segunda-feira, 13 de outubro de 2014

A vingança dos que foram preteridos: o segundo turno e o antipetismo


por Jung Mo Sung
Publicação Adital


Quando ocorreram as grandes mobilizações populares no ano passado, muitos analistas disseram que finalmente a onda de protestos que tinham ocorridos em muitas partes do mundo estava chegando ao Brasil. Alguns chegaram a dizer que estavam estranhando a "calmaria” no Brasil, enquanto pipocava pelo mundo as "primaveras árabes”, os movimentos dos indignados ...

Após a divulgação dos resultados desta eleição no Brasil e a definição de um congresso com tantos conservadores e outros ultraconservadores e fascistas, muitos se perguntam: para onde foram os frutos desses movimentos de protesto? Essa pergunta pressupõe que esses movimentos tinham uma pauta socialmente progressista ou de esquerda. O que é bastante questionável. Em todo caso, penso que estamos vivendo no Brasil uma guinada conservadora para direita ou o fortalecimento desses setores que também se verifica em outras partes do mundo.

Juntamente com esse "acertar os passos” com o resto do mundo, estamos vivendo também uma polarização em torno do PT: ou está a favor ou está contra. Polarização essa que já quase acostumamos ver nos Estados Unidos – o foco de atenção do nosso noticiário internacional– e também em diversos países da Europa. A Marina tentou se firmar como uma terceira via entre o PT e o PSDB, mas o desenrolar das negociações e de apoios após o primeiro turno mostra que o que realmente está comandando o jogo é a lógica da polarização: o anti-petismo une os mais diferentes grupos, incluindo o da Marina. No momento que escrevo, o PSB já anunciou o apoio formal ao Aécio (deixando socialistas como Erundina bastante desapontada – para dizer o mínimo– com a direção do partido); a REDE, da Marina, se definiu como anti-Dilma: estão liberados para escolher o voto, desde que não seja em Dilma/PT; e a Marina ainda não decidiu se apoia Aécio explicitamente ou assume também a posição da REDE.

Esta polarização que une quase todos os partidos contra o PT também aparece claramente na grande mídia. Todas as grandes empresas de comunicação, deixando para trás o dogma capitalista da concorrência, se uniram no aparente propósito de criar uma "euforia coletiva” em torno da culpa do PT e da inocência e capacidade salvadora do PSDB. A grande mídia está conseguindo alavancar o sentimento anti-PT, que em muitos grupos e casos se mostra de uma forma agressiva, visceral; até mesmo como vingança de algo não muito claro. Eu disse "alavancar”, pois penso que esse sentimento não foi criado do nada pela mídia. Ele já estava presente em setores significativos da sociedade, especialmente na classe alta e nos setores médios; a mídia o alavancou, amplificou e estendeu para outros grupos da sociedade.

O principal mote da acusação que catalisa e canaliza esse sentimento anti-PT é a corrupção. Entretanto, como disse ex-ministro do Supremo Joaquim Barbosa, há também processos contra o PSDB que não vão para frente e nem recebem cobertura da imprensa. É claro que isso não justifica o PT, mas o que quero apontar aqui é: foi construído um "canal” para dar vazão à essa raiva e, aproveitando o catalisado, dar vazão também a frustrações da vida que não tem nada a ver com o assunto. Mas, quando surge o momento de catarse, a racionalidade não conta, somente a eficiência do processo de "bode expiatório” sobre o qual despejamos todas nossas frustrações, sentimento de culpa e as raivas acumuladas.

Qual é o motivo de fundo que originou essa força "anti-Dilma/PT”? É uma pergunta complexa e muito difícil de responder. Mas, eu quero propor uma hipótese para uma das múltiplas causas, mas que considero uma das mais importantes. Quando Lula assumiu governo anunciou como seu grande objetivo fazer que todos os brasileiros comessem três refeições ao dia. Enquanto que quando Fernando Henrique assumiu governo anunciou que iria levar o Brasil (não todo o Brasil, porque não era possível, mas 60 milhões de brasileiros) para o Primeiro Mundo. E qual é o sonho de toda classe média? Claro que para a grande maioria não é que os pobres comam – mesmo que concordem com isso –, mas sim entrar no Primeiro Mundo e fazer parte da elite mundial. Na posse de Lula ficava claro para esses 60 milhões que o Brasil teria um novo rumo e que uma pessoa estranha ao seu ninho estava no comando do governo.

Por isso, Lula também teve muita oposição, mas o seu carisma e o crescimento econômico do Brasil, enquanto o resto do mundo passava por séria crise econômica, garantiram a sua reeleição e a eleição da Dilma. E o governo Dilma continuou na mesma direção e as suas principais "conquistas” – "minha casa, minha vida”, Prouni, Pronatec, ampliação da bolsa família ...— têm como destinatários os pobres. Isto é, os sonhos da classe média e da alta continuaram sendo colocados em segundo plano. Eles se sentiram preteridos nos últimos 12 anos. E esse sentimento é horrível para aqueles que sempre estiveram no topo das prioridades e atenções. Mas, não tinham força e nem muita vontade política para embate tão grande porque a economia ia bem e eles ganhavam dinheiro e realizavam seus sonhos. Não eram considerados os "queridinhos” da presidente, mas realizavam seus sonhos de consumo e de enriquecimento.

Com a diminuição no crescimento econômico, não há mais o que compensa a frustração e a raiva de não serem colocados com as pessoas mais importantes e prioritários para os governantes. Está criada uma situação em que se pode catalisar essa frustração – que de uma certa forma já aparece na participação da classe média nas manifestações do ano passado – e criar uma "unanimidade parcial” contra o PT; e não por algo propositivo. Toda unidade formada em torno de contra alguém/algo – mecanismo de bode expiatório –carece de uma proposta positiva para criar algo novo e melhor. Surge assim um momento ideal para um grupo mais organizado e hegemônico direcionar esse movimento para seus objetivos ocultos. E se esse grupo vencer a eleição, pelo que se anuncia, teremos o retorno do ideário neoliberal no Brasil, assim como está ocorrendo em outras partes do mundo.

No segundo turno, está em jogo mais do que uma simples eleição.




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