terça-feira, 5 de maio de 2015

Conversando com versos (132): "Gargalhada", de Cecília Meireles (1901-1964)



"Gargalhada”


HOMEM VULGAR! Homem de coração mesquinho!
Eu te quero ensinar a arte sublime de rir.
Dobra essa orelha grosseira, e escuta
o ritmo e o som da minha gargalhada:

Ah! Ah! Ah! Ah!
Ah! Ah! Ah! Ah!

Não vês?
É preciso jogar por escadas de mármores baixelas de ouro.
Rebentar colares, partir espelhos, quebrar cristais,
vergar a lâmina das espadas e despedaçar estátuas,
destruir as lâmpadas, abater cúpulas,
e atirar para longe os pandeiros e as liras...

O riso magnífico é um trecho dessa música 

                                                  [desvairada.

Mas é preciso ter baixelas de ouro,
compreendes?
- e colares, e espelhos, e espadas e estátuas.
E as lâmpadas, Deus do céu!
E os pandeiros ágeis e as liras sonoras e trêmulas...

Escuta bem:

Ah! Ah! Ah! Ah!
Ah! Ah! Ah! Ah!

Só de três lugares nasceu até hoje essa música 

                                                               [heroica:
do céu que venta,
do mar que dança,
e de mim.



Fonte: Meireles, Cecília. Obra poética. 3ª ed. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983, pp.91/92


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