Por Milton Temer
Algo qualitativamente distinto pode vir a ocorrer no cenário político brasileiro, a partir do que mobilizam as primeiras páginas dos jornais com as últimas revelações sobre a prevaricação com a Res Publica. Do neoPT ao PMDB, com destaque para o PP do emblemático Maluf, todos foram jogados no mesmo balaio, o que nos permite constatar que o LavaJato já produz resultados da maior significação política.
No contraponto, impossível para a mídia conservadora, oculta-se a polarização real no Congresso Nacional, a partir do confronto promovido entre os parlamentares do PSOL - Ivan Valente e Edmilson Rodrigues - e o presidente da CPI da Petrobras, um preposto de Eduardo Cunha, ambos melados nos financiamentos de campanha por parte de empreiteiras.
Eduardo Cunha já lhes anuncia possíveis sanções por quebra de decoro, considerando o poder absoluto que exerce sobre o legislativo e o Estado. Mas diante dos fatos novos, não estará ele muito mais ameaçado de uma pressão para se licenciar do cargo durante as investigações sobre "achacar empresários", como anuncia o próprio Globo, que o vinha ultimamente "valorizando"?
Estes dois episódios, quase simultâneos e interligados, são emblemáticos para os que - como eu - mergulhavam num ceticismo crescente, diante da inevitável falsa polaridade entre a tradicional direita, simbolizada nos tucano-pefelistas, e a nova direita, o neoPT, dissimulada como "esquerda possível", diante da necessidade do veto às previsíveis sequelas sociais que seriam promovidas pelos reacionários mais antigos.
Não estou dizendo que se abrem, no curto prazo, espaços semelhantes aos que geraram Syriza, na Grécia, e Podemos, na Espanha. Mas é possível imaginar que, pela forma aviltada como o neoPT reage aos ataques dos que lhe querem tomar a chave do cofre para implementar os mesmos programas macroeconômicos, uma anemia irreversível se anuncia, e um vazio se estabelece de forma acelerada. Um vazio que pode impor a necessidade de uma nova alternativa propositiva, ao invés de um simples contraponto de negação, como foi o do voto em Dilma depositado para impedir Aécio.
Para tanto, é fundamental que as esquerdas combativas - que não se renderam nem se venderam; que se alinham com as legendas do PSOL, do PCB e do PSTU, mas que se estendem a uma base social muito mais ampla; PTistas inconformados com o transformismo ideológico que lhes foi imposto; Brizolistas históricos; progressistas democráticos independentes - se unifiquem em torno de bandeiras e programas que sejam capazes de consolidar eficácia, tanto nas insubstituíveis lutas institucionais, quanto na mobilização de massas.
Uma mobilização que pode partir de temas específicos, setoriais, mas que a Frente saiba universalizar, tirando a Parte do isolamento e colocando-a no Todo. Fazendo avançar lutas setoriais para o combate maior, que está na raiz de suas reivindicações: a conquista de um novo tipo de sociedade e de vida política.
Onde justiça social e processo democratizante sejam dados permanentes.
Luta que Segue.
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