sexta-feira, 6 de junho de 2014

Cenários sombrios nos esperam – W. Novaes



Por Leonardo Boff


“Quem acompanha no dia a dia o noticiário internacional e nacional da atualidade política, econômica e social não tem como não sentir a sensação de estarmos perdidos em meio a um tiroteio gigantesco, sem vislumbre de um caminho seguro. Por aqui, a impressão, além disso, é de uma corporação política descolada da realidade e da magnitude dos problemas, cuidando apenas dos interesses específicos e imediatos desta ou daquela porção do eleitorado que lhe interessa, para garantir a próxima eleição – quando não se trata mesmo de interesses financeiros pura e simplesmente.
Ainda há poucos dias, o Senado aprovou a criação de mais de 20 novos municípios no país, com populações mínimas de 20 mil habitantes no Sudeste e Sul, 12 mil no Nordeste, 6 mil no Norte e Centro-Oeste. E que ganharão essas novas unidades da Federação que já não pudessem ter como partes de outros municípios ? Simples: participação no Fundo dos Municípios, recursos para obras, talvez para empreiteiras que financiem campanhas eleitorais.
Tudo como sempre, num país que experimenta mudanças vertiginosas – como lembrou em artigo neste jornal (9/3) o ex-ministro Pedro Malan, ao enfatizar que em 60 anos a população brasileira aumentou de 160 milhões de pessoas. Fazem parte desses números assombrosos os futuros 42 milhões das regiões metropolitanas de São Paulo e Rio somadas – mais que toda a população do Canadá de hoje, que não chega a 40 milhões, embora seja o país com o segundo maior território, quase 10 milhões de quilômetros quadrados; tem pouco mais habitantes que a população rural brasileira de hoje, em torno de 30 milhões.
E nós ainda vamos crescer mais, até chegarmos perto de 230 milhões , segundo o IBGE (ESTADO, 30/8/13), e só deixaremos de crescer daí por diante para atingirmos 218,1 milhões em 2060. Mas quem está planejando o futuro de um país que, nesse ano, precisará ter três pessoas trabalhando para sustentar duas crianças e um aposentado ? Quem no mundo político estará pensando que, hoje já temos uma taxa de desemprego entre jovens extremamente alta e que poderá crescer mais ? Quem já planeja calculando que em 2030, em São Paulo, haverá mais idosos (21,4% da população ) que jovens (13,8%) ? Quem pensa, a propósito de idosos, nos absurdos índices de reajuste de aposentadorias para quem recebe mais que salário mínimo – e que vai vendo seus rendimentos decrescerem proporcionalmente de ano para ano, há décadas ? Como viverão esses idosos ? Como ajudarão os jovens ?
Melhor voltar a atenção para o mundo como um todo E lembrar que, segundo a ONU, vamos passar para 9 bilhões de pessoas em 2050, com a maior parte do crescimento populacional nos países menos desenvolvidos. Neles, a imensa maioria estará nos países mais pobres, onde mais aumentará a população (e hoje já há mais de um bilhão de pessoas em pobreza extrema, mais de 800 milhões passando fome, mais de 150 milhões de crianças, segundo a Organização para a Alimentação e a Agricultura – a FAO, da ONU -, com atraso no crescimento; e ainda se passará para 2 bilhões de miseráveis no mundo). Como prover de terras o indispensável crescimento da agricultura de alimentos, com a desertificação aumentando 60 mil quilômetros quadrados por ano ? Onde obter mais água se a agricultura já usa 70% dos recursos disponíveis ? Que fazer com a pecuária, onde esta parte considerável da emissão de metano, que contribui para mudanças do clima ? Levar o mundo a ter um telefone celular por pessoa, quase 50% ligados à internet, em 2014, em nada beneficiará a equação, com três quartos do planeta vivendo em cidades, mas paralisados – como nas metrópoles brasileiras – pelos congestionamentos.
Precisamos com urgência de novas estratégias, modernas, compatíveis com os tempos que teremos de enfrentar. A começar, no Brasil, por uma estratégia que privilegie nossa situação excepcional em termos de recursos naturais, recursos hídricos (mais de 10% do total do planeta), território. Mas uma estratégia que nos leve também a ter planejamento e ações adequados para enfrentar mudanças climáticas, que já provocam eventos problemáticos em mais de metade dos municípios.
Tudo isso exigirá, internamente e no plano global, uma nova ética, que nos conduza a uma nova economia, elimine o desperdício, a desigualdade escandalosa entre países, segmentos sociais, indivíduos. Não bastará confiar em que reduzir a população bastará ou bastaria. A taxa de natalidade brasileira já é inferior à taxa de reposição. Com o aumento da expectativa de vida e o grande número de mulheres em idade fértil, não se encontrará o equilíbrio apenas por aí.
Nada disso, entretanto, parece interessar a nossas campanhas políticas, eleitorais. Onde estão, por exemplo, planejamento e recursos para eliminar nosso escabroso panorama em matéria de saneamento básico, com quase 40% dos brasileiros sem terem suas casas ligadas a redes de esgotos, quase 10% sem água encanada ? Onde está a solução para lixões, onde vão parar pelo menos 50% dos resíduos ? Onde a adequação do sistema de saúde, em todos os níveis ? E a educação ? Não é para isso que se elegem governantes e legisladores ?
E ainda não sabemos como fazer com a perda de valores “tradicionais”, coletivos ou pessoais. Não se trata apenas de saber se eram “válidos” ou não. Mas nada se está colocando no lugar. O coletivo é substituído pela internet, que aponta para necessidades imediatas, específicas, grupais, sem projetos políticos. Os valores individuais simplesmente são trocados pela vontade momentânea dos indivíduos. Como ter projetos políticos coletivos ?
Mas não há como escapar. É fundamental saber que tudo vai mudar no mundo, queira-se ou não, goste-se ou não. “Sei que nada será como antes, amanhã ou depois de amanhã”, já disseram Milton Nascimento e Ronaldo Bastos. É preciso correr”.
Washington Novaes, “Nada será como antes, amanhã e depois de amanhã”: a sair em breve no Estado de São Paulo.


Fonte:



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