Por Altamiro Borges
O discurso da presidenta Dilma Rousseff na
reabertura do Congresso Nacional, nesta segunda-feira (3), explicitou o poder
da ditadura financeira no país. Ele foi um horror! Acuada pelas chantagens do
"deus-mercado” e pela "guerra psicológica” promovida pela mídia
rentista, a governante prometeu mais austeridade fiscal e arrocho monetário.
Não é para menos que o jornal O Globo, em editorial nesta terça-feira, elogiou
o seu pronunciamento e ainda fustigou: "Que o discurso da austeridade seja
sincero”. Para o jornalão, Dilma sinalizou que agora vai cortar os gastos
públicos e elevar os juros para combater a inflação. Nada soa melhor aos
ouvidos dos banqueiros do que estas promessas.
Na ótica da famiglia Marinho, a presidenta não
tinha alternativa – este é o velho bordão neoliberal desde a época de Margareth
Thatcher. "Com a economia brasileira cercada por incertezas, refletidas em
análises elaboradas dentro e fora do país, Dilma aproveitou a abertura do ano
legislativo para fazer o indicado: na tradicional mensagem da Presidência ao
Congresso, ela concedeu o destaque necessário ao combate à inflação e ao
controle de gastos. Era o mínimo que se esperava. Há pouco, talvez inspirada
por assessores atentos apenas aos embates político-eleitorais, a presidente
tachou de ‘guerra psicológica’ o vagalhão de críticas à leniência no seu
governo com a inflação e a responsabilidade fiscal”.
Este elogio do império midiático não significa que
haverá qualquer trégua com a atual governante. Os rentistas continuarão a sua
operação para enquadrar, desgastar e derrotar a presidenta Dilma neste ano de
sucessão. O Globo deixa isto explícito. Aplaude a cedência do discurso, mas diz
que dificilmente seu receituário neoliberal será seguido pelo governo.
"Coloca-se sobre a mensagem presidencial um grande e sugestivo ponto de
interrogação: agora será para valer? No ano passado, não foi... Não será fácil
resolver uma equação que pressiona o Planalto a fazer uma política de gastos de
fato séria, enquanto os objetivos eleitorais puxam o governo para o outro
lado”. De imediato, porém, a mídia rentista está feliz.
Ela tem motivos para isto. Em sua mensagem ao Congresso,
lida pelo senador Joao Vicente Claudino (PTB-PI), a presidenta Dilma até falou
que manterá o compromisso com o "crescimento do emprego e a redução da
desigualdade”. Mas, no outro extremo, ela afirmou que sua prioridade será
"a gestão das contas públicas com a continuidade da política de
responsabilidade fiscal”. O governo inclusive já estuda novos cortes nos gastos
públicos e a elevação do superávit primário para acalmar o "deus-mercado”.
Já o Banco Central sinalizou nesta semana que manterá sua política de elevação
da taxa básica de juros, a Selic. Como combinar "crescimento de emprego e
a redução da desigualdade” com a adoção de políticas monetárias, fiscais e
cambiais restritivas? Esta pergunta não incomoda apenas a mídia rentista, mas toda
a sociedade brasileira!
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