Por Wladimir Pomar
Virou moda nos círculos influentes neoliberais exigir que o Brasil volte a negociar a ALCA, redirecione suas prioridades para os Estados Unidos e a Europa, e se engaje no Acordo do Pacífico. Para esses círculos, a economia norte-americana já teria retomado seu crescimento firme, indicando que a crise teria ficado para trás.
Para azar deles, as notícias do primeiro trimestre de 2015 sobre a economia do colosso do norte são nebulosas. Não tanto pelo inverno que já se foi, mas principalmente, segundo analistas locais, pela queda do preço do petróleo e pela valorização da moeda americana, que influem negativamente nas exportações e nos investimentos. Mais intrigante do que isso seria a queda do consumo das famílias norte-americanas, consumo que move dois terços da economia ianque.
Assim, ao invés do esperado crescimento de 3% no primeiro trimestre de 2015, propalado pelo Federal Reserve e pelo Departamento de Comércio, o que ocorreu foi uma queda que 0,7% do PIB. Nessas condições, apesar de os otimistas continuarem achando que a economia estadunidense chegará ao final do ano com um crescimento de mais de 2%, os mais realistas estão prevendo, na melhor das hipóteses, uma taxa de 0,8%.
Alguns indicadores apontam que os Estados Unidos devem continuar patinando em sua crise econômica, não tanto por problemas conjunturais, mas principalmente por questões estruturais. Em 2014 os salários subiram apenas 2,2%, indicando que o desemprego se tornou uma variável importante na definição dos preços no mercado de trabalho. A criação de novos postos de trabalho caiu cerca de 50%, em comparação com o primeiro trimestre de 2014. Assim, embora a gasolina esteja mais barata, isto não foi suficiente para compensar as perdas de emprego.
Os Estados Unidos projetaram a recuperação de sua economia tendo por base a expansão do gás de xisto na indústria de energia. No entanto, os problemas ambientais que essa expansão causou fizeram crescer os custos dos investimentos. Fato agravado pela queda do preço do petróleo no mercado internacional. Tornaram-se economicamente inviáveis os investimentos no setor, reduzindo-os em cerca de 25 bilhões de dólares em 2014.
Para complicar, a infraestrutura dos Estados Unidos está num intenso processo de deterioração. Ela exige investimentos. Mas o poder público não está em condições de supri-los, em virtude de seus déficits orçamentários e comerciais. E as empresas privadas não têm interesse nesses investimentos porque a rentabilidade oferecida é baixa. E é justamente aqui que reside a principal causa estrutural da crise norte-americana.
A rentabilidade, medida pela taxa média de lucro da economia dos Estados Unidos, colapsou. Para reverter tal situação, os capitais norte-americanos precisam obter lucros extras através da especulação financeira e/ou da transferência de suas plantas industriais para países de baixos salários.
Ambas as medidas são de alto risco. A especulação financeira é geradora de crises devastadoras, como a que teve início em 2008, se espalhou pela Europa, atingiu a maior parte dos países do mundo, e continua se arrastando até hoje. A transferência de plantas industriais promove desindustrialização e reduz a capacidade de geração nacional de riqueza. Nessas condições, as possibilidades de os Estados Unidos retomarem seu crescimento sustentado são pouco consistentes, apesar de boa parte dos capitais mundiais estarem acumulados ou centralizados em algumas poucas mãos norte-americanas.
Assim, o que os círculos brasileiros neoliberais propõem não passa de embuste. Ou de cegueira gerada em indivíduos colonizados pela miragem norte-americana.
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