A juventude chilena se mobilizou de forma histórica em 2006 com a
“Revolução dos Pinguins” e, depois, com outras duas jornadas em 2011 e
2015, numa corajosa luta pelo direito à educação pública e gratuita e
contra o neoliberalismo. Essas lutas resgataram importante método
histórico da classe trabalhadora: as ocupações. Mas, agora, nas escolas!
Inspirada pelos hermanos pinguins, a juventude paulista, no final de
2015, lutou arduamente contra o governo de Alckmin, que pretendia fechar
centenas de escolas. Esta importante resistência, com mais de 200
ocupações de escolas, se sagrou vitoriosa e fez o governo recuar, dando
uma importante lição para esta nova geração de lutadores: só a luta
garante direitos e, mais que isso, só a luta muda a vida.
Um
processo similar de ocupações também se estendeu ao estado de Goiás,
contra um modelo de gestão privatizada e militarizada do ensino; e ao
Espírito Santo, contra a “reorganização” do ensino com fechamento de
turmas no campo.
Este ano, a greve dos profissionais de educação
no estado do Rio de Janeiro, deflagrada em dois de março, iniciou um
grande processo de mobilização que levou à construção de uma Greve Geral
do funcionalismo público do estado do Rio de Janeiro unindo mais de 30
categorias em luta. Ao mesmo tempo, levou a uma importante mobilização
estudantil secundarista, espelho do movimento que ocorreu em São Paulo,
Goiás, Espírito Santo e Chile.
Mais de 70 ocupações
Durante a construção deste texto, mais de 70 escolas já estavam
ocupadas. Entretanto, as tarefas não são simples! A primeira delas é
aumentar as ocupações e resistir aos ataques do governo, que vem
utilizando de métodos esdrúxulos para tentar desmobilizar estudantes.
Desde pedidos de reintegração de posse, como os perpetrados contra a
Ocupação Mendes de Moraes, primeira escola ocupada, até coerção e
difamações.
As direções de escolas também têm cumprido um papel
de desarticular as ocupações. Mentiras e difamações são veiculadas para
desmobilizar, além de ameaças, assédio moral, etc. Movimentos contrários
às ocupações têm sido organizados pelas direções junto a alguns
professores pelegos e por membros da Secretaria de Educação e do
governo. Este movimento por parte das direções das escolas reafirma a
necessidade de construir uma escola democrática em que a direção seja
eleita e, desta forma, represente os interesses da comunidade escolar,
não dos governos.
Unificar as ocupações, construindo um projeto
claro da juventude, contra as medidas neoliberais do governo
Pezão/Dornelles, é uma tarefa fundamental. Este espaço amplo de
discussão deve levar a uma pauta geral das escolas ocupadas. Mas é ainda
necessária uma construção mais ampla desse processo. A primavera
secundarista está ocorrendo, de distintas formas, em todo o país, com
radicais respostas da juventude ante a tentativa dos governos de
aprofundar as medidas neoliberais.
É necessário aprofundar a construção das lutas e
#OcuparTudo!
Isto é, construir espaços de discussões nos quais se construa este
projeto comum, considerando as pautas específicas das ocupações, mas
aprimorando a pauta de reivindicações gerais das escolas ocupadas.
A escola ocupada significa um espaço físico acolhedor e cheio de
companheirismo entre os alunos. Lá eles aprendem a lidar com os
conflitos e contradições. Há aulas com temas escolhidos por eles,
oficinas de instrumentos musicais, competição de jogos eletrônicos,
esportivos e de tabuleiros, batalha de rap, roda de samba, debates sobre
a importância da história do movimento estudantil no Brasil. Ou seja,
nestes espaços de ocupação está se construindo uma nova sociabilidade
humana de respeito e cooperação, onde os alunos praticam a democracia
direta através das assembleias diárias, onde sua voz é respeitada,
constroem coletivamente as próprias regras de convivência, a partir das
necessidades que percebem, e por isso as comissões de segurança, limpeza
e alimentos precisam funcionar para manutenção da ocupação.
Escola para a vida de luta
Muitos estão cozinhando e limpando a escola, o que muitas vezes não é
feito no seu dia-a-dia nem mesmo nas suas casas. Esta mudança de postura
é porque entendem-se protagonistas desta história de ocupações. Assim
sendo, sua ação direta de ocupação, eficaz, tem fortalecido a construção
das maiores mobilizações em curso no país: a greve geral dos
profissionais de educação ganha o ímpeto da juventude e aponta a
vitórias concretas ante aos ataques neoliberais dos governos!