Por Manfredo Araújo de Oliveira
Doutor em Filosofia e professor da UFC. Presidente da Adital
Novo ano, metade do tempo do novo governo, momento oportuno para
refletir sobre rumos que nos têm marcado e sobre as grandes questões que ainda
nos estão a desafiar. Se a gente se pergunta qual foi a orientação básica de
nossa vida coletiva na última década certamente o que aparece mais claramente
como transformação de fundo é a recuperação do Estado como indutor do
crescimento econômico e efetivador de políticas públicas e sistemas de proteção
social que levaram milhões de brasileiros à inclusão no mercado. O capitalismo
tem hoje uma nova configuração o que mostra a ambiguidade do processo em curso:
as políticas de financiamento estatal do capitalismo nacional através,
sobretudo, da ação do BNDES estão transformando nosso capitalismo num
capitalismo monopolista de Estado. O Estado se fez financiador dos processos de
oligopolização e cartelização da economia que levam a serviços de péssima
qualidade a preços exorbitantes. Portanto, é o próprio Estado que estimula o
processo de concentração.
Se é inegável a entrada de milhões de pessoas no mundo do
consumo, continuamos marcados por desigualdades (considerada não como
comparação entre os ganhos médios vigentes, mas no sentido das diferenças
abismais de condição de vida) brutais e talvez aqui esteja a questão que merece
ser posta no centro das preocupações da sociedade brasileira. Seus efeitos são
perversos a começar pelo fato elementar de que muitos continuam
não encontrando satisfação para suas necessidades básicas. É a tragédia da
chamada pobreza absoluta: a carência de alimentação, vestimenta, moradia,
tratamento médico, escola de qualidade, etc. O grande filósofo norte-americano
J. Rawls insistia com razão que sem esse mínimo essencial de bens de primeira
necessidade não se pode falar de efetivação de direitos iguais para todos o que
constitui a ideia de fundo de um Estado Social de Direto como desenha nossa
constituição. A referência fundamental da configuração da vida coletiva são o
ser pessoal e a dignidade que lhe é constitutiva. No cerne do ser pessoal está
a vida que constitui seu bem elementar uma vez que condição de possibilidade de
tudo mais. A satisfação das necessidades básicas diz respeito à prioridade do
direito à vida frente aos outros direitos.
Talvez a questão agrária seja a instância em que essa
situação se revela com mais clareza: 4 milhões de famílias pobres do campo
recebem Bolsa Família para não passar fome, 150 mil famílias de trabalhadores
sem terra estão acampadas, vivendo debaixo de lonas, lutando pelo direito de
ter terra para viver. Milhões de trabalhadores assalariados rurais são
submetidos a todo tipo de exploração. No Brasil de hoje, a estrutura do mundo
agrário foi submetida ao grande projeto de desenvolvimento do agronegócio que
se ufana de ser a grande empresa agrícola à altura do desenvolvimento
tecnológico atual e voltada para a competição num mundo globalizado. Sua
eficiência nesta perspectiva é inegável, como também seu êxito em desempregar
cada vez mais pessoas e substituir o ser humano por máquinas. Temos muito a
fazer no novo ano.
Diretoria do Sepe Núcleo Rio das Ostras e Casimiro de Abreu
Sepe - Núcleo Rio das Ostras e Casimiro de Abreu
End.: Alameda Casimiro de Abreu, 292 – 3º and. Sl. 8 – Centro – Rio das Ostras
Tel.: (22) 2764-7730
Horário de Funcionamento: Segunda, Quarta e Sexta das 09h às 13h; Terça e Quinta das 13h às 17h.
Twitter: @sepeostras
Facebook: Perfil Sepe Rio das Ostras
Nenhum comentário:
Postar um comentário