Por João Pedro Stedile
É de praxe aproveitarmos o período de final de ano
para sempre fazermos os balanços
críticos das derrotas, conquistas e avanços nos diferentes setores de
atividades de nossa sociedade.
Infelizmente, para os trabalhadores que vivem no
campo o balanço de 2013 não é nada otimista. Resumidamente poderíamos alinhavar
diversas derrotas que o movimento do capital nos impôs.
O processo de concentração da propriedade da terra
e da produção agrícola continua acelerado e os bens da natureza estão cada vez
mais concentrados nas mãos de menos capitalistas.
Houve uma avalanche de capital estrangeiro e
financeiro para controlar mais terras, mais água, mais usinas, mais
agroindústrias e praticamente todo comércio exterior das commodities agrícolas.
E alguns deles já estão comprando até o oxigênio de nossas florestas, nos
famosos títulos de crédito de carbono, depois revendidos nas bolsas européias
em troca da manutenção de sua poluição!
A Bancada ruralista, fiel escudeira dos interesses
dos capitalistas - sejam latifundiários ou empresas transnacionais -, depois de
nos impor no ano passado a derrota da revisão do código florestal, agora quer
colocar as mãos nas terras indígenas e impedir a lei de punição aos que ainda
praticam trabalho escravo. Além de quererem liberar as sementes transgênicas
terminator, que replantadas, não germinam e estão proibidas em todo mundo.
No Governo Dilma a hegemonia dos interesses do
agronegócio se consolida pela ação de diversos ministérios. Em ações contra os
povos indígenas, seja liberando venenos agrícolas, que estão proibidos na
maioria dos países; ou liberando polpudas verbas públicas, normatizando a
transferência e aplicação de crédito da poupança nacional para o agronegócio.
Na última safra foram deslocados 140 bilhões de
reais da poupança de todos brasileiros para que os fazendeiros produzissem
commodities para exportação. Assim como estão tentando passar a toque-de-caixa uma revisão no código de
mineração para entregar de vez nossas riquezas do subsolo para as grandes
empresas transnacionais.
E até mesmo o positivo programa do governo Lula,
como o PAA (programa de compra antecipada de alimentos dos camponeses), agora
está sob forte pressão dos gananciosos ruralistas, de olho na Conab.
A Reforma Agrária, entendida como medidas de
desapropriação de latifúndios para democratizar a terra, está completamente
paralisada. O governo Dilma desapropriou menos do que o último governo da
ditadura militar, o general Figueiredo. E mais de 100 mil famílias esperam
mofando, acampados nas beiras de estradas!
Tivemos o problema da seca do nordeste, que atingiu
milhões de camponeses e matou de fome e sede ao redor de dez milhões de cabeças
(bovino, caprino e ovino), enquanto as empresas americanas levaram 18 milhões
de toneladas do nosso milho para virar etanol nos Estados Unidos.
Os projetos de perímetros irrigados do nordeste
continuam servindo de fonte de lucro para grandes empreiteiras e entrega as
áreas irrigadas apenas para empresários, em detrimento dos camponeses da mesma
região.
Dos avanços ou pontos positivos, tivemos muito
pouco. Conquistamos do governo um Plano Nacional de Agroecologia, que será um
marco histórico. E avançamos com mais cursos superiores para jovens da Reforma
Agrária, no Pronera, e em outros convênios com universidades. E conquistamos o
programa mais médicos que levou assistência para milhares de brasileiros das
regiões rurais, aonde nenhum médico da classe média brasileira quiz ir.
Mas talvez, o mais importante que tenha acontecido
na luta de classes no campo durante o ano de 2013, é que aumentam as evidências
das contradições do agronegócio, com suas agressões ao meio ambiente, com uso
de agrotóxicos e com a manipulação dos preços dos alimentos.
E por outro lado, seguimos construindo uma ampla
unidade entre todos os movimentos sociais do campo, para um programa de
agricultura voltado para os interesses de todo povo.
E nas grandes cidades, os jovens foram nossa voz,
em pedir por mudanças e por um país melhor. Certamente nos somaremos a eles em
2014, exigindo uma reforma política e uma constituinte soberana, já que os
ouvidos das elites e dos três poderes seguem entupidos por sua estupidez.
Diretoria do
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