Por Frei Betto
A educação crítica é o grande desafio nesse mundo hegemonizado pelo capitalismo neoliberal. Ela tem como princípio formar não apenas profissionais qualificados, mas cidadãos protagonistas de transformações sociais.
Ela extrapola os limites físicos da escola e vincula educadores e educandos a movimentos sociais, sindicatos, ONGs, partidos políticos, enfim, a todas as instituições que desempenham atividades de transformação social.
A educação crítica só se desenvolve em sintonia com os processos reais de emancipação em curso e as reflexões teóricas que fundamentam tais processos.
Deve levar em conta três tempos que se intercalam: das estruturas (mais longo); o das conjunturas (mais imediato e mutável); e o do cotidiano (no qual vivenciamos o conflito permanente entre a satisfação de interesses pessoais e a consciência das demandas altruístas).
O tempo das estruturas deve ser objeto da educação escolar. Ele nos remete à história da história, aos grandes processos sociais com seus avanços e recuos.
Quanto mais educadores e educandos são conscientes do tempo estrutural, mais se contextualizam e se compreendem como herdeiros de uma história que, entre dificuldades, avança da opressão à libertação.
Ter consciência do tempo das estruturas é ter consciência histórica e não se deixar afogar no mar de contradições dos tempos de conjunturas e do cotidiano. Cada um de nós é um pequeno elo na vasta corrente do processo social. Só tendo consciência da amplitude da corrente apreendemos a importância do elo que somos. Uma educação que não se abre para o tempo das estruturas corre o sério risco de ser cooptada pela estrutura mundialmente hegemônica.
O tempo das conjunturas é o das mutações cíclicas que produzem inflexões nas estruturas sem, no entanto, alterá-las substancialmente. O acúmulo de conjunturas influi na mudança do tempo das estruturas. O grande desafio é como se comportar em determinada conjuntura de modo a aprimorar ou transformar a estrutura.
O tempo do cotidiano é o do dia a dia, no qual trafegamos e tropeçamos, movidos por ideais altruístas, solidários e, ao mesmo tempo, atraídos pelas seduções do comodismo e do individualismo.
É no tempo do cotidiano que a educação atua e permite uma compreensão crítica da conjuntura e desperta o imperativo de se comprometer com a transformação da estrutura.
Nesse tempo cotidiano vivemos imersos, muitas vezes movidos por utopias libertárias e, ao mesmo tempo, desanimados ao reconhecer, a cada dia, que a matéria-prima do futuro é humana, sempre frágil, ambígua e contraditória.
A formação da consciência crítica e do protagonismo social resulta de um processo pedagógico que intercala os três tempos, de modo a evitar a mesquinhez de um cotidiano que nem sempre reflete os valores em nome dos quais o assumimos e queremos educar.
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