Por Milton Temer
Dilma, Aloizio Mercadante, Rosseto; quem estiver na frente serve para ser queimado na Inquisição que Lula promove como forma de tentar se liberar de qualquer responsabilidade na crise com sintomas terminais que alcança o governo e o neo PT.
As “bruxas” da vez vão sofrer o que antes foi imposto a Zé Dirceu e a Genoino, no episódio do Mensalão. Vão pagar pelo que o verdadeiro responsável tenta tirar de cima de si: a promoção do mergulho no pântano ideológico a que o PT foi submetido, a partir da adoção do “lulinha, paz e amor”, que marcou o acordo com as classes dominantes para a chegada de Lula ao poder unicamente pelas benesses do poder.
A chegada ao poder sem ferir nenhum dos preceitos da norma estabelecida. Sem nenhum confronto com as classes dominantes. Tudo garantido por uma política assistencial de baixo custo. Despendendo, anualmente, com mais de dez milhões de famílias muito menos do que o lucro dos dois maiores bancos privados brasileiros.
Que não se leia aqui, no entanto, nenhuma tentativa de amenizar a adesão dos citados ao projeto pessoal de Lula. Dele se aproveitaram sem se dar conta de que o mentor não hesitaria em entregá-los às feras da mídia conservadora diante do surgimento das faturas de tenebrosas transações - que se tornaram rotina em suas relações com a trinca maldita com a qual se rodeou em sua passagem no Planalto, bancos, empreiteiras e agronegócio.
Que não se leia aqui, também, nenhuma tentativa de amenizar a submissão consciente de lideranças expressivas do movimento social, das cúpulas sindicais e, principalmente, do campo majoritário que dominou a cúpula partidária em todo este período recente. E que de forma vil se acomodou ao transformismo ideológico imposto ao saudoso PT.
O que pretendemos afirmar é que, nesses últimos “vazamentos” de discursos, em supostas reuniões fechadas, Lula não deixa de contar com a cumplicidade dessa mídia conservadora, que se limita a transmitir o que ele diz. Não há a menor preocupação com o contraponto de análises a partir da reconstituição do período histórico que ele iniciou, conduziu de forma majestática, e no qual continua a ter peso significativo, a considerar a tibieza e o muito de inócuo a se registrar nos documentos finais desse patético 5º Congresso nacional da legenda, recentemente concluído em Salvador.
O governo e o partido estão num suposto “volume morto” por conta de que e de quem, senão de seu próprio peso incontestável nos caminhos e decisões tomados desde sua chegada ao Planalto? Quem afirmou, a despeito de duas décadas anteriores na condução de um partido socialista combativo, nunca ter sido de esquerda, para justificar um governo em que “nunca os banqueiros lucraram tanto”?
Que não venha o antigo líder sindical de borzeguins ao leito.
É dele a principal responsabilidade pela derrocada política e ideológica do partido e do governo. Foi ele quem inventou Dilma, para que não houvesse possibilidade de o partido gerar a ascensão de alguma liderança interna histórica, caso pretendesse retornar à presidência já em 2014.
Criador levar rasteira de criatura não é novidade na história dos Poderes na humanidade. Dilma faz agora o que ele mesmo inventou em 2003: atender à exigência da direita para a manutenção do poder pelas benesses do poder. Foi com Lula que Dilma aprendeu. Não adianta, portanto, tentar se afastar agora do cálice de sangue que ele mesmo encheu anteriormente.
O que deve preocupá-lo agora é o desdobramento do processo que chega a ponto crítico, com a prisão dos até então inexpugnáveis controladores da Odebrecht e da Andrade Gutierrez. Tanto pelo período em que ocupou o Planalto quanto pelo que se seguiu, onde passou a se apresentar como caixeiro-viajante internacional a serviço dessas empresas, não se pode prever o que nele respingará da apuração sobre as tenebrosas transações que virão a público.
E é isto que anda tirando o sono de Lula. Ver Okamoto, seu histórico carregador de malas, convocado pela CPI da Petrobras já o levou às raias de um ataque de nervos. E não por acaso. Como explicar os R$ 4,5 milhões de doações ao Instituto que ele transformou em via paralela de sua ação partidária, nos anos posteriores à sua saída do Planalto?
A tragédia resultante desse enredo de equívocos, estelionatos ideológicos e indefinidas transações paralelas é que, quanto mais evidente ficar a responsabilidade de Lula num final infeliz, não é só ele quem é derrotado. Irá de cambulhada, e por um bom tempo, toda uma concepção de que seria possível uma transformação qualitativa da realidade político-social do Brasil, com a chegada de um partido dito de esquerda ao poder. Ao fim, “são todos farinha do mesmo saco”.
Não por acaso, somos massacrados com uma crescente hegemonia de um pensamento conservador, reacionário e anti-humanista, “como nunca antes na história” da República ocorrera, de forma tão aguda.
Ou uma Frente de Esquerda, que conte com a adesão dos provenientes de uma ruptura orgânica e de base social do neoPT, para além daqueles que ao longo dos últimos anos não se renderam, se organiza de forma urgente e ativa, ou iremos todos juntos para um estágio longo na caixa de achados e perdidos da História.
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