais, e desenvolver as forças produtivas do país, a esquerda terá que levar em conta que parte considerável da burguesia “aliada” faz parte da bandalha corruptora. Não é possível se manter limpo ao aceitar dela contribuições financeiras, mesmo permitidas por lei, ou praticar métodos idênticos aos que ela pratica para obter seus objetivos.
O pior que pode acontecer à esquerda, além de não ter uma estratégia que atenda à realidade brasileira, nem táticas que acumulem força, é se tornar igual aos representantes da burguesia, sejam ele partidos, políticos, intermediários, laranjas, e o que mais haja.
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