Conversando com versos (45): "Delírio voluntário", de Anacreonte (ca 563-478 a.C.)

 

"Delírio voluntário"

Anacreonte

Deixai-me em honra dos deuses

Beber, beber à vontade!

Quero, em báquica ebriedade,

Quero, quero delirar!

Deliraram Alcméon,

Como Orestes, dos pés brancos,

Que ousaram suas mães matar.

Eu, que não matei ninguém,

Que o sangue desaconselho,

De beber vinho vermelho,

Quero, quero delirar!

Delirou outrora Hércules

A agitar, mais que irascível.

De Ifiteus o arco terrível,

Mais o carcaz a agitar...

Ajax, preso de delírio,

Balançou, fero e sanhudo,

O pesado, aêneo, escudo

E o espadão de Heitor pelo ar...

Eu, erguendo a taça apenas,

A cabeça engrinaldada,

Sem facão, arco, nem nada.

Quero, quero delirar!

Tradução: Almeida Cousin

Fonte: Odes de Anacreonte. Rio de Janeiro, Achiamé, 4ª ed., 1983, p. 91

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