Conversando com versos (151): "Em segredo, porém, temos sede...", de Hermann Hesse (1877-1962)

“Em segredo, porém, temos sede..." 
Hermann Hesse

Grácil, toda espírito,

Com delicadeza de arabescos,

Nossa vida assemelha-se

À existência das fadas,

Que vai girando em bailados suaves.

Em redor do nada,

Ao qual sacrificamos

O ser e o presente.

Dos sonhos a beleza, joviais folguedos,

Como um hálito, em pura concordância;

Bem no fundo da tua superfície jovial,

Cintila o anseio pela noite,

Pelo sangue e a barbárie.

No vazio a girar, sem peias ou necessidades,

Vai livre a nossa vida,

Pronta sempre a folgar;

Em segredo, porém, temos sede de realidade,

Do gerar, do nascer,

Temos sede da dor e da morte.

Fonte: Hesse, Hermann. O Jogo das contas de vidro. 8ª ed. Rio de Janeiro: Record,s/d, p. 354.

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