segunda-feira, 10 de novembro de 2014

O Povo não é bobo!


  Editorial Correio da Cidadania 

Em teoria, as eleições existem para que a população expresse sua opinião, escolhendo os candidatos através dos quais se sente melhor representada. E não deveria haver intervenção direta em sua decisão, a ser realizada a partir da livre apresentação dos candidatos, dos seus projetos e de seus programas. Como habitual, nada disso ocorreu no pleito passado.

Houve partidos e candidatos com direito a se fazerem conhecer, mais ou menos. Todos eles inevitavelmente financiados pelo grande capital, através dos canais legais e ilegais. Houve partido e candidatos que passaram mais ou menos despercebidos, participando do pleito quase apenas para reforçar a farsa eleitoral.

A decisão sobre quem deveria ser ouvido e poderia ser votado jamais pertenceu, como habitual, à população.

Nessa manipulação da opinião e do voto público, desempenhou um papel central a grande mídia privada, escrita, radiofônica e televisiva. Como sempre, desde o início, seus proprietários tiveram seus candidatos defendidos em forma explícita e, sobretudo, disfarçada, pelos seus prepostos engomados e pagos a peso de ouro pela venalidade desbragada.

Nesse pleito, o objetivo central foi apear do poder Dilma Rousseff e o PT, que não constituíam mais os agentes preferidos do capital para o próximo período. Por isso, a mídia chegou ao desplante de sugeri-los comprometidos com projeto político radical, anti-privatista, anti-mercado, nacionalizador. Tudo o contrário do que fizeram nos últimos doze anos. Para isso, utilizou-se de vários subterfúgios, entre eles a invenção de Marina da Silva e, quando ela mostrou fragilidade, a aposta de todas as fichas de volta a Aécio Neves.

Na defesa de um e de outro e no ataque a Dilma Rousseff e ao PT, presenciamos longas semanas de um facciosismo sem travas, martelando ininterruptamente em todas as teclas e pedais do piano midiático. Jamais houve informação, por mínima que fosse. Conhecemos apenas intoxicação, manipulação, na maioria das vezes descarada, da opinião pública e eleitoral, através da imagem, da afirmação, da sugestão, da palavra direta ou curva.

Sob a retórica do moralismo, encobria-se o enorme passivo e ativo que comprometia os apadrinhados do capital, fixava-se obsessivamente sobre os pecados grandes, pequenos, médios e imaginários da candidata e do partido a serem abatidos. E, reconheçamos, os pecados não eram poucos! Não houve pudor e contemplação na tarefa que a grande mídia abraçou. A operação da Veja foi apenas a cereja do bolo, pensada para enterrar o punhal em candidata que se considerava já agonizante.

Nos jornais, nas rádios, na televisão, fora a propaganda pública, a mensagem era sempre a mesma, através de múltiplas formas e variações, no final já repetitivas. Mutatis, mutandis, na telinha da televisão brasileira, as eleições passadas foram qualquer coisa como as denunciadas eleições na Coréia do Norte!

Quantos milhões de votos foram embretados por essa campanha obsessiva?

Não haverá arremedo de democracia no Brasil enquanto o grande capital mantiver o monopólio privado total sobre a grande imprensa e a formação-produção da opinião pública.

É imprescindível a democratização radical da imprensa, o controle do espaço e do comentário da opinião direta e indireta sobre os fenômenos políticos e eleitorais, na rádio e na televisão, concessões públicas. É um imperativo democrático o controle público de toda a televisão de sinal aberto, ao igual do que se dava na Europa civilizada dos anos 1950-80, na Itália, na França, na Inglaterra, na Bélgica, nos anos de ouro daquele meio de comunicação social.

E não se espere que Dilma Rousseff e o PT façam algo nesse sentido. Do compromisso de respeito canino ao capital, assinado pelo petismo, faz parte a obrigação de beijar a mão que os castiga. Logo, logo, estarão distribuindo os milhões tradicionais aos grandes barões da comunicação no Brasil.

O Povo não é bobo!



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