sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

A "liberdade de imprensa" do Opus Dei



Por Altamiro Borges


Em artigo publicado na Folha desta segunda-feira (26), o jurista Ives Gandra reforça a cruzada contra a ideia da regulação democrática da mídia. Apesar da presidenta Dilma Rousseff e do seu ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini, já terem enfatizado que não pretendem discutir o "conteúdo" veiculado nas emissoras de rádio e tevê – mas sim a questão econômica dos monopólios midiáticos –, o renomado "doutor" insiste em afirmar que "a liberdade de imprensa está em perigo". O objetivo do artigo é o de confundir os leitores mais tacanhos. Mas qual a moral de Ives Gandra, representante da seita fascistóide Opus Dei, para bravatear sobre "liberdades"?

Segundo o jurista, a projeto que ainda nem foi apresentado visaria coibir a "a concentração de capital no controle" nos veículos de comunicação, sustentando que a "diluição desse controle entre outros participantes levaria a uma imprensa 'mais democrática'". Para o nobre advogado, porém, a badalada tese da livre concorrência capitalista não serve para o setor monopolizado da mídia. Ao defender a regulação econômica, a presidenta Dilma "pretende calar a imprensa". Sem esconder a sua oposição raivosa ao atual governo e às esquerdas, Ives Gandra vai ainda mais longe nos seus ataques.

Afirma que a proposta segue as experiências da Venezuela, da Argentina e de outras "semiditaduras". Diz que é uma continuidade do derrotado projeto de participação social, no qual "o governo tentou, com os denominados conselhos populares, criar um poder paralelo ao do Congresso Nacional". Ao final, Ives Gandra expõe toda sua visão conspirativa. Para ele, o governo pretende regular o setor apenas para esconder os seus podres e para evitar futuros desastres nas urnas:

"As últimas eleições demonstraram uma fragilização do PT, com uma presidente eleita por estreita margem de votos... Há muito o partido perdeu suas raízes de defensor da ética, convivendo hoje com o maior assalto público ao dinheiro do contribuinte. São bilhões de reais desviados, por culpa (omissão, negligência ou imperícia) ou por dolo (fraude ou má-fé), beneficiando correligionários e aliados, durante pelo menos dez anos, seja no caso do mensalão, seja no do petrolão. E a imprensa teve papel fundamental neste desventrar, ao lado da Polícia Federal e do Ministério Público, o maior escândalo da história do Brasil... Causa particular estranheza que, neste momento, em que o povo começa a descobrir como agiu o governo por culpa ou dolo, não faço avaliação prévia, no desvio do dinheiro público, venha-se novamente falar em controle indireto da imprensa".

Com mais esta "peça jurídica", Ives Gandra poderia até ser contratado pela Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), que está em plena campanha contra qualquer iniciativa que vise cumprir a Constituição Federal – explícita na "proibição de monopólios e oligopólios nos meios de comunicação". Ele também poderia reforçar a equipe de marqueteiros dos "éticos" do PSDB e do DEM, mestres no arquivamento de quaisquer denúncias de desvios de recursos públicos. Mas Ives Gandra já tem uma posição bem definida no Brasil. Ele é o principal porta-voz do Opus Dei, uma seita religiosa famosa por sua tradição "libertária". Veja abaixo um pouco da história deste grupo e tire suas próprios conclusões sobre a "coerência" do renomado jurista em defesa da liberdade:

***** 
A sinistra história do Opus Dei

O Opus Dei (do latim, Obra de Deus) foi fundado em outubro de 1928, na Espanha, pelo padre Josemaría Escrivá. O jovem sacerdote de 26 anos diz ter recebido a “iluminação divina” durante a sua clausura num mosteiro de Madri. Preocupado com o avanço das esquerdas no país, este excêntrico religioso, visto pelos amigos de batina como um “fanático e doente mental”, decidiu montar uma organização ultra-secreta para interferir nos rumos da Espanha. Segundo as suas palavras, ela seria “uma injeção intravenosa na corrente sanguínea da sociedade”, infiltrando-se em todos os poros de poder. Deveria reunir bispos e padres, mas, principalmente, membros laicos, que não usassem hábitos monásticos ou qualquer tipo de identificação.

Reconhecida oficialmente pelo Vaticano em 1947, esta seita logo se tornou um contraponto ao avanço das idéias progressistas na Igreja. Em 1962, o papa João 23 convocou o Concílio Vaticano II, que marca uma viragem na postura da Igreja, aproximando-a dos anseios populares. No seu fanatismo, Escrivá não acatou a mudança. Criticou o fim da missa rezada em latim, com os padres de costas para os fiéis, e a abolição do Index Librorum Prohibitorum, dogma obscurantista do século 16 que listava livros “perigosos” e proibia sua leitura pelos fiéis. “Este concílio, minhas filhas, é o concílio do diabo”, garantiu Escrivá para alguns seguidores, segundo relato do jornalista Emílio Corbiere no livro “Opus Dei: El totalitarismo católico”. 

O poder no Vaticano

Josemaría Escrivá faleceu em 1975. Mas o Opus Dei se manteve e adquiriu maior projeção com a guinada direitista do Vaticano a partir da nomeação do papa polonês João Paulo II. Para o teólogo espanhol Juan Acosta, “a relação entre Karol Wojtyla e o Opus Dei atingiu o seu êxito nos anos 80-90, com a irresistível acessão da Obra à cúpula do Vaticano, a partir de onde interveio ativamente no processo de reestruturação da Igreja Católica sob o protagonismo do papa e a orientação do cardeal alemão Ratzinger”. Em 1982, a seita foi declarada “prelazia pessoal” – a única existente até hoje –, o que no Direito Canônico significa que ela só presta contas ao papa, que só obedece ao prelado (cargo vitalício hoje ocupado por dom Javier Echevarría) e que seus adeptos não se submetem aos bispos e dioceses, gozando de total autonomia.

O ápice do Opus Dei ocorreu em outubro de 2002, quando o seu fundador foi canonizado pelo papa numa cerimônia que reuniu 350 mil simpatizantes na Praça São Pedro, no Vaticano. A meteórica canonização de Josemaría Escrivá, que durou apenas dez anos, quando geralmente este processo demora décadas e até séculos, gerou fortes críticas de diferentes setores católicos. Muitos advertiram que o Opus Dei estava se tornando uma “igreja dentro da Igreja”. Lembraram um alerta do líder jesuíta Vladimir Ledochowshy que, num memorando ao papa, denunciou a seita pelo “desejo secreto de dominar o mundo”. Apesar da reação, o papa João Paulo II e seu principal teólogo, Joseph Ratzinger, ex-chefe da repressora Congregação para Doutrina da Fé e atual papa Beto 16, não vacilaram em dar maiores poderes ao Opus Dei.

Vários estudos garantem que esta relação privilegiada decorreu de razões políticas e econômicas. No livro “O mundo secreto do Opus Dei”, o jornalista canadense Robert Hutchinson afirma que esta organização acumula uma fortuna de 400 bilhões de dólares e que financiou o sindicato Solidariedade, na Polônia, que teve papel central na débâcle do bloco soviético nos anos 90. O complô explicaria a sólida amizade com o papa, que era polonês e um visceral anticomunista. Já Henrique Magalhães, numa excelente pesquisa na revista A Nova Democracia, confirma o anticomunismo de Wojtyla e relata que “fontes da Igreja Católica atribuem o poder da Obra a quitação da dívida do Banco Ambrosiano, fraudulentamente falido em 1982”. 

O vínculo com os fascistas

Além do rigoroso fundamentalismo religioso, o Opus Dei sempre se alinhou aos setores mais direitistas e fascistas. Durante a Guerra Civil Espanhola, deflagrada em 1936, Escrivá deu ostensivo apoio ao general golpista Francisco Franco contra o governo republicano legitimamente eleito. Temendo represálias, ele se asilou na embaixada de Honduras, depois se internou num manicômio, “fingindo-se de louco”, antes de fugir para a França. Só retornou à Espanha após a vitória dos golpistas. Desde então, firmou sólidos laços com o ditador sanguinário Francisco Franco. “O Opus Dei praticamente se fundiu ao Estado espanhol, ao qual forneceu inúmeros ministros e dirigentes de órgãos governamentais”, afirma Henrique Magalhães.

Há também fortes indícios de que Josemaría Escrivá nutria simpatias por Adolf Hitler e pelo nazismo. De forma simulada, advogava as idéias racistas e defendia a violência. Na máxima 367 do livro Caminho, ele afirma que seus fiéis “são belos e inteligentes” e devem olhar aos demais como “inferiores e animais”. Na máxima 643, ensina que a meta “é ocupar cargos e ser um movimento de domínio mundial”. Na máxima 311, ele escancara: “A guerra tem uma finalidade sobrenatural... Mas temos, ao final, de amá-la, como o religioso deve amar suas disciplinas”. Em 1992, um ex-membro do Opus Dei revelou o que este havia lhe dito: “Hitler foi maltratado pela opinião pública. Jamais teria matado 6 milhões de judeus. No máximo, foram 4 milhões”. Outra numerária, Diane DiNicola, garantiu: “Escrivá, com toda certeza, era fascista”. 

Escrivá até tentou negar estas relações. Mas, no seu processo de ascensão no Vaticano, ele contou com a ajuda de notórios nazistas. Como descreve a jornalista Maria Amaral, num artigo à revista Caros Amigos, “ao se mudar para Roma, ele estimulou ainda mais as acusações de ser simpático aos regimes autoritários, já que as suas primeiras vitórias no sentido de estabelecer o Opus Dei com estrutura eclesiástica capaz de abrigar leigos e ordenar sacerdotes se deram durante o pontificado do papa Pio XII, por meio do cardeal Eugenio Pacelli, responsável por controverso acordo da Igreja com Hitler”. Outro texto, assinado por um grupo de católicas peruanas, garante que a seita “recrutou adeptos para a organização fascista ‘Jovem Europa’, dirigida por militantes nazistas e com vínculos com o fascismo italiano e espanhol”. 

Pouco antes de morrer, Josemaría Escrivá realizou uma “peregrinação” pela América Latina. Ele sempre considerou o continente fundamental para sua seita e para os negócios espanhóis. Na região, o Opus Dei apoiou abertamente várias ditaduras. No Chile, participou do regime terrorista de Augusto Pinochet. O principal ideólogo do ditador, Jaime Guzmá, era membro ativo da seita, assim como centenas de quadros civis e militares. Na Argentina, numerários foram nomeados ministros da ditadura. No Peru, a seita deu sustentação ao corrupto e autoritário Alberto Fujimori. No México, ajudou a eleger como presidente seu antigo aliado, Miguel de La Madri, que extinguiu a secular separação entre o Estado e a Igreja Católica. 

Infiltração na mídia

Para semear as suas idéias religiosas e políticas de forma camuflada, Escrivá logo percebeu a importância estratégica dos meios de comunicação. Ele mesmo gostava de dizer que “temos de embrulhar o mundo em papel-jornal”. Para isso, contou com a ajuda da ditadura franquista para a construção da Universidade de Navarra, que possuí um orçamento anual de 240 milhões de euros. Jornalistas do mundo inteiro são formados nos cursos de pós-graduação desta instituição. O Opus Dei exerce hoje forte influência sobre a mídia. Um relatório confidencial entregue ao Vaticano em 1979 pelo sucessor de Escrivá revelou que a influência da seita se estendia por “479 universidades e escolas secundárias, 604 revistas ou jornais, 52 estações de rádio ou televisões, 38 agências de publicidade e 12 produtores e distribuidoras de filmes”.

Na América Latina, a seita controla o jornal El Observador (Uruguai) e tem peso nos jornais El Mercúrio (Chile), La Nación (Argentina) e O Estado de S.Paulo. Segundo várias denúncias, ela dirige a Sociedade Interamericana de Imprensa, braço da direita na mídia hemisférica. No Brasil, a Universidade de Navarra é comandada por Carlos Alberto di Franco, numerário e articulista do Estadão, responsável pela lavagem cerebral semanal de Geraldo Alckmin nas famosas “palestras do Morumbi”. Segundo a revista Época, seu “programa de capacitação de editores já formou mais de 200 cargos de chefia dos principais jornais do país”. O mesmo artigo confirma que “o jornalista Carlos Alberto Di Franco circula com desenvoltura nas esferas de poder, especialmente na imprensa e no círculo íntimo do governador Geraldo Alckmin”. 

O veterano jornalista Alberto Dines, do Observatório da Imprensa, há muito denuncia a sinistra relação do Opus Dei com a mídia nacional. Num artigo intitulado “Estranha conversão da Folha”, critica seu “visível crescimento na imprensa brasileira. A Folha de S.Paulo parecia resistir à dominação, mas capitulou”. No mesmo artigo, garante que a seita “já tomou conta da Associação Nacional de Jornais (ANJ)”, que reúne os principais monopólios da mídia do país. Para ele, a seita não visa a “salvação das almas desgarradas. É um projeto de poder, de dominação dos meios de comunicação. E um projeto desta natureza não é nem poderia ser democrático. A conversão da Folha é uma opção estratégica, política e ideológica”.

A “santa máfia”

Durante seus longos anos de atuação nos bastidores do poder, o Opus Dei constituiu uma enorme fortuna, usada para bancar seus projetos reacionários – inclusive seus planos eleitorais. Os recursos foram obtidos com a ajuda de ditadores e o uso de máquinas públicas. “O Opus Dei se infiltrou e parasitou no aparato burocrático do Estado espanhol, ocupando postos-chaves. Constituiu um império econômico graças aos favores nas largas décadas da ditadura franquista, onde vários gabinetes ministeriáveis foram ocupados integralmente por seus membros, que ditaram leis para favorecer os interesses da seita e se envolveram em vários casos de corrupção, malversação e práticas imorais”, acusa um documento de católico do Peru. 

A seita também acumulou riquezas através da doação obrigatória de heranças dos numerários e do dizimo dos supernumerários e simpatizantes infiltrados em governos e corporações empresariais. Com a ofensiva neoliberal dos anos 90, a privatização das estatais virou outra fonte de receitas. Poderosas multinacionais espanholas beneficiadas por este processo, como os bancos Santander e Bilbao Biscaia, a Telefônica e empresa de petróleo Repsol, tem no seu corpo gerencial adeptos do Opus. 

Para católicos mais críticos, que rotulam a seita de “santa máfia”, esta fortuna também deriva de negócios ilícitos. Conforme denuncia Henrique Magalhães, “além da dimensão religiosa e política, o Opus Dei tem uma terceira face: da sociedade secreta de cunho mafioso. Em seus estatutos secretos, redigidos em 1950 e expostos em 1986, a Obra determina que ‘os membros numerários e supernumerários saibam que devem observar sempre um prudente silêncio sobre os nomes dos outros associados e que não deverão revelar nunca a ninguém que eles próprios pertencem ao Opus Dei’. Inimiga jurada da Maçonaria, ela copia sua estrutura fechada, o que frequentemente serve para encobrir atos criminosos”.

O jornalista Emílio Corbiere cita os casos de fraude e remessa ilegal de divisas das empresas espanholas Matesa e Rumasa, em 1969, que financiaram a Universidade de Navarra. Há também a suspeita do uso de bancos espanhóis na lavagem de dinheiro do narcotráfico e da máfia russa. O Opus Dei esteve envolvido na falência fraudulenta do banco Comercial (pertencente ao jornal El Observador) e do Crédito Provincial (Argentina). Neste país, os responsáveis pela privatização da petrolífera YPF e das Aerolineas Argentinas, compradas por grupos espanhóis, foram denunciados por escândalos de corrupção, mas foram absolvidos pela Suprema Corte, dirigida por Antonio Boggiano, outro membro da Opus Dei. No ano retrasado, outro numerário do Opus Dei, o banqueiro Gianmario Roveraro, esteve envolvido na quebra da Parlamat. 

“A Internacional Conservadora”

O escritor estadunidense Dan Brown, autor do best seller “O Código da Vinci”, não vacila em acusar esta seita de ser um partido de fanáticos religiosos com ramificações pelo mundo. O Opus Dei teria cerca de 80 milhões de fiéis, muitos deles em cargos-chaves em governos, na mídia e em multinacionais. Henrique Magalhães garante que a “Obra é vanguarda das tendências mais conservadoras da Igreja Católica”. Num livro feito sob encomenda pelo Opus Dei, o vaticanista John Allen confessa este poderio. Ele admite que a seita possui um patrimônio de US$ 2,8 bilhões – incluindo uma luxuosa sede de US$ 60 milhões em Manhattan – e que esta fortuna serve para manter as suas instituições de fachada, como a Heights School, em Washington, onde estudam os filhos dos congressistas do Partido Republicano de George W.Bush. 

Numa reportagem que tenta limpar a barra do Opus Dei, a própria revista Superinteressante, da suspeita Editora Abril, reconhece o enorme influência política desta seita. E conclui: “No Brasil, um dos políticos mais ligados à Obra é o candidato a presidente Geraldo Alckmin, que em seus tempos de governador de São Paulo costumava assistir a palestras sobre doutrina cristã ministradas por numerários e a se confessar com um padre do Opus Dei. Alckmin, porém, nega fazer parte da ordem”. Como se observa, o candidato segue à risca um dos principais ensinamentos do fascista Josemaría Escrivá: “Acostuma-se a dizer não”.

Os tentáculos no Brasil

No Brasil, o Opus Dei fincou a sua primeira raiz em 1957, na cidade de Marília, no interior paulista, com a fundação de dois centros. Em 1961, dada à importância da filial, a seita deslocou o numerário espanhol Xavier Ayala, segundo na hierarquia. “Doutor Xavier, como gostava de ser chamado, embora fosse padre, pisou em solo brasileiro com a missão de fortalecer a ala conservadora da Igreja. Às vésperas do Concílio Vaticano II, o clero progressista da América Latina clamava pelo retorno às origens revolucionárias do cristianismo e à ‘opção pelos pobres’, fundamentos da Teologia da Libertação”, explica Marina Amaral na revista Caros Amigos.

Ainda segundo seu relato, “aos poucos, o Opus Dei foi encontrando seus aliados na direita universitária... Entre os primeiros estavam dois jovens promissores: Ives Gandra Martins e Carlos Alberto Di Franco, o primeiro simpático ao monarquismo e candidato derrotado a deputado; o segundo, um secundarista do Colégio Rio Branco, dos rotarianos do Brasil. Ives começou a freqüentar as reuniões do Opus Dei em 1963; Di Franco ‘apitou’ (pediu para entrar) em 1965. Hoje, a organização diz ter no país pouco mais de três mil membros e cerca de quarenta centros, onde moram aproximadamente seiscentos numerários”.

Crescimento na ditadura

Durante a ditadura, a seita também concentrou sua atuação no meio jurídico, o que rende frutos até hoje. O promotor aposentado e ex-deputado Hélio Bicudo revela ter sido assediado duas vezes por juízes fiéis à organização. O expoente nesta fase foi José Geraldo Rodrigues Alckmin, nomeado ministro do STF pelo ditador Garrastazu Médici em 1972, e tio do atual presidenciável. Até os anos 70, porém, o poder do Opus Dei era embrionário. Tinha quadros em posições importantes, mas sem atuação coordenada. Além disso, dividia com a Tradição, Família e Propriedade (TFP) as simpatias dos católicos de extrema direita.

Seu crescimento dependeu da benção dos generais golpistas e dos vínculos com poderosas empresas. Ives Gandra e Di Franco viraram os seus “embaixadores”, relacionando-se com donos da mídia, políticos de direita, bispos e empresários. É desta fase a construção da sua estrutura de fachada – Colégio Catamarã (SP), Casa do Moinho (Cotia) e Editora Quadrante. Ela também criou uma ONG para arrecadar fundos: OSUC (Obras Sociais, Universitárias e Culturais). Esta recebe até hoje doações do Itaú, Bradesco, GM e Citigroup. Confrontado com esta denúncia, Lizandro Carmona, da OSUC, implorou à jornalista Marina Amaral: “Pelo amor de Deus, não vá escrever que empresas como o Itaú doam dinheiro ao Opus Dei”.

Ofensiva recente na região

Na fase recente, o Opus Dei está excitado, com planos ousados para conquistar maior poder político na América Latina. Em abril de 2002, a seita participou ativamente do frustrado golpe contra o presidente Hugo Chávez, na Venezuela. Um dos seus seguidores, José Rodrigues Iturbe, foi nomeado ministro das Relações Exteriores do fugaz governo golpista. A embaixada da Espanha, governada na época pelo neo-franquista Partido Popular (PP), de José Maria Aznar – cuja esposa é do Opus Dei –, deu guarita aos seus fiéis. Outro golpista ligado à seita, Gustavo Cisneiros, é megaempresário das telecomunicações no país.

Em dezembro do ano passado, o Opus Dei assistiu a derrota do seu candidato, Joaquim Laví, ex-assessor do ditador Augusto Pinochet, à presidência do Chile. Já em maio deste ano, colheu uma nova derrota com a candidatura de Lourdes Flores, declarada numerária do partido Unidade Nacional. Em compensação, a seita comemorou a vitória do narco-terrorista Álvaro Uribe na Colômbia, que também dispôs de milhões de dólares do governo George Bush. Já no México, outro conhecido simpatizante do Opus Dei, Felipe Calderon, ex-executivo da Coca-Cola, venceu uma das eleições mais fraudulentas da história deste país.

*****



Diretoria do Sepe Núcleo Rio das Ostras e Casimiro de Abreu
Sepe - Núcleo Rio das Ostras e Casimiro de Abreu
End.: Alameda Casimiro de Abreu, 292 – 3º and. Sl. 8 – Centro – Rio das Ostras
Tel.: (22) 2764-7730
Horário de Funcionamento: Segunda, Quarta e Sexta das 09h às 13h; Terça e Quinta das 
13h às 17h.
E-mail: sepe.riodasostrasecasimiro@gmail.com
Twitter: @sepeostras
Facebook: Perfil Sepe Rio das Ostras

Socialismo e igualitarismo


Por Wladimir Pomar


Cláudio Katz tem razão em dizer que a “implosão da URSS” teve um “enorme impacto sobre o cenário internacional e a consciência política dos trabalhadores”. No entanto, exagera em supor que tal implosão “constituiu o principal acontecimento das últimas décadas”, caracterizando a centúria passada como “século curto”, limitado pelo “surgimento e desaparecimento desse sistema (1917-1989)”. Para ele tal conceituação seria “mais adequada” do que a de “século longo”, porque esta “adota o auge e o declínio dos Estados Unidos como principal referência” e “perde de vista a transcendência da revolução russa”.


No entanto, Katz vai além ao dizer que também haveria tal perda de visão ao se atribuir “maior incidência... ao processo de descolonização do que à batalha por metas socialistas”. Em outras palavras, Katz parece acreditar que a “era das guerras imperialistas e das revoluções proletárias”, como a chamou Lênin, começou em 1917. No entanto, essa era teve início no final do século 19, com o surgimento do imperialismo, a eclosão de duas guerras mundiais, além de guerras regionais e o desenvolvimento global dos processos revolucionários que ocorreram até meados dos anos 1970. Essa era incluiu tanto revoluções socialistas quanto revoluções nacionais e democráticas, todas tendo incidência sobre “a batalha por metas socialistas”. A “implosão da URSS” talvez faça parte de outra era, que continuamos vivendo, mais complexa do que a anterior.


Para complicar, Katz parece considerar a existência de apenas um sistema socialista, desdenhando outras experiências ou outros sistemas socialistas. Na prática, ele parece acompanhar a visão das classes dominantes que apregoam haver perdido o medo do socialismo por acharem que o sistema socialista soviético, totalmente estatista, seria o único existente. Não por acaso, Katz deixa de examinar a China e o Vietnã como países socialistas. E estende a todas as clases dominantes a restauração dos mecanismos clássicos de sua opressão, “mediante a flexibilização laboral, a massificação do desemprego e o alargamento das brechas sociais”.


Que se saiba, tais mecanismos foram “restaurados” apenas nos chamados estados de bem-estar da socialdemocracia europeia. Jamais foram abandonados nos Estados Unidos e nos países periféricos dos terceiro e quarto mundos. Os “velhos argumentos antissocialistas de endeusamento do mercado, glorificação da competitividade e justificacão da precariedade laboral” jamais deixaram de ter primazia na maior parte dos países capitalistas. E muitos deles jamais deixaram de “impugnar” qualquer projeto não só “igualitário”, mas também “democrático-burguês”.


O fato de que os mecanismos burgueses tenham sido “assimilados por todos os socialdemocratas” é apenas uma demonstração de que os Estados de bem-estar eram tão somente uma tática para conter a “expansão comunista”. Finda a União Soviética, esse perigo teria se esvaído, tornando desnecessária tal tática. O que foi reforçado pela ilusão de que a globalização capitalista estaria imune às crises cíclicas e continuaria eternamente sua expansão. Pouca gente se deu conta de que a taxa média de lucro nos países capitalistas desenvolvidos tendia ao colapso. O que os obrigaria a acelerar a exportação de capitais, tanto na forma financeira quanto na forma de plantas industriais, para tentar elevar a qualquer custo a taxa média de lucratividade do capital.


Essa ação se tornou desesperada sob diferentes formas, desde os anos 1970. O capitalismo norte-americano inundou o mundo inteiro de dinheiro fictício, na forma de derivativos e outros papéis, quebrando os parques produtivos de diversos países da América Latina e da África, e subordinando-os a seu sistema financeiro. Ao mesmo tempo, aproveitou os baixos salários nominais de diversos países, principalmente da Ásia, para transferir para eles plantas industriais completas ou segmentadas, criando concorrentes e transformando-se de exportador em importador de manufaturados.


O capitalismo desenvolvido europeu também entrou na competição financeira com os capitais norte-americanos, mas tendo como principal área de canibalização de parques produtivos seu próprio entorno geográfico. Já o capitalismo japonês ingressou numa estagnação prolongada, sobrevivendo com o lucro excedente das empresas que relocalizaram suas plantas, e com os empréstimos que subsidiam os déficits orçamentário e comercial norte-americano. Nessas condições, era inevitável não só que o capitalismo norte-americano se confrontasse com uma crise financeira e econômica destrutiva, mas também que tal crise se estendesse depois para a Europa e rebatesse sobre o mundo todo.


Nesse sentido, Katz tem razão em dizer que foram “gigantescas” as “desordens financeiras, comerciais e produtivas”, a partir de 2008. E que o socorro concedido aos banqueiros com fundos públicos implicou em gastos desmedidos dos Estados. No entanto, mais uma vez ele exagera na dose ao supor que as ações do Estado capitalista tornaram inconsistentes “os argumentos direitistas contra o ‘socialismo estatista’”. Em todas as crises capitalistas, desde o século 19, os Estados burgueses têm praticado ingerências na economia. Jamais esconderam que visavam salvar única e exclusivamente a propriedade privada e avançar no desenvolvimento das forças produtivas e na lucratividade. Portanto, essa ingerência não se opõe a “projetos igualitários”. Ela visa induzir maior concentração e centralização do capital e crescente mercantilização corporativa global.


Ao invés de aumentar os “questionamentos” ao socialismo, a concentração e a centralização tornam o capital mais aceleradamente “social”, colocando à mostra a brutal contradição entre a produção social e sua apropriação privada. Objetivamente, a solução das crises capitalistas, com a participação do Estado, obriga os teóricos clássicos ou neoclássicos a revigorarem o combate a um fantasma que consideram fora do limbo, porque ele teima em aparecer como parte do desenvolvimento do próprio capitalismo.


Na crise atual, é difícil comprovar que a dinâmica competitiva que governa a todas as modalidades do capitalismo vai se impor igualmente por toda parte, com a primazia de sua vertente mais rentável. O capitalismo é global, mas ele tem assumido formas de desenvolvimento muito desiguais em cada país ou região, criando inúmeras contradições entre elas. O fato de que a política econômica alemã se aproxima da política econômica norte-americana apenas indica que as diferenças entre esses capitalismos são pontuais, como acontece com todos os demais. Mas não se pode esquecer que esses capitalismos somente podem encontrar saídas para as suas crises avançando em seu proceso de desenvolvimento e concorrendo entre si.


Nesse sentido, é preciso verificar que a desindustrialização dos Estados Unidos é muito mais grave do que a desindustrialização da Alemanha e da França. E que todos eles se sentem impelidos a continuar exportando capitais na forma financeira e na forma de plantas completas ou segmentadas, para países agrários e agrário-industriais. É por isso que emergiu o debate em torno de “capitalismo neoliberal” e “capitalismo regulado” como caminhos diferentes.

Mas chamar a Alemanha de “modelo social-intervencionista”, ou “capitalismo regulado”, e supor que um “capitalismo regulado” no Brasil seria do mesmo tipo, é não ver a diferença abissal que existe entre esses capitalismos. Enquanto na Alemanha o problema consiste em continuar exportando capitais para elevar a taxa média de lucros, no Brasil o problema consiste em importar capitais para reindustrializar o país. O que demanda uma regulação não só diferente, mas também oposta à praticada na Alemanha e nos Estados Unidos.


Achar que tal diferença é inexistente pode parecer teoricamente “avançado” por supostamente ser “contra o capitalismo” e “pró-socialista”. No entanto, apenas significa que se confundem as leis do desenvolvimento capitalista com a história da luta de classes. Assim, não é casual que Katz continue confundindo socialismo com igualitarismo. E, por isso, considere que “a crise em curso também socava as objeções que os economistas heterodoxos formulam ao socialismo”. Tais heterodoxos, a exemplo de Bresser Pereira, “contrapõem as desvantagens” do socialismo aos “méritos do capitalismo regulado”, modelo que superaria o descontrole neoliberal, sem padecer do estancamento gerado pelo estatismo socialista.


Nessa discussão entre “capitalismo regulado” e “socialismo”, mais uma vez nos vemos obrigados a lembrar que o “socialismo” não pode gerar “igualitarismo”. O igualitarismo que pressupõe atender todas as necesidades sociais, ou o atendimento a seres com necesidades desiguais, só pode ocorrer numa sociedade que possua forças produtivas desenvolvidas ao nível de suprir tais necesidades.


Por isso, toda vez que os socialistas tentaram estabelecer o igualitarismo, sem terem desenvolvido as forças produtivas, eles acabaram por estabelecer um “igualitarismo por baixo”, próprio das revoluções camponesas, apesar do empenho estatal. Isto é, estabeleceram o “igualitarismo da pobreza”, cujo resultado foi realmente o estancamento econômico e social. Bem vistas as coisas, tanto Katz quanto Bresser enxergam o socialismo com os mesmos óculos, embora por lentes diferentes.


Mas Katz tem razão ao dizer que “a crítica ao socialismo inspirada nas virtudes do capitalismo regulado” omite o reconhecimento das tendências contemporâneas. Também poderia ter dito que a crítica ao socialismo inspirada nas virtudes de qualquer tipo de capitalismo omite o reconhecimento das tendências contemporâneas. Tendências que incluem não só novas opções capitalistas às variantes neoliberais, mas também a luta de classes contra o capitalismo. Mesmo porque não é a crise capitalista, mas a luta de classes que pode definir um curso socialmente favorável.


Fonte:http://www.correiocidadania.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=10454:submanchete280115&catid=14:wladimir-pomar&Itemid=88



Diretoria do Sepe Núcleo Rio das Ostras e Casimiro de Abreu
Sepe - Núcleo Rio das Ostras e Casimiro de Abreu
End.: Alameda Casimiro de Abreu, 292 – 3º and. Sl. 8 – Centro – Rio das Ostras
Tel.: (22) 2764-7730
Horário de Funcionamento: Segunda, Quarta e Sexta das 09h às 13h; Terça e Quinta das 
13h às 17h.
E-mail: sepe.riodasostrasecasimiro@gmail.com
Twitter: @sepeostras
Facebook: Perfil Sepe Rio das Ostras

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Informe do Sepe para os que ainda não receberam seus benefícios




Os profissionais da rede estadual que não receberam os benefícios (auxílio alimentação e auxílio transporte) devem enviar o quanto antes cópia do contracheque para a secretaria do Sepe: secretaria@seperj.org.br.

Os documentos serão apresentados à SEEDUC para que seja exigido o pagamento imediato.



Diretoria do Sepe Núcleo Rio das Ostras e Casimiro de Abreu

Sepe - Núcleo Rio das Ostras e Casimiro de Abreu
End.: Alameda Casimiro de Abreu, 292 – 3º and. Sl. 8 – Centro – Rio das Ostras
Tel.: (22) 2764-7730
Horário de Funcionamento: Segunda, Quarta e Sexta das 09h às 13h; Terça e Quinta das 
13h às 17h.
E-mail: sepe.riodasostrasecasimiro@gmail.com
Twitter: @sepeostras
Facebook: Perfil Sepe Rio das Ostras

2015


Por Paulo Passarinho

                      

Sob o ponto de vista do governo, os objetivos são claros. Com o anúncio dos novos integrantes de sua equipe econômica, tendo à frente o economista Joaquim Levy, parece que a receita ortodoxa da “freada de arrumação” foi o caminho escolhido.

Dilma Rousseff, depois de perseguir a retomada do crescimento econômico durante os quatro anos do seu primeiro mandato, vê-se, talvez, surpreendida com os péssimos resultados colhidos: dependendo do dado preciso do PIB para esse ano de 2014 – que será péssimo, abaixo de 0,5% -, a média de crescimento anual do país neste período estará situada em uma faixa entre 1,5% e 2%, uma das mais baixas médias de toda a nossa história.

Além disso, outros resultados evidenciam problemas mais graves. Nossas contas externas, estruturalmente deficitárias no tocante a serviços e rendas, passam novamente a apresentar déficit na balança de comércio, agravando a nossa necessidade de atrair recursos pela conta de capital, através de empréstimos em moeda estrangeira ou viabilizando a entrada de capitais externos para aquisição de ativos, fixos ou financeiros, ampliando com isso o nosso passivo externo.

O grande problema é que temos uma conjuntura externa muito desfavorável para todos os países - como é o caso, infelizmente, do Brasil - que apostaram todas as suas fichas, nesses últimos anos de bonança do comércio internacional, na exportação de commodities agrícolas e minerais. Os preços desses produtos no mercado internacional vêm desabando, como consequência ainda da crise financeira de 2007/2008 e da desaceleração das economias asiáticas, tendo à frente a China.

Estas são apenas algumas das dificuldades a serem enfrentadas. Internamente, o realinhamento de preços no setor elétrico e dos combustíveis, o ajuste da taxa de câmbio – com a necessária desvalorização do real, buscando elevar a competitividade das exportações e estimulando o setor industrial –, além de medidas que reavivem o aumento da taxa de investimento na economia, são exemplos das complexas tarefas que este segundo mandato de Dilma terá de responder.

É a partir desse quadro que o receituário ortodoxo deverá ser avaliado. Joaquim Levy, o novo ministro da Fazenda, promete inicialmente prioridade no chamado ajuste fiscal. O objetivo seria promover uma reformulação fiscal da ordem de 50 bilhões de reais, entre medidas de aumento de receitas e cortes de despesas. Pelo lado da receita, fala-se na volta da cobrança da Cide (contribuição embutida no preço dos combustíveis), da CPMF, no aumento da alíquota de PIS/COFINS sobre importados e a elevação da tributação de importação de bens supérfluos.

Pelo lado das despesas, o foco será o rígido controle da expansão dos gastos correntes do governo federal, tendo na mira, mais uma vez, as despesas previdenciárias, os gastos de pessoal e programas sociais. Não é gratuita, por exemplo, a onda de uma série de estudos e projeções alarmantes sobre o suposto déficit da previdência, que voltam a ser apresentados na mídia dominante, procurando justificar a necessidade de uma nova rodada de mudanças nas atuais regras de aposentadorias do INSS.

Também estará sendo congelada a operação de transferências de recursos do Tesouro para os bancos públicos, o que trará inevitáveis impactos na dinâmica de investimentos no país. Esta é uma questão extremamente delicada, pois a chave do entendimento para o baixo crescimento atual – ou mesmo a estagnação econômica – encontra-se justamente na dificuldade de o país vir a ter taxas de investimento elevadas. Com a pífia participação do setor público, esta taxa tem oscilado entre 16% e 18%, muito aquém do que seria o necessário para um novo ciclo duradouro e sustentado de crescimento.

Para piorar ainda mais esse quadro, e frente ao agravamento da crise econômica internacional – com impactos mais graves em relação aos países exportadores de petróleo –, o Banco Central sinaliza que manterá a trajetória de elevação da taxa básica de juros, em um momento em que a expectativa é, também, para esse ano de 2015, do anúncio da elevação da taxa de juros nos Estados Unidos.

Essas medidas criarão ainda mais dificuldades para a aposta que o governo faz, de a retomada dos investimentos vir de decisões da esfera privada. O governo diagnostica que haveria uma crise de confiança do empresariado, mas o fato é que essas decisões privadas, de novos investimentos, vinculam-se sempre ao binômio segurança/rentabilidade e, nos dias atuais, com focos de incertezas globais, a rentabilidade dos negócios estritamente financeiros, ancorados na dívida pública, parece despertar muito mais o espírito animal dos capitalistas do que a suposta vontade genérica de um empreendedorismo produtivo.

Por tudo isso, infelizmente, parece que percorreremos uma trajetória que aguçará o nosso impasse político. O impasse representado por uma sociedade que se move na busca de novos horizontes – conforme as manifestações populares de junho de 2013 deixaram claro – ao mesmo tempo em que encontra um sistema político e um modelo econômico engessados.

Neste aspecto, os desdobramentos das investigações da Operação Lava Jato serão um vetor a mais na crise política de representação que vivemos. A tradição de um acordo por cima, buscando minimizar prejuízos e consequências aos poderosos interesses envolvidos, desta feita poderá não se concretizar. Ao mesmo tempo, a possível recessão econômica causada pelo ajuste prometido irá acelerar os conflitos de uma sociedade que, frustrada em seus anseios, exigirá – de alguma forma – mudanças substantivas na economia e na própria política que nos dominam.







Diretoria do Sepe Núcleo Rio das Ostras e Casimiro de Abreu
Sepe - Núcleo Rio das Ostras e Casimiro de Abreu
End.: Alameda Casimiro de Abreu, 292 – 3º and. Sl. 8 – Centro – Rio das Ostras
Tel.: (22) 2764-7730
Horário de Funcionamento: Segunda, Quarta e Sexta das 09h às 13h; Terça e Quinta das 
13h às 17h.
E-mail: sepe.riodasostrasecasimiro@gmail.com
Twitter: @sepeostras
Facebook: Perfil Sepe Rio das Ostras


Conversando com versos (105): "Crepuscular", de Raul de Leoni (1895-1926)



"Crepuscular"

Poente no meu jardim... O olhar profundo
Alongo sobre as árvores vazias,
Essas em cujo espírito infecundo
Soluçam silenciosas agonias.

Assim estéreis, mansas e sombrias,
Sugerem à emoção com que as circundo
Todas as dolorosas utopias
De todos os filósofos do mundo.

Sugerem... Seus destinos são vizinhos:
Ambas, não dando frutos, abrem ninhos
Ao viandante exânime que as olhe.

 Ninhos, onde vencidas de fadiga,
A alma ingênua dos pássaros se abriga
E a tristeza dos homens se recolhe...



Fonte: Leoni, Raul de. Luz Mediterrânea, 9ª ed. São Paulo: Livraria Martins, 1959, p.59



Diretoria do Sepe Núcleo Rio das Ostras e Casimiro de Abreu
Sepe - Núcleo Rio das Ostras e Casimiro de Abreu
End.: Alameda Casimiro de Abreu, 292 – 3º and. Sl. 8 – Centro – Rio das Ostras
Tel.: (22) 2764-7730
Horário de Funcionamento: Segunda, Quarta e Sexta das 09h às 13h; Terça e Quinta das 
13h às 17h.
E-mail: sepe.riodasostrasecasimiro@gmail.com
Twitter: @sepeostras
Facebook: Perfil Sepe Rio das Ostras

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Estamos à beira da total auto-destruição? Noam Chomsky



Por Leonardo Boff

Republico este artigo por um sentido de urgência e mais que tudo por um imperativo ético. Podemos nos auto-destuir. Já a partir dos anos 80 do século passado venho falando e escrevendo no Brasil e pelo mundo afora sobre o trágico fato de que construimos uma máquina de morte com armas nucleares, químicas e biológicas que nos pode destruir totalmente, sem ficar ninguém para contar a história. Agora nos vem a palavra de Noam Chomsky, considerado pela revista Times o intelectual maior e mais influente dos Estados Unidos. Ele repete o mesmo discurso com vasta informação e dados somente possíveis de lá onde vive e trabalha no MIT. Oxalá despertemos antes que o Apocalipse aconteça. Cremos – mas isso é fé – que o Deus da vida, aquele que no livro da Sabedoria se apresena como como “o apaixonado amante da vida (Sb 11, 26) não o permitirá, sabe lá por que meios que de seu desígnio que é de amor, venha utilizar. Suspeito que seja uma crise de proporções planetárias que chegue ameaçar a todos, ricos e pobres, ocidentais e orientais, de desaparecimento completo da face da Terra. Aí talvez acordaremos e optemos pela vida e não pela auto-destruição. Então, espero, haverá uma governança global, com uma cultura que ama e cuida da vida em todas as suas formas, especialmente daquelas mais penalizadas historicamente. Então será a Terra da Boa Esperança e da Alegria de todos os homens: LBoff

***********************

O que o futuro trará? Uma postura razoável seria tentar olhar para a espécie humana de fora. Então imagine que você é um extraterrestre observador que está tentando desvendar o que acontece aqui ou, imagine que és um historiador daqui a 100 anos – assumindo que existam historiadores em 100 anos, o que não é óbvio – e você está olhando para o que acontece. Você veria algo impressionante.

Pela primeira vez na história da espécie humana, desenvolvemos claramente a capacidade de nos destruirmos. Isso é verdade desde 1945. Agora está finalmente sendo reconhecido que existem mais processos de longo-prazo como a destruição ambiental liderando na mesma direção, talvez não à destruição total, mas ao menos à destruição da capacidade de uma existência decente.

E existem outros perigos como pandemias, as quais estão relacionadas à globalização e interação. Então, existem processos em curso e instituições em vigor, como sistemas de armas nucleares, os quais podem levar à explosão ou talvez, extermínio, da existência organizada.

Como destruir o planeta sem tentar muito

A pergunta é: O que as pessoas estão fazendo a respeito? Nada disso é segredo. Está tudo perfeitamente aberto. De fato, você tem que fazer um esforço para não enxergar.

Houveram uma gama de reações. Têm aqueles que estão tentando ao máximo fazer algo em relação à essas ameaças, e outros que estão agindo para aumentá-las. Se olhar para quem são, esse historiador futurista ou extraterrestre observador veriam algo estranho. As sociedades menos desenvolvidas, incluindo povos indígenas, ou seus remanescentes, sociedades tribais e as primeiras nações do Canadá, que estão tentando mitigar ou superar essas ameaças. Não estão falando sobre guerra nuclear, mas sim desastre ambiental, e estão realmente tentando fazer algo a respeito.

De fato, ao redor do mundo – Austrália, Índia, América do Sul – existem batalhas acontecendo, às vezes guerras. Na Índia, é uma guerra enorme sobre a destruição ambiental direta, com sociedades tribais tentando resistir às operações de extração de recursos que são extremamente prejudiciais localmente, mas também em suas consequências gerais. Em sociedades onde as populações indígenas têm influência, muitos tomam uma posição forte. O mais forte dos países em relação ao aquecimento global é a Bolívia, cuja maioria é indígena e requisitos constitucionais protegem os “direitos da natureza”.

O Equador, o qual também tem uma população indígena ampla, é o único exportador de petróleo que conheço onde o governo está procurando auxílio para ajudar a manter o petróleo no solo, ao invés de produzi-lo e exportá-lo – e no solo é onde deveria estar.

O presidente Venezuelano Hugo Chávez, que morreu recentemente e foi objeto de gozação, insulto e ódio ao redor do mundo ocidental, atendeu a uma sessão da Assembléia Geral da ONU a poucos anos atrás onde ele suscitou todo tipo de ridículo ao chamar George W. Bush de demônio. Ele também concedeu um discurso que foi interessante. Claro, Venezuela é uma grande produtora de petróleo. O petróleo é praticamente todo seu PIB. Naquele discurso, ele alertou dos perigos do sobreuso dos combustíveis fóssil e sugeriu aos países produtores e consumidores que se juntassem para tentar manejar formas de diminuir o uso desses combustíveis. Isso foi bem impressionante da parte de um produtor de petróleo. Você sabe, ele era parte índio, com passado indígena. Esse aspecto de suas ações na ONU nunca foi reportado, diferentemente das coisas engraçadas que fez.

Então, em um extremo têm-se os indígenas, sociedades tribais tentando amenizar a corrida ao desastre. No outro extremo, as sociedades mais ricas, poderosas na história da humanidade, como os EUA e o Canadá, que estão correndo em velocidade máxima para destruir o meio ambiente o mais rápido possível. Diferentemente do Equador e das sociedades indígenas ao redor do mundo, eles querem extrair cada gota de hidrocarbonetos do solo com toda velocidade possível.

Ambos partidos políticos, o presidente Obama, a mídia, e a imprensa internacional parecem estar olhando adiante com grande entusiasmo para o que eles chamam de “um século de independência energética” para os EUA. Independência energética é quase um conceito sem significado, mas botamos isso de lado. O que eles querem dizer é: teremos um século no qual maximizaremos o uso de combustíveis fóssil e contribuiremos para a destruição do planeta.

E esse é basicamente o caso em todo lugar. Admitidamente, quando se trata de desenvolvimento de energia alternativa, a Europa está fazendo alguma coisa. Enquanto isso, os EUA, o mais rico e poderoso país de toda a história do mundo, é a única nação dentre talvez 100 relevantes que não possui uma política nacional para a restrição do uso de combustíveis fóssil, e que nem ao menos mira na energia renovável. Não é por que a população não quer. Os americanos estão bem próximos da norma internacional com sua preocupação com o aquecimento global. Suas estruturas institucionais que bloqueiam a mudança. Os interesses comerciais não aceitam e são poderosos em determinar políticas, então temos um grande vão entre opinião e política em muitas questões, incluindo esta. Então, é isso que o historiador do futuro veria. Ele também pode ler os jornais científicos de hoje. Cada um que você abre tem uma predição mais horrível que a outra.

“O momento mais perigoso na história”

A outra questão é a guerra nuclear. É sabido por um bom tempo, que se tivesse que haver uma primeira tacada por uma super potência, mesmo sem retaliação, provavelmente destruiria a civilização somente por causa das consequências de um inverno-nuclear que se seguiria. Você pode ler sobre isso no Boletim de Cientistas Atômicos. É bem compreendido. Então o perigo sempre foi muito pior do que achávamos que fosse.

Acabamos de passar pelo 50o aniversário da Crise dos Mísseis Cubanos, a qual foi chamada de “o momento mais perigoso na história” pelo historiador Arthur Schlesinger, o conselheiro do presidente John F. Kennedy. E foi. Foi uma chamada bem próxima do fim, e não foi a única vez tampouco. De algumas formas, no entanto, o pior aspecto desses eventos é que a lições não foram aprendidas.

O que aconteceu na crise dos mísseis em outubro de 1962 foi petrificado para parecer que atos de coragem e reflexão eram abundantes. A verdade é que todo o episódio foi quase insano. Houve um ponto, enquanto a crise chegava em seu pico, que o Premier Soviético Nikita Khrushchev escreveu para Kennedy oferecendo resolver a questão com um anuncio publico de retirada dos mísseis russos de Cuba e dos mísseis americanos da Turquia. Na realidade, Kennedy nem sabia que os EUA possuíam mísseis na Turquia na época. Estavam sendo retirados de todo modo, porque estavam sendo substituídos por submarinos nucleares mais letais, e que eram invulneráveis.

Então essa era a proposta. Kennedy e seus conselheiros consideraram-na – e a rejeitaram. Na época, o próprio Kennedy estimava a possibilidade de uma guerra nuclear em um terço da metade. Então Kennedy estava disposto a aceitar um risco muito alto de destruição em massa afim de estabelecer o princípio de que nós – e somente nós – temos o direito de deter mísseis ofensivos além de nossas fronteiras, na realidade em qualquer lugar que quisermos, sem importar o risco aos outros – e a nós mesmos, se tudo sair do controle. Temos esse direito, mas ninguém mais o detém.

No entanto, Kennedy aceitou um acordo secreto para a retirada dos mísseis que os EUA já estavam retirando, somente se nunca fosse à publico. Khrushchev, em outras palavras, teve que retirar abertamente os mísseis russos enquanto os EUA secretamente retiraram seus obsoletos; isto é, Khrushchev teve que ser humilhado e Kennedy manteve sua pose de macho. Ele é altamente elogiado por isso: coragem e popularidade sob ameaça, e por aí vai. O horror de suas decisões não é nem mencionado – tente achar nos arquivos.

E para somar um pouco mais, poucos meses antes da crise estourar os EUA haviam mandado mísseis com ogivas nucleares para Okinawa. Eram mirados na China durante um período de grande tensão regional.

Bom, quem liga? Temos o direito de fazer o que quisermos em qualquer lugar do mundo. Essa foi uma lição daquela época, mas haviam outras por vir.

Dez anos depois disso, em 1973, o secretário de estado Henry Kissinger chamou um alerta vermelho nuclear. Era seu modo de avisar à Rússia para não interferir na constante guerra Israel-Árabes e, em particular, não interferir depois de terem informado aos israelenses que poderiam violar o cessar fogo que os EUA e a Rússia haviam concordado. Felizmente, nada aconteceu.

Dez anos depois, o presidente em vigor era Ronald Reagan. Assim que entrou na Casa Branca, ele e seus conselheiros fizeram com que a Força Aérea começasse a entrar no espaço aéreo Russo para tentar levantar informações sobre os sistemas de alerta russos, Operação Able Archer. Essencialmente, eram ataques falsos. Os Russos estavam incertos, alguns oficiais de alta patente acreditavam que seria o primeiro passo para um ataque real. Felizmente, eles não reagiram, mesmo sendo uma chamada estreita. E continua assim.

O que pensar das crises nucleares Iraniana e Norte-Coreana

No momento, a questão nuclear está regularmente nas capas nos casos do Irã e da Coréia do Norte. Existem jeitos de lidar com esse crise contínua. Talvez não funcionasse, mas ao menos tentaria. No entanto, não estão nem sendo consideradas, nem reportadas.

Tome o caso do Irã, que é considerado no ocidente – não no mundo árabe, não na Ásia – a maior ameaça à paz mundial. É uma obsessão ocidental, e é interessante investigar as razões disso, mas deixarei isso de lado. Há um jeito de lidar com a suposta maior ameaça à paz mundial? Na realidade existem várias. Uma forma, bastante sensível, foi proposta alguns meses atrás em uma reunião dos países não alinhados em Teerã. De fato, estavam apenas reiterando uma proposta que esteve circulando por décadas, pressionada particularmente pelo Egito, e que foi aprovada pela Assembléia Geral da ONU.

A proposta é mover em direção ao estabelecimento de uma zona sem armas nucleares na região. Essa não seria a resposta para tudo, mas seria um grande passo à frente. E haviam modos de proceder. Sob o patrocínio da ONU, houve uma conferência internacional na Finlândia dezembro passado para tentar implementar planos nesta trajetória. O que aconteceu? Você não lerá sobre isso nos jornais pois não foi divulgado – somente em jornais especialistas.

No início de novembro, o Irã concordou em comparecer à reunião. Alguns dias depois Obama cancelou a reunião, dizendo que a hora não estava correta. O Parlamento Europeu divulgou uma declaração pedindo que continuasse, assim como os estados árabes. Nada resultou. Então moveremos em direção a sanções mais rígidas contra a população Iraniana – não prejudica o regime – e talvez guerra. Quem sabe o que irá acontecer?

No nordeste da Ásia, é a mesma coisa. A Coréia do Norte pode ser o país mais louco do mundo. É certamente um bom competidor para o título. Mas faz sentido tentar adivinhar o que se passa pela cabeça alheia quando estão agindo feito loucos. Por que se comportariam assim? Nos imagine na situação deles. Imagine o que significou na Guerra da Coréia anos dos 1950’s o seu país ser totalmente nivelado, tudo destruído por uma enorme super potência, a qual estava regozijando sobre o que estava fazendo. Imagine a marca que deixaria para trás.

Tenha em mente que a liderança Norte Coreana possivelmente leu os jornais públicos militares desta super potência na época explicando que, uma vez que todo o resto da Coréia do Norte foi destruído, a força aérea foi enviada para a Coréia do Norte para destruir suas represas, enormes represas que controlavam o fornecimento de água – um crime de guerra, pelo qual pessoas foram enforcadas em Nuremberg. E esses jornais oficiais falavam excitadamente sobre como foi maravilhoso ver a água se esvaindo, e os asiáticos correndo e tentando sobreviver. Os jornais exaltavam com algo que para os asiáticos fora horrores para além da imaginação. Significou a destruição de sua colheita de arroz, o que resultou em fome e morte. Quão maravilhoso! Não está na nossa memória, mas está na deles.

Voltemos ao presente. Há uma história recente interessante. Em 1993, Israel e Coréia do Norte se moviam em direção a um acordo no qual a Coréia do Norte pararia de enviar quaisquer mísseis ou tecnologia militar para o Oriente Médio e Israel reconheceria seu país. O presidente Clinton interveio e bloqueou. Pouco depois disso, em retaliação, a Coréia do Norte promoveu um teste de mísseis pequeno. Os EUA e a Coréia do Norte chegaram então a um acordo em 1994 que interrompeu seu trabalho nuclear e foi mais ou menos honrado pelos dois lados. Quando George W. Bush tomou posse, a Coréia do Norte tinha talvez uma arma nuclear e verificadamente não produzia mais.

Bush imediatamente lançou seu militarismo agressivo, ameaçando a Coréia do Norte – “machado do mal” e tudo isso – então a Coréia do Norte voltou a trabalhar com seu programa nuclear. Na época que Bush deixou a Casa Branca, tinham de 8 a 10 armas nucleares e um sistema de mísseis, outra grande conquista neoconservadora. No meio, outras coisas aconteceram. Em 2005, os EUA e a Coréia do Norte realmente chegaram a um acordo no qual a Coréia do Norte teria que terminar com todo seu desenvolvimento nuclear e de mísseis. Em troca, o ocidente, mas principalmente os EUA, forneceria um reator de água natural para suas necessidades medicinais e pararia com declarações agressivas. Eles então formariam um pacto de não agressão e caminhariam em direção ao conforto.

Era muito promissor, mas quase imediatamente Bush menosprezou. Retirou a oferta do reator de água natural e iniciou programas para compelir bancos a pararem de manejar qualquer transação Norte Coreana, até mesmo as legais. Os Norte Coreanos reagiram revivendo seu programa de armas nuclear. E esse é o modo que se segue.

É bem sabido. Pode-se ler na cultura americana principal. O que dizem é: é um regime bem louco, mas também segue uma política do olho por olho, dente por dente. Você faz um gesto hostil e responderemos com um gesto louco nosso. Você faz um gesto confortável e responderemos da mesma forma.

Ultimamente, por exemplo, existem exercícios militares Sul Coreanos-Americanos na península Coreana a qual, do ponto de vista do Norte, tem que parecer ameaçador. Pensaríamos que estão nos ameaçando se estivessem indo ao Canadá e mirando em nós. No curso disso, os mais avançados bombardeiros na história, Stealth B-2 e B-52, estão travando ataques de bombardeio nuclear simulados nas fronteiras da Coréia do Norte.

Isso, com certeza, reacende a chama do passado. Eles lembram daquele passado, então estão reagindo de uma forma agressiva e extrema. Bom, o que chega no ocidente derivado disso tudo é o quão loucos e horríveis os líderes Norte Coreanos são. Sim, eles são. Mas essa não é toda a história, e esse é o jeito que o mundo está indo.

Não é que não haja alternativas. As alternativas somente não estão sendo levadas em conta. Isso é perigoso. Então, se me perguntar como o mundo estará no futuro, saiba que não é uma boa imagem. A menos que as pessoas façam algo a respeito. Sempre podemos.




Diretoria do Sepe Núcleo Rio das Ostras e Casimiro de Abreu
Sepe - Núcleo Rio das Ostras e Casimiro de Abreu
End.: Alameda Casimiro de Abreu, 292 – 3º and. Sl. 8 – Centro – Rio das Ostras
Tel.: (22) 2764-7730
Horário de Funcionamento: Segunda, Quarta e Sexta das 09h às 13h; Terça e Quinta das 
13h às 17h.
E-mail: sepe.riodasostrasecasimiro@gmail.com
Twitter: @sepeostras
Facebook: Perfil Sepe Rio das Ostras

A crise socialista



Por Wladimir Pomar


Cláudio Katz, no texto a que fizemos referência no comentário anterior, considera que a adesão massiva ao que chama “projeto de emancipação” começou a claudicar com o levante na Hungria, as tensões sino-soviéticas, a rebelião do Solidariedade na Polônia, o sufocamento da Primavera Tchecoeslovaca e o questionamento dos regimes vigentes no bloco socialista. Ou seja, para ser mais preciso, começou a claudicar já nos anos 1950, década em que paradoxalmente, segundo ele, a balança se inclinava a favor dos sistemas não capitalistas, tanto nas taxas de crescimento quanto nos índices de desenvolvimento humano.

Katz afirma que tal balança era favorável porque a Rússia estaria “melhor do que a Turquia”, a China avançaria “mais do que a Índia” e a Europa do Leste não padeceria as desgraças da América Latina”. Embora nada disso queira dizer muito, ele considera que os resultados comparativos seriam “contundentes”, não só no PIB per capita, mas especialmente na qualidade de vida. As diferenças seriam evidentes no terreno da saúde (expectativa de vida) e da educação (níveis de alfabetização e escolaridade). Mesmo assim, a URSS e os países socialistas do leste europeu ruíram 30 a 40 anos depois.

Essa derrocada, e o consequente predomínio do neoliberalismo, teriam marcado “um giro radical em todas as tentativas de forjar uma sociedade pós-capitalista”. Para Katz, as causas dessa viragem residiriam nos “processos políticos”. Os governantes dos regimes socialistas não teriam apostado num “desenvolvimento comunista da sociedade”. Teriam visado sua “própria conversão em burgueses”, por “invejarem” (sic) o conforto dos milionários ocidentais e idealizarem o estilo de vida norte-americano.

Converteram-se em capitalistas, abandonando o “incômodo da maquiagem socialista”. A maioria da população preferia as “melhorias sociais alcançadas”, mas “se manteve inativa e tolerou a virada para o capitalismo”, “em virtude de décadas de desmobilização e despolitização cidadã”. A “apatia popular” teria resultado de “censuras e proibições” que a generalizaram. Por isso, “ninguém defendeu as conquistas sociais do velho sistema” quando este se autodestruiu. O “sufocamento burocrático da atividade popular” teria sido a principal causa da restauração capitalista.

Convenhamos que a equação de Katz não fecha. Ora ele fala de levantes, tensões, rebeliões, revoltas populares. Depois, da “inveja” da riqueza capitalista e a conversão dos dirigentes, apesar das conquistas sociais. Finalmente, da desmobilização, apatia e despolitização da população em virtude do sufocamento burocrático. Porém, last but not least, acrescenta ainda a baixa produtividade, o desabastecimento e a variedade escassa de bens de consumo. Afirma, porém, não ter havido qualquer drama de desemprego, endividamento pessoal ou exploração esgotante como a que assola os trabalhadores do Ocidente. Em vista disso, decreta que os problemas econômicos teriam ocupado um “lugar secundário”, embora os integrantes do bloco socialista não tenham logrado “consumar o catch up em relação às economias centrais”.

A “competição” da União Soviética frente aos Estados Unidos também não teria desempenhado qualquer papel importante porque a Rússia era uma “economia semiperiférica em desenvolvimento acelerado”. Ela teria suportado o fustigamento sistemático da principal potência do planeta, mas os dois países jamais teriam estado num mesmo plano. A guerra fria é que teria apresentado ambos como competidores equivalentes. E a aceitação dessa distorção pelos governantes russos teria diluído a diferença qualitativa que separava as duas economias. No entanto, para ser mais preciso, teria sido útil dizer que “competição” que os russos aceitaram era uma corrida armamentista nuclear, cujos custos foram incalculáveis.

Diante de todos esses argumentos, é preciso dizer que o primeiro erro de Katz consiste em não tratar corretamente a contradição entre a realidade de “economias semiperiféricas e periféricas” e a pretensão subjetiva de forjar “sociedades pós-capitalistas”. Ou seja, a contradição entre economias de desenvolvimento capitalista incompleto (Rússia, Tchecoslováquia), ou de desenvolvimento capitalista incipiente (China, Vietnã, Polônia etc) e a pretensão de nelas construir o comunismo ou o socialismo. Isto é, construir sociedades capazes de suprir as necessidades materiais e culturais de todos os seus membros ou, pelo menos, fornecer a cada um de acordo com seu trabalho.

Na prática, todos os países socialistas tentaram fazer o que os populistas (narodniks) russos defendiam: saltar sobre o capitalismo, evitando seus males. Marx discutiu essa impossibilidade com um dos seus principais dirigentes, Danielson, que traduziu O Capital para o russo. Lênin também tentou resolver o problema da revolução na semiperiferia através da Nova Política Econômica – NEP. Esta pressupunha a ação capitalista, sob tutela do Estado socialista, para desenvolver as forças produtivas. Além disso, ao contrário do que Katz afirma, em alguns casos (China, principalmente) houve ideologização, politização e mobilizações massivas para construir uma sociedade pós-capitalista. No entanto, tal tentativa se esvaiu porque, como dizia Marx, nenhuma sociedade sai da cena da história sem haver esgotado todas as suas possibilidades.

No caso da China (1978-80) e do Vietnã (1985-89), não foram apenas suas experiências extremas e esgotadas de politização e mobilizações massivas para construir uma sociedade pós-capitalista que os levaram a tentar outro caminho. Foi também a crescente crise sistêmica da economia política soviética que os fizeram projetar retiradas estratégicas e tentar, em escala muito mais ampla, o mesmo tipo de política tentada por Lênin na jovem União Soviética. Política que, em termos sucintos, visou resolver os problemas de produtividade, desabastecimento e variedade escassa de bens de consumo. Problemas que emperravam o desenvolvimento das forças produtivas e as condições de suprir as grandes massas do povo com os bens materiais e culturais demandados por elas.

Tanto os chineses quanto os vietnamitas e, agora, os cubanos, deram-se conta de que a economia política é o centro do problema de construção socialista em países atrasados. Por um lado, as forças produtivas precisam desenvolver-se. Para isso, precisam contar com diferentes tipos de propriedade, inclusive capitalistas, e com o mercado, para promover a circulação e a distribuição da produção. Liquidar a propriedade privada e o mercado não pode ser um ato administrativo. Depende do esgotamento do papel histórico dessas relações sociais. Por outro lado, é fundamental que o Estado não mude sua natureza socialista. Isto é, mantenha as empresas estatais das áreas estratégicas como instrumentos de orientação de toda a economia, e trate da geração do emprego e da redistribuição da renda como pontos fundamentais para contar com o apoio popular.

Apesar dessa retirada estratégica no sentido de aproveitar o capitalismo para desenvolver as forças produtivas, isso nada tem a ver com o pensamento de Hayek sobre o socialismo como um sistema que anula, através do Estado, o funcionamento natural da economia. O próprio capitalismo, através de Keynes, já havia demonstrado a necessidade do Estado para salvá-lo das crises cíclicas. Portanto, o Estado pode conquistar “autonomia” em situações em que, mesmo sob a hegemonia da burguesia, esta não sabe como salvar-se. E essa “autonomia” do Estado pode ser praticada ainda com mais vigor diante da burguesia se ele estiver sob a hegemonia dos trabalhadores.

A planificação estatal pode combinar-se com o mercado, ao contrário do que supunha Hayek, para orientar o funcionamento natural da economia. As empresas públicas (estatais e de outros tipos) devem competir com as empresas capitalistas e entre si, não só para estimular a produtividade e a concorrência, mas também para evitar o monopólio, em qualquer de suas manifestações. Com isso, as forças produtivas podem desenvolver-se de forma menos caótica do que no capitalismo, e a riqueza gerada pelo trabalho pode ser distribuída de forma menos desigual. Paralelamente, como resultado mais importante desse processo, tal desenvolvimento cria uma classe operária mais numerosa.

Visto dessa perspectiva, o erro crasso do modelo soviético de socialismo, após desativar a NEP para realizar a industrialização acelerada e poder enfrentar o perigo anunciado de invasão nazista, consistiu em acreditar que o Estado poderia continuar substituindo o mercado no período pós-guerra. E em acreditar, ainda, que tal modelo estatista poderia ser aplicado em todos os países da semiperiferia e da periferia para construir um sistema pós-capitalista. Aliás, o mesmo erro em que incorre Katz. Nesses países, para construir o socialismo, o Estado joga o papel fundamental se tiver conteúdo socialista.

Mas, queiramos ou não, para desenvolver as forças produtivas e criar as condições de riqueza social que tornem possível mirar a possibilidade real de uma sociedade pós-capitalista, esse Estado terá que contar com o concurso de diferentes tipos de propriedade e do mercado. E só a participação ativa da nova classe operária, forjada nesse desenvolvimento e na luta de classes, pode garantir que o Estado não mudará sua natureza socialista.



Diretoria do Sepe Núcleo Rio das Ostras e Casimiro de Abreu
Sepe - Núcleo Rio das Ostras e Casimiro de Abreu
End.: Alameda Casimiro de Abreu, 292 – 3º and. Sl. 8 – Centro – Rio das Ostras
Tel.: (22) 2764-7730
Horário de Funcionamento: Segunda, Quarta e Sexta das 09h às 13h; Terça e Quinta das 
13h às 17h.
E-mail: sepe.riodasostrasecasimiro@gmail.com
Twitter: @sepeostras
Facebook: Perfil Sepe Rio das Ostras