quinta-feira, 4 de junho de 2015

Conversando com versos (142): "Inverno", de Mário de Andrade (1893-1945)



"Inverno"
Mário de Andrade



O vento reza um cantochão...
Meio-dia. Um crepúsculo indeciso
Gira, desde manhã, na paisagem funesta...
De noite tempestuou
chuva de neve e granizo...
Agora, com calma e paz.Somente o vento
Continua com seu oou...

Destacando-se na brancura
os últimos pinheiros da floresta,
ao vendaval pesado e lasso,
como que vão partir em debandada:
parece cada qual, com a cabeça dobrada,
uma interrogação arrojada no espaço.

O vento rosna um fabordão...

Qual um mármore plano de moimento,
silenciou o caminho. É a sepultura,
profana, sem unção,
onde, com a última violeta,
jaz a franca alegria do verão...

Há ventania, mas
Há solidão e paz.
Ninguém, Os derradeiros pios
voaram de manhãzinha; mas em breve
sepultaram-se na neve
mudos e frios.
Tudo alvo...apenas a tristeza preta
e o vento com seus roncos...
Ninguém.
 ̶  Alguém!
Olha, junto dos troncos,
um reflexo de baioneta.




Fonte: Dantas Motta. Mário de Andrade. Poesia. Coleção Nossos Clássicos (60). 2ª ed. Rio de Janeiro: Agir, 1969, pp.26/27


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