Por Wladimir Pomar
A grande imprensa brasileira considerou matéria de manchete em caixa baixa, ou de página interna, a visita do primeiro-ministro chinês e os investimentos, de 53 bilhões de dólares, acordados com a parte brasileira. O que não impediu O Globo, em editorial de 21 de maio, de assumir um tom nacionalista, alertando para “cuidados nos negócios da China”.
É verdade que o editorialista reconheceu que o pacote de acordos “chega em providencial momento, quando o país padece de grave falta de investimentos, principalmente na infraestrutura”. Ou seja, a rigor, o famoso grau de investimento das agências de risco não é levado em conta pela China.
Porém, tirando isso, o resto são indagações e conselhos “nacionalistas”. Por exemplo, o editorial considera que será necessário “saber se o dinheiro vem mesmo”, lembrando o fracassado acordo com a Foxconn, de 2011. Claro que poderia ter lembrado, em sentido contrário, o acordo de 12 bilhões de dólares, com a Petrobras, e a participação chinesa no Campo de Libra. Mas, para que estragar o “ponto de interrogação” se um aspecto negativo pode ser bradado aos quatro ventos?
O editorialista se arvora, então, o direito de ser conselheiro.
Segundo ele, “é preciso ser realista”, pois Pequim já teria demonstrado saber “comprar na baixa”, socorrendo “os sufocados venezuelanos, os endividados argentinos” e, agora, apoiando o Brasil, “soterrado sob os escombros da ‘nova matriz macroeconômica’”.
Reconhece, mais uma vez, que se trata, “é certo, de uma oportunidade que não pode ser descartada”. Porém, acrescenta, “se os chineses têm um claro projeto de dimensões globais – garantir acesso a matérias-primas, ao menor custo possível -, Brasília precisa tirar o máximo que necessita e ter o seu plano também”.
Ainda segundo o editorial de O Globo, “será um erro histórico o Brasil se acomodar a uma aliança ‘colonial’ com os chineses: fornecedor de matérias-primas e importador de bens manufaturados... Por uma dessas ironias, mais uma, terá sido um governo do ‘anti-imperialista’ PT que consolidará laços com os chineses de ranço mercantilista, típicos de séculos passados, como aqueles com os quais metrópoles ataram o Brasil”.
Em contraposição, clama, “será decisivo... também modernizar a indústria, algo que o PT ‘desenvolvimentista’ impede, ao continuar com o sonho delirante da ‘substituição de importações’ ao estilo Geisel”, quando deveria “integrar a indústria brasileira a cadeias globais de produção”...
Sejamos sinceros: há plena razão quando diz que o Brasil precisa “ter o seu plano” e que “será decisivo... modernizar a indústria”. Essas são, realmente, posições patrióticas e nacionalistas. No entanto, ao acrescentar que a indústria brasileira “deve se integrar a cadeias globais de produção”, o jornalão destampa a verdadeira razão de seu falso nacionalismo e coloca à mostra seu viés colonizado.
A rigor, não há mais o que “integrar” ou “entregar”. A indústria “brasileira” que sobrou do desmonte neoliberal já está totalmente “entregue” a tais cadeias globais. Por exemplo, o Brasil não possui mais qualquer indústria automobilística de marca nacional. Algo quase idêntico ocorre com as indústrias do aço, química, máquinas agrícolas etc. etc. A desnacionalização da “indústria brasileira” é um fato incontestável. E qualquer tentativa de sair dessa submissão é logo acusada de “substituição de importações” ou outras adjetivações idênticas.
Na verdade, os jornalões como O Globo jamais se arvoraram defensores de uma política nacional de industrialização. Jamais chamaram a atenção para a atração desbragada e descontrolada de investimentos estrangeiros norte-americanos, europeus e japoneses, onde quer que pretendessem, e pelo tempo que desejassem ficar ou ir embora. Porém, diante dos investimentos chineses, “oportunidade que não pode ser descartada”, arvoram um nacionalismo torto para colocar obstáculos a seu prosseguimento. Por quê?
Porque, embora os chineses realmente necessitem de matérias primas de baixo custo, eles precisam, principalmente, e do ponto de vista global e estratégico, da multipolaridade e da multilateralidade mundiais. A China precisa ter como aliados uma série de países econômica, social e politicamente fortes. Nessas condições, investir na infraestrutura e na industrialização de nações como Brasil, Rússia, Índia, África do Sul, Angola, Argentina, Venezuela e outras faz parte de sua estratégia global para amortecer as pretensões expansionistas dos Estados Unidos, controlar as tensões internacionais e manter a paz.
Estas são as condições essenciais para a China continuar se desenvolvendo a um ritmo de 7% ao ano nos próximos 20 a 30 anos.
Essa política chinesa se choca com as visões colonizadas, pró-americanas, e de subordinação às cadeias globais de produção monopolizadas pelas corporações transnacionais. Choca-se ainda mais porque os chineses continuam repetindo que estão na primeira fase da construção de seu socialismo, e que talvez superem a economia norte-americana até 2030, um exemplo tido como perigoso. Para opor-se a isso, só restou a O Globo apresentar-se como nacionalista, adjetivo que sempre repudiou, e tentar alertar o Brasil dos “malefícios” contidos nos investimentos chineses.
Apesar disso, por uma dessas razões que a própria razão desconhece, o editorial está correto, como reconhecemos acima, ao afirmar que o Brasil precisa “ter o seu plano” e que “será decisivo... modernizar a indústria”. Mas, ao contrário de “entregar-se” às cadeias globais de produção, ou à tutela das corporações transnacionais, o plano do Brasil deve aproveitar-se da experiência de industrialização de países como Japão, Coréia do Sul, China, e Índia. Seu plano deve estar voltado para adensar suas próprias cadeias produtivas, elevar sua produtividade e sua competitividade, e ingressar no mercado global levando em conta o novo cenário de crise dos Estados Unidos e dos países desenvolvidos da Europa.
Uma industrialização desse tipo nada tem a ver com a “substituição de importações ao estilo Geisel”. O Brasil terá que aproveitar suas vantagens de matérias-primas minerais e agrícolas para poder importar muitas novas e altas tecnologias, abrir o mercado nacional à competição de novas empresas industriais internacionais e fabricar produtos que disputem com vantagem vários nichos do mercado internacional. Nesse processo, incorporando ciência e tecnologia à produção, o empresariado brasileiro, estatal e privado, terá que criar marcas próprias, que possam disputar o próprio mercado interno e as cadeias produtivas globais.
Para isso, a indústria brasileira precisa ser reestruturada, fazendo com que a parcela nacional ganhe espaço e se ombreie com a parcela multinacional, que hoje monopoliza ou oligopoliza a economia brasileira. O medo de O Globo é que os investimentos chineses participem positivamente desse processo. Como ninguém entenderá se o Brasil descartar tal oportunidade, o que lhe sobra é bancar o nacionalista e levantar bandeiras vermelhas. Estas, é lógico, como aviso de perigo.
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