sexta-feira, 24 de julho de 2015

Prestação de Contas – Gestão 2012/2015: Relação do Patrimônio, Relação de Documentação e Situação Financeira.


Rio das Ostras, 24 de julho de 2015.


Sepe Núcleo Rio das Ostras e Casimiro de Abreu


Prestação de Contas – Gestão 2012/2015


1) Relação do Patrimônio:

  • 1(um) computador desk top Positivo (torre, monitor, teclado, mouse e estabilizador)
  • 1(uma) impressora HP
  • 1(um) HD externo
  • 1(uma) mesa de computador
  • 1(um) armário de aço
  • 1(um) arquivo de aço
  • 1(uma) estante de aço
  • 1(uma) mesa de reunião
  • 4(quatro) cadeiras estofadas
  • 8(oito) cadeiras escolares
  • 10(dez) cadeiras de plástico
  • 1(um) aparelho de ar condicionado 12000 BTUs 
  • 02(dois) ventiladores
  • 1(uma) geladeira Consul
  • 1(um) armário de cozinha
  • 1(um) bebedouro elétrico
  • 1(um) forno elétrico
  • 1(uma) cafeteira elétrica
  • 1(um) no break
  • 1(uma) luminária de emergência
  • 1(um) roteador Multilaser
  • 1(uma) máquina fotográfica Nikon
  • 1(uma) secretária eletrônica Motorola 
  • 1(um) conjunto de miudezas de escritório
  • 1(um) conjunto de miudezas de cozinha
  • 1(um) conjunto de miudezas de banheiro

2) Relação de documentação:

  • 6(seis) pastas de arquivo contendo ofícios enviados e ofícios recebidos de 2010 a 23/06/2015.
  • 1(uma) pasta com fichas de filiação (rede estadual)
  • 1(uma) pasta com fichas de filiação (rede municipal de Rio das Ostras)
  • 1(uma) pasta com documentação do processo de seleção de funcionários
  • 8(oito) livros “Cotidiário”
  • 1(um) livro de atas de assembleias eleitorais e outros registros em cartório
  • 1(um) livro de presença em reuniões da diretoria
  • 1(um) livro de atas de reuniões da diretoria
  • 1(um) livro de presença em assembleias gerais
  • 1(um) livro de atas das assembleias gerais
  • 1(um) livro de ponto para funcionários
  • Diversas pastas contendo material do Departamento Jurídico
  • Balancetes (originais) de março de 2011 (Início da reorganização do Núcleo até 31/07/2015 (Término atual gestão).
  • 1(um) cartão magnético da conta Itaú
  • 07(sete) talões de cheque usados desde 06/12/2011 até 15/04/2015
  • 1(um) talão de cheques (em uso) de numeração AA-000461 a AA-000480
  • 1 (um) talão novo (não utilizado) de numeração AA-000481 a AA-00050
  • Planilha de controle de emissão de cheques com datas de 06/12/2011 a 31/07/2015 (Término atual gestão).
  • 1(uma) pasta contendo CD com programa de Plano de Contas mensais e para informatizar os balancetes.
  • 1(uma) pasta contendo os balancetes informatizados de agosto de 2012 (início da atual gestão) até 30/06/2015.
  • 1(uma) pasta com processo e documentação do Alvará da sede

  • 1(uma) Pasta contendo: 
    - Estatuto do Sepe/RJ (autenticado e cópias)
    - Ata de assembleia geral do Sepe/RJ de criação do Núcleo Rio das Ostras e         Casimiro
    - Ata de posse da diretoria e gestão 2012/2015 (cópia autenticada)
    - Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica CNPJ do Núcleo
    - Certidão do Ministério do Trabalho e Emprego (autenticada e cópias)
    - Ata de posse da Comissão Provisória (30/8/2011 a 30/07/2012) (original e         cópia)
    - Ata de posse do Conselho Fiscal (2011/2012)
    - Ata de posse do Conselho Fiscal (2013/2015)
    - Relação dos extratos bancários (Itaú) do Núcleo de 30/5/2005 a                       07/11/2011
    - Contrato com Banco Itau (Ag.4852 Conta 05892-6)
    - Contrato com a Empresa I-Conecta (atualmente Sumicity) de internet
  • 17(dezessete) pastas-arquivo contendo materiais de campanha do Sepe
  • 11(onze) faixas de campanhas 
  • Chaves da sede (portaria, porta de entrada, arquivo, grade de aço)

3) Situação Financeira até 24/07/2015 (Término atual gestão).


   Último balancete concluído: 30/06/2015.

   Saldo bancário: R$ 49,23 em 24/07/2015

   Saldo de Caixa: R$ 2,88 em 24/07/2015


Diretoria do Sepe Núcleo Rio das Ostras e Casimiro de Abreu



GALERIA DE FOTOS DA ATUAL SEDE DO SEPE RIO DAS OSTRAS E CASIMIRO DE ABREU:















NOTA: COM A POSTAGEM DO DIA DE HOJE, 24/07/2015, ENCERRAM-SE OS TRABALHOS DA DIRETORIA DO SEPE NÚCLEO RIO DAS OSTRAS E CASIMIRO DE ABREU, GESTÃO 2012/2015.


Só a luta transforma a vida!


Diretoria do Sepe Núcleo Rio das Ostras e Casimiro de Abreu
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segunda-feira, 20 de julho de 2015

A internet e os limites da informação


Por Laurindo Lalo Leal Filho, na Revista do Brasil


O diário britânico The Guardian realizou, em 1994, um exercício de futurologia. Ofereceu aos leitores, em uma de suas edições, pequenos encartes do que poderia ser o jornal no ano 2004. Nele estariam selecionadas as notícias de forma personalizada e sintetizada, segundo o interesse de cada leitor. O acesso seria feito através de máquinas, semelhantes aos caixas eletrônicos, onde o interessado, de posse de um cartão magnético, imprimiria o seu exemplar exclusivo. Com uma sofisticação bem inglesa: a impressão seria feita sobre uma resina sintética à prova d’água para permitir a leitura na banheira.

Ainda estávamos longe da popularização da internet com suas novas formas de acesso à informação, e elucubrações como essas faziam algum sentido. A previsão, como constatamos hoje, furou, mas não totalmente. Se na forma ela foi atropelada por tablets e smarthphones, a ideia do conteúdo personalizado segue firme, rondando todos nós.

Pesquisa do Instituto Reuters realizada com 20 mil pessoas em 12 países, Brasil incluído, mostra que aos poucos as redes sociais vão se consolidando como intermediárias entre os meios tradicionais de comunicação e o público, com todas as consequências que isso possa ter, positivas ou negativas.

Em uma semana do mês de junho deste ano, “41% dos entrevistados usaram o Facebook para encontrar, ler, compartilhar ou comentar as informações, um aumento de seis pontos percentuais” em relação ao mesmo período no ano passado, ressalta o jornal francês Le Monde ao comentar a pesquisa, acrescentando que outras plataformas estão crescendo no mesmo sentido: 18% usam o YouTube e 9%, o WhatsApp. No Brasil urbano, onde os dados foram coletados, 34% dos entrevistados usam o WhatsApp para obter informações.

Esse movimento vem sendo acompanhado de perto pelos líderes do mercado mundial, Facebook e Apple, que começam a firmar acordos com as grandes corporações mundiais de mídia para veicular conteú­dos informativos em suas plataformas. A Apple já divulgou uma lista inicial de parceiros que inclui os jornais The Guardian e The New York Times e os canais de TV CNN e ESPN.

Apple e Facebook oferecem para os meios de comunicação a possibilidade de publicar textos e vídeos diretamente nas suas plataformas em troca de um possível aumento de audiência e publicidade. Garantem também um formato atraente para as publicações, adequado a celulares e tablets, além de um carregamento mais rápido nesses dispositivos do que aquele oferecido hoje pelos sites dos jornais e emissoras de TV. As empresas jornalísticas esperam, com isso, aumentar o alcance de suas mensagens, podendo, segundo o acordo firmado, auferir 100% da receita por elas obtida com a publicidade vendida através das redes sociais. Se a vendedora for a Apple, as empresas de comunicação ficarão com 70% do faturamento.

Se para as gigantes da internet e do jornalismo parece ser um bom negócio, para o público os resultados não são muito promissores. No dia 13 de junho, a Apple publicou um anúncio procurando jornalistas para “identificar e transmitir os melhores itens de notícias internacionais, nacionais e locais”. Segundo apurou o Le Monde, o papel desses jornalistas “será de trazer um toque humano ao News, o novo aplicativo móvel anunciado pela Apple que promete uma seleção personalizada de artigos fornecidos pelos parceiros da mídia”, a ser oferecido gratuitamente ao público a partir do próximo outono europeu.

Realiza-se com a internet a previsão feita pelo The Guardian, 21 anos atrás. À primeira vista pode parecer confortável ao leitor receber em seus receptores apenas notícias relacionadas com o seu perfil, quando na verdade o que irá ocorrer é uma limitação do acesso a novos interesses e descobertas, tornando medíocre o mundo da informação. Dessa forma, o pluralismo e a diversidade informativa correrão um risco maior do que já correm hoje. Pulverizada na ponta sob o rótulo da personalização, a informação estará cada vez mais concentrada, na medida em que sua embalagem ficará nas mãos dos gigantes da internet.



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Suicídios, uma epidemia global


Por Graham Peebles, no site Outras Palavras


Recentemente um amigo me chamou para um café. “Tenho más notícias”, disse em sua mensagem. Um conhecido comum, com cerca de 50 anos, havia tirado a própria vida no dia anterior. Jack tinha se enforcado na árvore de um parque público na periferia de Londres; foi a quarta tentativa. Ele tinha quatro filhos. Foi o segundo amigo de meia idade a cometer suicídio em seis meses.

Suas histórias estão longe de ser únicas. Suicídios ocorrem no mundo inteiro, de pessoas de todos os grupos etários, de 15 a 70 anos. A Organização Mundial de Saúde (OMS) afirma que quase um milhão de pessoas cometem suicídio anualmente, sendo vinte vezes maior o número dos que tentam se matar – e esses números estão subindo.

Os métodos variam de país a país: nos Estados Unidos, onde há armas de fogo em toda a parte, 60% das pessoas atiram em si mesmas; na Índia e em outros países asiáticos, assim como na África do Sul, ingerir veneno, particularmente pesticidas, é a escolha mais popular. Em Hong Kong, na China e na urbana Taiwan, a OMS informa que um método novo, o “suicídio com carvão em brasa” vem sendo registrado. Afogar-se, jogar-se do alto, cortar os pulsos e enforcar-se (a forma mais popular no Reino Unido, nos Balcãs e países da Europa Oriental) são outros métodos que seres humanos usam quando, desesperados, decidem dar fim às suas vidas.

Estigma e subnotificação de casos

De acordo com a OMS, 1,5% das mortes de todo o mundo, em 2012, foram causadas por suicídio. Isso significa que foi a terceira causa de morte no mundo, e isso contando apenas as mortes confirmadas como auto-infligidas. A OMS admite que a disponibilidade e qualidade dos dados é precária, sendo que apenas 50 Estados-membros apresentam estatísticas “que podem ser usadas diretamente para estimar as taxas de suicídio”. Muitos suicídios, dizem eles, “estão escondidos entre outras causas de morte, tais como acidentes com um carro só, acidentes de trânsito na estrada com apenas o motorista, afogamentos não testemunhados e outras mortes indeterminadas.”

Estes são apenas alguns dos muitos fatores que tornam difícil avaliar os números com precisão. Nos países em que a cultura dominante estigmatiza o suicídio, envolvendo-o numa mortalha de culpa (por exemplo a África Subsaariana, onde nunca ou raramente é discutido ou admitido), o suicídio pode estar oculto e não relatado; assim também em países onde é considerado um ato criminoso, como na Hungria, por exemplo, onde uma tentativa tem pena de prisão de cinco anos; ou no Japão, onde é ilegal. Ou ainda na Coreia do Norte, onde familiares do suicida são penalizados; na Irlanda, onde lesões autoinflingidas não costumam ser vistas como tentativas de suicídio; na Cingapura, onde é ilegal e uma tentativa pode resultar em prisão; ou na Rússia, onde as taxas de suicídio entre adolescentes são três vezes superiores à média mundial e os que tentam podem ser internados em hospital psiquiátrico. Essas são razões bastante fortes para ocultar tentativas e omitir suicídios como causa de morte, assim como dissuadir as pessoas de falar sobre ideias suicidas.

Seja qual for, contudo, o número total de mortes por suicídio – e todos os indícios são de que é bem maior do que diz a OMS – o que fica claro é que trata-se de uma questão social da maior importância. Os números de suicídios e tentativas de suicídio estão crescendo, e é preciso falar sobre isso abertamente, entender suas causas e providenciar mais apoio. Nos últimos 45 anos, afirma a OMS, as taxas de suicídio aumentaram 60%, e, a não ser que aconteça alguma coisa que mude drasticamente o ambiente em que estamos vivendo, a instituição prevê que o índice de mortes terá dobrado até 2020 – de um suicídio a cada 40 segundos para alguém, em algum lugar do mundo tirando a própria vida a cada 20 segundos!

Taxas de suicídio cruzadas com gênero variam de país para país e região para região, mas os homens encontram-se muito mais em situação de risco que as mulheres. Segundo a OMS, 7% dos suicídios globais ocorreram em países de renda média e baixa, sendo que 30% de todos os suicídios ocorreram na China e na Índia, onde o suicídio foi descriminalizado somente em 2014. Os países da Europa Oriental, tais como Lituânia e Federação Russa, registram os maiores números de suicídio; já o Leste do Mediterrâneo e as Américas Central e do Sul (Peru, México, Brasil e Colômbia), os menores. E embora as taxas de suicídio no mundo tradicionalmente fossem mais altas entre homens idosos, agora os jovens – entre 15 e 29 anos de idade – são o grupo de maior risco num terço dos países. O suicídio, diz a OMS, é a “maior causa de morte nessa faixa etária, depois de acidentes de carro e outros tipos de agressão masculina, com muito pouca diferença entre os gêneros: “9,5% entre os homens e 8,2% entre as mulheres”

Em todas as sociedades ocidentais, o número de homens que morrem por suicídio é cerca de três vezes maior que o de mulheres, e os que têm mais de 50 anos são particularmente vulneráveis. Na Grã Bretanha, os homens respondem por 80% de todos os casos (com uma média de 13 mortos por dia), e os que têm entre 40 e 44 anos estão mais particularmente em risco.

Em “países de baixa e média renda”, registra a OMS, “a proporção de casos entre homem e mulher é muito inferior [do que em países desenvolvidos], com 1,5 homens para cada mulher.” Surpreendentemente, nos EUA, onde o número de homens mortos por suicídio é quatro vezes maior que o de mulheres, segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças, as mulheres têm maior probabilidade de cometer suicídio. A falta de estatísticas de gênero nas sociedades ocidentais pode em parte ser causadas, pensam os Samaritanos, pela diferença entre os métodos de suicídio usados por homens e mulheres, sendo que, em alguns casos, “a intenção não pode ser determinada (ou assumida) tão facilmente [com mulheres] como nos métodos mais comum entre os homens”. Isso pode resultar, dizem eles, “em mais mortes de mulheres não declaradas”.

As causas de suicídio

As razões pelas quais as pessoas cometem suicídio são muitas e variadas: “questões de saúde mental” é uma expressão guarda-chuva frequentemente citada. De acordo com pesquisadores da Universidade de Glasgow, 90% das pessoas que cometem suicídio sofrem de alguma forma de doença mental. Contudo, essa é uma frase ambígua, que mal explica e conforta pouco os enlutados. Parece óbvio que, se alguém se mata, não está se sentindo “bem” mental e emocionalmente. “Lutei por muito tempo”, “não aguentava mais”, “a vida parecia sem sentido”, “me sentia tremendamente ansioso” etc, são frases comuns a muitos, incluindo aqueles que contemplam a ideia, tentam ou chegam a cometer suicídio. Compreensivelmente, a depressão é geralmente mencionada como causa, mas isso, é claro, não significa que todo mundo que sofre de depressão está arriscado a cometer suicídio.

A OMS deixa claro que, embora as taxas de suicídio variem enormemente de país para país, dadas as diferenças de “ambiente cultural, social, religioso e econômico em que as pessoas vivem e por vezes desejam não viver … as pressões da vida, que causam aflição emocional extrema”, e às vezes levam ao suicídio “são similares em todo lugar”.

Essas “pressões da vida” é o que precisa ser corretamente entendido: o que são, de onde vêm, que impacto têm e como podemos mudar a sociedade para livrar delas a humanidade. Por que vivemos sob “pressões da vida” tão prejudiciais? Poderíamos não estar vivendo num mundo que produz forças tão destrutivas. Alguma coisa está terrivelmente errada na sociedade mundial , quando cerca de um milhão de pessoas se matam todo ano, e onde o suicídio é a segunda maior causa de morte entre os jovens com menos de 20 anos.

Não sou psicólogo, mas o senso comum sugeriria que o “sentido de si” deve estar no centro da questão. Se o “senso de si” é positivo, se a pessoa sente-se conectada à “vida”, tem estrutura, propósito e autoconfiança, sente-se querida, amada mesmo, então parece improvável que venha a cometer suicídio. Se, contudo, a imagem de si é negativa, de “fracasso”, se sente-se incapaz de “encaixar-se”, e se acha perdida e desnorteada, experimentando exclusão social e emocional, um senso de crescente vulnerabilidade parece provável.

Depois há os problemas práticos que todos enfrentamos: ganhar a vida e pagar o aluguel ou hipoteca, além das questões mais sutis – pressões para ser “bem sucedido” econômica e socialmente, na carreira e “no amor”. A incapacidade – real ou percebida – de dar conta dessas “pressões da vida”, que geram preocupação e ansiedade – levando talvez ao abuso de álcool ou outras substâncias – fortalece o isolamento social, reforça a imagem de fracasso, enfraquece a autoconfiança e fortalece a autorrejeição. Tudo isso num mundo onde a fraqueza, particularmente nos homens, é considerada no mínimo estranha; e no qual sensibilidade, incerteza e fragilidade devem ser superadas. O “endurecimento” é a mensagem, expressa direta ou indiretamente.

Não temos clareza sobre quem e o que somos, de maneira que criamos imagens, agarrados a construções ideológicas que nos levam cada vez mais além da nossa verdadeira natureza. A imagem ideal do que significa ser humano, particularmente homem, tornou-se crescentemente estreita. Homens, especialmente com menos de 40 anos, precisam ser resolutos, fortes e ambiciosos. Qualquer crença filosófica ou religiosa, por exemplo, deveria ser erradicada, ou pelo menos ocultada, e certamente não mencionada em público. Qualquer admissão de dúvida sobre si mesmo e sinal de vulnerabilidade deveriam ser completamente evitados, sendo adotada e expressa uma abordagem macho e nonsense da vida.

De maneira geral, esse tornou-se o esteriótipo do que é ser homem no século 21, e insiste-se na conformidade ao padrão – por meio da educação, da pressão dos colegas e da mídia corporativa. Das mulheres, em particular jovens, é esperado que atendam a uma fórmula ideal semelhante, embora ligeiramente menos restritiva. Ambas são imagens extremamente limitantes, não saudáveis, e servem à homogeneidade de um sistema mundial, construído por e no interesse de multinacionais (que são donas de tudo), facilitado por governos corporativos (a que faltam princípios), que estão sugando a riqueza e a diversidade da vida. Espera-se que todo o mundo deseje as mesmas coisas, vista as mesmas roupas, acredite na mesma propaganda, aspire aos mesmos ideais e comporte-se do mesmo modo. Cada país, cidade, vila e aldeia é vista como um mercado, cada pessoa como consumidor a ser completamente explorado, sugado e descartado.

A competição e o conformismo se infiltraram em todas as áreas da sociedade mundial, da educação à saúde. Tudo e todo mundo é visto como commodity, a ser comprada pelo menor preço e vendida pelo maior. Lucro é o motivo esmagador que distorce a ação. Valores materialistas que promovem sucesso individual, ganância e egoísmo saturam o mundo, dividem e separam a humanidade, levando a tensões sociais, conflito e doença. Esses ideais, que não são valores no sentido real da palavra, moldaram o controverso cenário político-econômico em que vivemos (levando multidões à falência e envenenando o planeta) e, simultaneamente, foram reforçados por ele.

Juntamente com o sistema econômico fundamentalista de mercado que tão ardentemente os promove, esses “valores” são os ingredientes básicos do cenário de fatores sociais que causam grande parte dos ‘problemas de saúde mental’, que levam os membros mais vulneráveis da nossa sociedade a cometer suicídio. Homens, mulheres e crianças que simplesmente não podem mais aguentar as “pressões da vida”, que sentem profundamente a dor individual e coletiva, têm disposição introspectiva e acham o mundo muito barulhento, seus ‘valores’ muito toscos, suas demandas de “força” e não fraqueza, “sucesso” e não fracasso, “confiança” e não dúvida, impossíveis de alcançar. E por que razão deveriam alcançá-los, por que essas ‘pressões da vida’ existem, afinal?

É tempo de construir um modelo inteiramente diferente, mais saudável, um novo modo de viver em que valores verdadeiros e perenes de virtude moldem os sistemas que governam as sociedades em que vivemos — e não as armas corporativas ideologicamente redutoras e corrosivas, de vida ubíqua e que estão sugando a beleza, a diversidade e a alegria da vida. Valores de compaixão, altruísmo, cooperação, tolerância e compreensão; precisamos, como Arundhati Roy coloca, “redefinir o sentido da modernidade, redefinir o significado de felicidade”, pois trocamos felicidade por prazer, amor por desejo, unidade pela divisão, cooperação pela concorrência, e criamos uma sociedade dividida, onde o conflito domina internacional, regional, comunitária e individualmente.



Diretoria do Sepe Núcleo Rio das Ostras e Casimiro de Abreu
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sexta-feira, 17 de julho de 2015

Conversando com versos (155): Et omnia vanitas, de Raul de Leoni (1895-1926)



"Et omnia vanitas”


... E vive assim... Como filosofia
O Prazer, como glórias e esperanças
Uma vida espontânea e correntia
E um gesto irônico ao que não alcanças!

Seja a vida um punhado de horas mansas,
N’uma felicidade fugidia:
A piedosa ilusão de cada dia
E o bailado de sombras das lembranças.

Ama as cousas inúteis! Sonha! A Vida...
Viste que a Vida é uma aparência vaga
E todo o imenso sonho que semeias,

Uma legenda de ouro, distraída,
Que a ironia das águas lê e apaga,
Na memória volúvel das areias!...



Fonte: Leoni, Raul de, Luz Mediterrânea. 9ª ed. São Paulo: Livraria Martins, 1959, p.107


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Francisco sustenta


Por Atílio Boron 


Depois do discurso de Francisco no Encontro dos Movimentos Sociais, não tardaram em aparecer vozes advertindo que suas palavras não deviam ser levadas a sério, tomando em conta a longa história da Igreja Católica como guardiã da ordem capitalista e responsável por incontáveis crimes. Havia uma incredulidade imposta e, inclusive, uma vigilância militante para evitar que a mensagem papal frustrasse o tão ansiado desenvolvimento da consciência crítica dos povos oprimidos.

Discordo destas opiniões. E mais: creio que este não é um tema que deveria nos preocupar. Do ponto de vista da construção de um bloco histórico anticapitalista – ainda que não desde a abstração de um juízo ético – o feito de que Francisco acredite ou não no seu próprio discurso é irrelevante e não tem sentido discutir aqui. O que sim, interessa, é que essas palavras foram vertidas em uma importante reunião de líderes e dirigentes sociais latino-americanos e alcançaram de imediato uma impressionante ressonância mundial.

Que o Papa diga que o capitalismo é um sistema esgotado, que já não se sustenta, que os ajustes sempre são feitos às custas dos pobres, que não existe tal coisa como o derrame da riqueza das taças dos ricos, que destrói a casa do comum e condena a Mãe Terra; que os monopólios são uma grande desgraça, que o capital e o dinheiro são o “estrume do demônio”, que se deve cuidar do futuro da Pátria Grande e estar em guarda frente às velhas e novas formas de colonialismo, entre tantas outras afirmações, têm efeitos políticos objetivamente de esquerda, e de uma importância extraordinária. Claro, tudo isso já haviam dito Fidel, Che Guevara, Camilo Torres, Evo Morales, Rafael Correa, Hugo Chávez e tantos outros nomes dentro da teologia da libertação e do pensamento crítico da Nossa América.

Mas seus juízos foram sempre postos sob suspeita e toda a indústria cultural do capitalismo se debruçou sobre eles para burlar seus certificados, desqualificando-os como produtos de um anacrônico radicalismo demoníaco. Os tecnocratas a serviço do capital e as mentes “bem pensantes” pós-modernas diziam que aqueles nostálgicos não compreendiam que os tempos do Manifesto Comunista haviam passado, que a revolução era uma perigosa ilusão sem futuro e o capitalismo havia triunfado inapelavelmente. Mas agora resulta que quem o questiona radicalmente, com uma linguagem plana e enfática, é Francisco. Então, esse discurso adquire uma súbita legitimidade e seu impacto sobre a consciência popular é incomparavelmente maior.

Com suas palavras foi aberto, pela primeira vez em muito tempo, um espaço enorme para avançar na construção de um discurso anticapitalista arraigado nas massas, algo que até agora havia sido uma empreitada destinada a ser neutralizada pela ideologia dominante, que difundia a crença de que o capitalismo era a única forma sensata – e possível – de organização econômica e social.

Já não é mais. O histórico discurso de Francisco na Bolívia instalou no imaginário público a ideia de que o capitalismo é um sistema desumano, injusto, predatório, que deve ser superado mediante uma mudança estrutural e, por isso, não há que temer a palavra “revolução”. Deixemos os filósofos, teólogos e psicólogos se entreterem em discutir se Francisco crê ou não no que disse.

O importante, o decisivo, é que graças às suas palavras estamos em melhores condições para vencer a batalha de ideias de forma a convencer todas as classes e camadas oprimidas, as principais vítimas do sistema, de que é preciso acabar com o capitalismo antes que esse infame sistema acabe com a humanidade e com o planeta.





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A ‘legião dos imbecis’ e o discurso do ódio

Por Carlos Eduardo Lins da Silva


Desde que pronunciou em 11 de junho a expressão "legião de imbecis” para ser referir aos que antes "falavam apenas em um bar e depois de uma taça de vinho, sem prejudicar a coletividade”, Umberto Eco se tornou o centro de polêmica mundial a respeito do direito de expressão nas mídias sociais.

No Brasil, a repercussão aumentou após a entrevista que Eco deu à revista "Veja”, publicada na semana passada, na qual ele tentou contemporizar um pouco a força de suas palavras originais: "veja bem, num mundo com mais de 7 bilhões de pessoas, você não concordaria que há muitos imbecis? Não estou falando ofensivamente quanto ao caráter das pessoas. O sujeito pode ser um excelente funcionário ou pai de família, mas ser um completo imbecil em diversos assuntos. Com a internet e as redes sociais, o imbecil passa a opinar a respeito de temas que não entende”.

Afinal, a expressão pejorativa "legião de imbecis” para se referir a quem expressa opiniões, ainda que infundadas, ilógicas, mal formuladas, cheias de erros gramaticais, contradiz o pensador que um dia defendeu que todos deveriam, "antes de tudo, respeitar o direito da corporalidade do outro, entre os quais o direito de falar e pensar”, como bem realçou recentemente em seu blog o professor Carlos Chaparro.

De fato, "ignorantes” (no sentido não ofensivo que define alguém que ignora determinados assuntos) não devem ter contestado seu direito de se expressar publicamente pelas mídias sociais, por mais disparatadas que sejam suas falas. Mesmo porque elas podem ofender o bom senso, o vernáculo, a sensibilidade estética, mas não causam real prejuízo a ninguém.

Muito diverso, no entanto, é o discurso de ódio disseminado em larga escala pelas redes virtuais, como o de que tem sido alvo a jornalista Maria Júlia Coutinho, da Rede Globo de Televisão.

Os comentários racistas de internautas na página do "Jornal Nacional” no Facebook e em outras mídias sociais não podem ser admitidos e merecem investigação que leve à punição de seus autores, como já foi solicitado ao Ministério Público.

O caso de Maju é um dos mais expressivos, inclusive pelo componente de racismo, que remete aos linchamentos literais de que foram vítimas centenas de negros nos EUA durante muitos anos há pouco mais meio século. Aqueles linchamentos físicos, que inspiraram Billie Holiday a compor a pungente canção "Fruta Estranha” ("Árvores do sul produzem uma fruta estranha/Sangue nas folhas e sangue nas raízes/Corpos negros balançando na brisa do sul/ Fruta estranha penduradas nos álamos”) eram quase tão corriqueiros como são agora os linchamentos morais via internet.

Outra vítima recente da sanha linchadora eletrônica é o jornalista Zeca Camargo, também da Globo, que sofreu com a ira dos que se enfureceram por um comentário sobre a cobertura feita da morte do cantor sertanejo Cristiano Araújo, na qual ele colocou em discussão os critérios da pauta do jornalismo cultural brasileiro atual, sem ter sido minimamente desrespeitoso com o artista.

Igualmente da Globo, Jô Soares sofreu até ameaças de morte por causa da entrevista que fez com a presidente Dilma Rousseff porque alguns "imbecis” o consideraram muito condescendente com ela.
Imbecis que só falam são relativamente inofensivos. Mas os que lincham moral ou fisicamente não podem ser tolerados em sociedades democráticas. As leis de repressão a crimes de informática devem ser usadas para conter e punir os que as desrespeitam. Censura prévia, é claro, não pode ser admitida. Mas a condenação legal pelos efeitos do discurso de ódio é imprescindível, bem como a reação em defesa dos atingidos, como expressão de solidariedade a eles e de repulsa coletiva aos linchadores.



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quinta-feira, 16 de julho de 2015

O exemplo da Grécia




Por Frei Betto


O governo alemão de Angela Merkel é impiedoso. Trata a Grécia como Hitler tratou a Polônia, com supremo desprezo.

Os nazistas invadiram a Polônia e, hoje, Merkel age com a Grécia como quem asfixia um doente terminal. O país tem uma dívida equivalente a 177% do seu PIB e o desemprego atinge 25,6% da força de trabalho.




O mundo é movido a dinheiro. A Alemanha, o Banco Central Europeu e o FMI exigem que a Grécia pague sua dívida externa. O país não tem como fazê-lo. Está quebrado. E acuado pelas potências europeias.

Merkel não se importa com a sorte do povo grego. Quer arrancar-lhe o pão da boca e entregá-lo aos credores. O pão que o diabo amassaria se os gregos aceitassem o que ela propõe: aumento de impostos, corte de gastos e profunda reforma do sistema previdenciário.

Alexis Tsipras, primeiro-ministro grego, preza o fato de seu país ser o berço da democracia. Coerente com as suas raízes, decidiu consultar o povo. Aceitamos ou não as imposições dos credores? O povo decidiu pelo "não” no domingo, 5 de julho. Nas urnas, 61% dos eleitores votaram pelo "não”.

Merkel não gostou da consulta democrática e muito menos de seu resultado. E sabe que, agora, deve buscar uma saída para evitar o pior: a Grécia se retirar da zona do euro. Isso pode significar o início do fim da União Europeia. E nada impede que, amanhã, o exemplo seja seguido por outros países, como Espanha e Portugal, que estão com a corda no pescoço e acuados pela ganância alemã.

"Faça o que digo e não o que faço”. O adágio resume a atitude alemã. A Alemanha nunca pagou as dívidas contraídas após as duas Grandes Guerras, das quais saiu derrotada e destroçada. Para se soerguer, contraiu dívidas. E se tornou o mais rico país europeu.

O Acordo de Londres, de 1953, anulou mais de 60% da dívida alemã. Em 1945, esta dívida equivalia a mais de 200% do PIB do país. Dez anos depois caiu para menos de 20% do PIB. Jamais a Alemanha teria feito tão significativa redução se tivesse adotado o arrocho que, agora, pretende impor à Grécia como "ajuste fiscal”.

Merkel se recusa a aceitar que a Grécia, para sair do buraco, adote a receita que salvou o seu país: imposto sobre as grandes fortunas e perdão de parcela significativa da dívida.

O governo grego pediu aos credores ampliar o programa de ajuda ao país, o que permitiria à Grécia obter mais € 7,2 bilhões e ter condições de pagar o funcionalismo e a dívida de € 1,6 bilhão com o FMI. O pedido foi negado.

Agora, nas negociações de Bruxelas, os gregos tentam a aprovação de uma segunda proposta: ter acesso ao programa europeu de ajuda, lançado em 2012.

Se não houver acordo, os gregos poderão abandonar o euro, volta ao dracma e ficar fora da União Europeia. E o exemplo pode ser seguido até mesmo pela Itália, frustrando o sonho de uma Europa unida... ao menos no uso de uma única moeda.

Se a crise grega se alastrar pela Europa, da qual dependem 20% das exportações brasileiras, o Brasil sofrerá o seu reflexo.



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"Eduardo Cunha é um bandido político", diz Leonardo Boff

Teólogo afirma que presidente da Câmara é "extremamente ambicioso, manipulador, inescrupuloso e sem sentido ético", cuja pretensão é propor o parlamentarismo para ser primeiro-ministro.

Porto Alegre – A ofensiva conservadora atualmente em curso no Brasil faz parte de um processo mundial de rearticulação da direita e representa um perigo real para a democracia e os direitos. No caso brasileiro, essa rearticulação conservadora também é uma reação das classes dominantes que não se conformam com a centralidade que a agenda social adquiriu nos últimos anos e com a ascensão social de cerca de 40 milhões de pessoas. Um dos principais expoentes dessa ofensiva, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) é um bandido político que não respeita a Constituição e tem como objetivo, no final de seu mandato, propor a instauração do parlamentarismo e virar primeiro-ministro. A avaliação é do teólogo e escritor Leonardo Boff, que esteve em Porto Alegre no sábado (4), para ministrar uma aula pública sobre direitos humanos.

"Vejo esse quadro com preocupação, é um quadro sistêmico.Ocorre nos EUA, Europa, América Latina. Essa etapa das democracias novas, de cunho popular e republicano, surgidas depois das ditaduras, estão recebendo os impactos da ofensiva da direta, que está se organizando em nível mundial. Isso é perigoso"

Intitulada “Expressões sobre Direitos Humanos: Mais Amor, Mais Democracia”, a aula pública reuniu centenas de pessoas no Parque da Redenção, na tarde fria de sábado. Após a aula, Leonardo Boff conversou com o portal Sul21, no Hotel Everest, sobre a atual conjuntura política do país e defendeu que, diante da ofensiva conservadora no curso, é preciso travar, em primeiro lugar, uma batalha ideológica sobre que tipo de Brasil queremos: “Um Brasil como um agregado subalterno de um projeto imperial, ou um Brasil que tem condições de ter um projeto nacional sustentável próprio. Temos um grande embate a travar em torno dessa ideia. Acho que esse será também o tema central das próximas eleições”, diz Boff. A seguir, um resumo dos principais momentos da conversa de Leonardo Boff com o Sul21:

Ofensiva conservadora em nível mundial

“Vejo esse quadro com preocupação, pois é um quadro sistêmico. Ocorre também nos Estados Unidos, na Europa, em toda a América Latina. Acabo de vir de um congresso que contou com a presença de representantes das esquerdas de toda a América Latina e todos foram unânimes em dizer que essa etapa das democracias novas, de cunho popular e republicano, que surgiram depois das ditaduras, estão recebendo os impactos dessa ofensiva da direta, organizada e financiada também a partir do Pentágono. Essa direita está se organizando em nível mundial. Isso é perigoso. A história já mostrou que, depois que a direita se organiza, surgem fenômenos de caráter fascista e nazista, surgem regimes autoritários que buscam impor ordem e disciplina”.

“Eu não tenho muito medo no caso do Brasil. Acho que aqui nós conseguimos uma ampla base social de movimentos organizados e um núcleo de pensamento analítico político que resiste vigorosamente, mas enfrenta a resistência da grande mídia que, de forma sistemática sustenta teses conservadoras e reacionárias, em consonância com a estratégia traçada pelo Pentágono em nível mundial. O objetivo central dessa estratégia é: um mundo, um império. Todos têm que se alinhar aos ditames desse império, que não tolera a existência de alguma força capaz de enfrentá-lo. O grande medo dos Estados Unidos é com a China, que está cercada por três grandes porta-aviões, cada um deles com um poder de fogo equivalente ao utilizado em toda a Segunda Guerra Mundial, com ogivas nucleares e submarinos atômicos de apoio, entre outras coisas. Isso nos mete medo, pois pode levar a um enfrentamento, senão global, de guerras regionais, com grande potencial de devastação”.

“No que nos diz respeito mais direito mais diretamente o grande problema é que os Estados Unidos não toleram a existência de uma grande nação no Atlântico Sul, com soberania e um projeto autônomo de desenvolvimento, que às vezes pode ser conflitivo com os interesses de Washington. O Brasil está mantendo essa atitude soberana e isso causa preocupação a eles, pois a economia futura será baseada naqueles países que têm abundância de bens e serviços naturais, como água, sementes, produção de alimentos, energias renováveis. Neste contexto, o Brasil aparece como uma potência primordial, pois tem uma grande riqueza desses bens e serviços essenciais para toda a humanidade”.

                     Aula pública de Boff reuniu centenas de pessoas no Parque da Redenção, na tarde fria de sábado (4)

Agenda conservadora no Congresso Nacional
“De modo geral, a sociedade brasileira é conservadora, mas nos últimos anos, especialmente com a resistência à ditadura militar e com o retorno à democracia, se criou um sentido de democracia participaria e republicana, onde o social ganha centralidade e não simplesmente o Estado e o desenvolvimento material e econômico. Incluir aqueles que estiveram sempre excluídos passou a ser um tema central. Isso foi um elemento de progresso e avanço que assustou as classes privilegiadas que perceberam que esses 40 milhões de pessoas estão ocupando um espaço que era exclusivo deles e começam a ameaçar seus privilégios. Os representantes dessas classes não querem que o Estado se defina por políticas sociais, mas sim pelas políticas que, historicamente, sempre beneficiaram as classes dominantes.
Eles conseguiram uma articulação com grandes empresas, com grupos do agronegócio e outros setores para construir uma representação parlamentar. O que vemos hoje é que os sindicatos praticamente não estão representados, os indígenas e negros não estão, o pensamento de esquerda não está. O que temos, na maioria dos casos, são deputados medíocres que representam interesses de grandes corporações nacionais e internacionais, que tem pouca ou nenhuma ligação com um projeto de nação”.
“Diante desse quadro, nós precisamos, em primeiro lugar, travar uma batalha ideológica e debater que tipo de Brasil nós queremos, um Brasil como um agregado subalterno de um projeto imperial, ou um Brasil que tem condições de ter um projeto nacional sustentável próprio. Temos um grande embate a travar em torno dessa ideia. Acho que esse será também o tema central das próximas eleições. O povo não quer perder aquilo que conquistou de benefícios sociais nestes últimos doze anos e quer ampliá-los. Essas conquistas são de Estado, não são mais de governos. Esse embate será muito difícil, mas acho que há um equilíbrio de forças que vai permitir, pelo menos, governos de centro-esquerda, não totalmente de esquerda, pois creio que não há condições para isso hoje”.

Sobre Eduardo Cunha, presidente da Câmara

“Em primeiro ligar, acho que é um bandido político. Sempre foi conhecido assim no Rio. Um jornalista do Globo fala dele como “a coisa má”. É um homem extremamente sedutor, não respeita lei nenhuma, tem dezenas de processos de corrupção contra ele, mas consegue manipular de tal maneira os poderes que sempre consegue prolongar sua vida. É alguém que não tem nenhum respeito à Constituição e atropela normas do Congresso como bem entende. Creio que a pretensão dele, no final dessa legislatura, é propor o parlamentarismo para ele ser o primeiro ministro, já que não poderá ser presidente pela via eleitoral. É uma pessoa extremamente ambiciosa, manipuladora, inescrupulosa, sem qualquer sentido ético e um fundamentalista religioso conservador e de direita”.

O crescimento do fundamentalismo religioso

“Acho que essas bancadas evangélicas fundamentalistas que se espalham pelo país são formações em si legítimas, uma vez que são eleitas, mas ilegítimas na medida em que não se inscrevem dentro do quadro democrático. Querem impor a sua visão sobre a família, a ética individual e pública para toda a sociedade brasileira. O correto seria eles terem o direito de apresentar a própria opinião para ser debatida e confrontada com outras opiniões, respeitando as decisões coletivas. Mas eles querem impor a opinião deles como a única verdadeira e difamar e combater pelos púlpitos qualquer outra alternativa. Acho que devemos atacá-los pelo lado da Constituição e da democracia e enquadrá-los dentro da democracia, pois são pessoas autoritárias e destruidoras de qualquer tipo de consenso que nasce do diálogo”.




“O povo, com justiça, fica desolado. A gente sabe que a Dilma é ética e não cometeu malfeitos, mas tomou medidas na direção contrária do que pregava. Então é uma contradição visível que não requer muita análise para mostrar."


Sobre o governo Dilma

“Acho que a campanha da Dilma foi mal conduzida. Tudo aquilo que ela combatia, que seriam medidas neoliberais, a primeira coisa que fez, sem discutir com o povo brasileiro, com os sindicatos e sua base de apoio, foi aplicá-las diretamente. Neste sentido, ela decepcionou a todos nós que apoiamos a sua candidatura e o povo é suficientemente inteligente para perceber que houve um engodo. Por outro lado, cabe reconhecer que há uma crise que não é só brasileira, mas mundial, que afeta gravemente países como Grécia, Itália, Portugal e Espanha, com níveis de desemprego e de dissolução social muito mais graves do que os nossos”.
“Então, estamos diante de um problema sistêmico, não só brasileiro, mas aqui ele ganhou conotações muito específicas porque o PT tinha um projeto progressista de centro-esquerda, de apoio aos movimentos sociais, comprometido a não tocar em direitos dos trabalhadores e pensionistas. E o governo acabou tomando medidas que considero injustas, pois colocou a carga principal da crise sobre os ombros os trabalhadores e pensionistas, e não em cima dos grandes capitais, das grandes heranças e do sistema financeiro dos bancos. Estes setores foram poupadas e isso eu acho uma injustiça e uma indignidade”.
“Então, o povo, com justiça, fica desolado. A gente sabe que a Dilma é ética e não cometeu malfeitos, mas tomou medidas na direção contrária do que pregava. Então é uma contradição visível que não requer muita análise para mostrar. Ela dizia que nem que a vaca tussa iria mexer em direitos, e a primeira coisa que fez foi mexer no seguro-desemprego e nas pensões. Houve uma quebra da confiança e, em política, o que conta de verdade é a confiança. Agora, se ela tiver algum sucesso e conseguir não penalizar o país demasiadamente em termos de desemprego e retrocesso no processo produtivo, ela poderá voltar a ganhar confiança, mas é uma conquista muito difícil.”




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