sexta-feira, 7 de março de 2014

Conversando com versos (48): "Poema para todas as mulheres", de Vinicius de Moraes (1913-1980)



 "Poema para todas as mulheres"


No TEU BRANCO SEIO eu choro.
Minhas lágrimas descem pelo teu ventre
E se embebedam do perfume do teu sexo.
Mulher, que máquinas és, que só me tens desesperado
Confuso, criança para te conter!
Oh, não feches os teus braços sobre a minha tristeza, não!
Ah, não abandones a tua boca à minha inocência, não!
Homem sou belo
Macho sou forte, poeta sou altíssimo
E só a pureza me ama e ela é em mim uma cidade
e tem mil e uma portas.

Ai! teus cabelos recendem à flor da murta
Melhor seria morrer ou ver-te morta
E nunca, nunca poder te tocar!
Mas, fauno, sinto o vento do mar roçar-me os braços
Anjo, sinto o calor do vento nas espumas
Passarinho, sinto o ninho nos teus pêlos...
Correi, correi, ó lágrimas saudosas
Afogai-me, tirai-me deste tempo
Levai-me para o campo das estrelas
Entregai-me depressa à lua cheia
Dai-me o poder vagaroso do soneto, dai-me a
iluminação das odes, dai-me o cântico dos cânticos

Que eu não posso mais, ai!
Que esta mulher me devora!
Que eu quero fugir, quero a minha mãezinha,
quero o colo de Nossa Senhora!


Fonte: Vinicius de Moraes.Poesia Completa e Prosa.Rio de Janeiro,Nova Aguilar,1981,pp.157/158.



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