quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Conversando com versos (91): "Lágrimas de cera", de Raul Machado (1891-1954)





"Lágrimas de Cera”
Raul Machado



Quando Estela morreu, choravam tanto! 
Chovia tanto nessa madrugada! 
— Era o pranto dos seus, casado ao pranto 
Da Natureza — mãe desventurada! 

Ninguém podia ver-lhe o rosto santo, 
A fronte nívea, a pálpebra cerrada, 
Que não sentisse, logo, em cada canto 
Dos olhos, uma lágrima engastada! 

Ai! não credes, bem sei, porque não vistes! 
Mas quando ela morreu, chorava tudo! 
Até dois círios, lânguidos e tristes, 

Acendidos à sua cabeceira, 
Iam chorando, no seu pranto mudo, 
Um rosário de lágrimas de cera! 


Fonte: Internet. O Soneto narrativo. Sonetário Brasileiro.


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