Por Leonardo Boff
FREI BETTO é um dos nossos mais atentos analistas da cena cultural brasileira. Imbuîdo dos ideais da dimensão libertadora da fé cristã, sempre, sem nenhum retrocesso, esteve do lado certo: do lado dos mais pobres (foi um dos idealizadores dos projetos sociais do PT quando esteve no primeiro governo Lula), dos afrodescentes, dos indígenas, dos que têm outra opção sexual e das mulheres, por séculos oprimidas pela mentalidade patriaral que não foi ainda totalmente superada. Eu diria que o machismo atual, por causa da crítica feminista, se retraíu um pouco na sociedade mas encontrou amplo refúgio na mídia, especialmente, na TV. Ai a mulher é feita “objeto de cama e mesa”; como diz frei Betto um “objeto descartável”. Nem se mostram apenas mulheres fascinantes, mas partes delas como seios, cabelos, pernas e outras partes da decência. Vi há dias a propaganda de uma máquina moderna e ao lado uma mulher semi-nua. Que tem a ver a mulher neste estado com a máquina? É que a mulher atrái o olhar do consumidor e com isso ele vê mais do que a mulher. Vê a máquina. Mas a mulher vem usada para o marketing e com isso rebaixada como se fora um objeto. Isso é inaceitável para uma sociedade civilizada que busca a mesma dignidade de gênero. Admiro-me que atrizes conhecidas, algumas até próximas, vendam sua imagem para o mercado de produtos. A imagem é parte da pessoa e por isso não pode virar mercadoria. Apesar destas contradições, neste dia, dia da mulher, queremos prestar homenagem a elas. Sem elas nós não estaríamos aqui. Nem Deus ter-se-ia encarnado através da simples mulher do povo Miriam de Nazaré. Elas são mais da metade da humanide. E ainda são as mães e as irmãs da outra metade, que somos nós, os homens. O que não é pouca coisa. Veneração, respeito, cuidado e amor devem ser tributadas a elas e ao Mistério que carregam, sempre fascinante, sinal do Mistério de Deus que também tem traços femininos e se revelou como Mãe de infinita ternura: Lboff
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Hoje é o Dia da Mulher. Utilizada como isca de consumo pela publicidade, ela é peça de destaque na oferta de produtos.
A propaganda vende quimeras. Não se compra apenas xampu ou roupa. Compra-se, sobretudo, o sonho de ser uma entre dez atrizes que lavam os cabelos com aquele produto ou a fantasia de tornar-se tão sedutora quanto a jovem que entra fácil no jeans.
Destituída de mente e espírito, a mulher é reduzida a formas e trejeitos. Não apenas os homens fazem da mulher objeto do desejo. Basta observar capas de revistas femininas. Mulher se compara à mulher na busca de melhor performance social, sexual e estética.
Se além da roupa, a moda dita um corpo esquálido, a anorexia impõe-se como salário da vaidade. A medicina cria um novo ramo para atender ao luxo da ditadura estética, como se o corpo que foge ao modelo imperante portasse doenças e anomalias.
Essa cultura da glamourização move a lucrativa indústria de cosméticos, publicações, esportes e academias de ginástica. Sua isca é a mulher confinada à aparência e destituída de direitos, subjetividade, ideias e valores. Dócil aos caprichos do mercado, o corpo vai à leilão na feira de amostras das revistas masculinas.
Como estranhar que, na esfera da realidade, as relações sejam conflitivas? Em todo o país, o machismo com frequência arvora-se em carrasco, ceifando vidas de mulheres. A propagação do feminino como mero objeto de consumo não suscita no homem respeito e alteridade. Uma coisa é uma coisa. Manipula-se, usa-se, descarta-se.
Enquanto a mulher aceitar esse jogo de marketing, movida pela quimera de ser tão bela quanto a fera, será difícil cegar os olhos do machismo – tanto o masculino, que a submete; quanto o feminino, de quem aceita ser submetida.
A exposição erótica da mulher é uma humilhação do feminino, pois torna a beleza resultado da soma de meros atributos físicos.
Marcello Mastroianni, que entendia de mulheres, e quem encontrei em Moscou em 1986, considerava o mais fascinante numa mulher a coerência de sua história de vida.
Mas isto não está à venda. É uma conquista.
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